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Vini Jr. e a Bola de Ouro: racismo impede a consagração do talento

Derrota de Vini Jr. expõe como a lógica colonial ainda define o futebol europeu e penaliza a denúncia do racismo

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Mateo Villalba/Getty Images
Vini Jr
1 de 1 Vini Jr - Foto: Mateo Villalba/Getty Images

Vini Jr., um dos maiores talentos brasileiros da atualidade, terminou em segundo lugar na disputa pela Bola de Ouro 2024, um prêmio entregue anualmente pela revista francesa France Football e pela FIFA. A derrota para Rodri, jogador espanhol do Manchester City, poderia até ser considerada surpreendente para quem não observa as nuances de poder e racismo estrutural que permeiam o futebol internacional – ou no dia a dia. No entanto, para os que entendem como a lógica do racismo se manifesta tanto no futebol quanto na sociedade, o resultado apenas reafirma um padrão histórico de desvalorização dos jogadores negros, sobretudo daqueles que denunciam o racismo de forma aberta e insistente, como Vini Jr. tem feito.

Desde o início da premiação, em 1956, os jogadores negros foram exceções entre os vencedores.

O conceito de “raça” foi criado na Europa para justificar a colonização e a escravização, estabelecendo uma hierarquia que desumanizou negros e indígenas enquanto elevou europeus ao status de “humanos plenos”. Essa lógica permanece viva não apenas em estruturas sociais e econômicas, mas também em espaços culturais e esportivos, como o futebol. A manutenção da hegemonia branca se reflete na premiação da Bola de Ouro, que é decidida por jornalistas europeus. Assim, é inevitável que a visão eurocêntrica de talento e excelência futebolística siga condicionada por uma perspectiva que desconsidera ou desvaloriza a negritude, especialmente quando ela não se submete ao silêncio.

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Vini Jr. era o favorito a levar o prêmio até a manhã desta segunda-feira (28/10)
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Vini Jr. era o favorito a levar o prêmio até a manhã desta segunda-feira (28/10)

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Federico Titone/SOPA Images/LightRocket via Getty Images

Vini Jr. é um jogador extraordinário, mas o que o torna ainda mais significativo é sua postura diante do racismo que enfrenta diariamente, tanto dentro quanto fora de campo. Ele não se cala, não minimiza e não aceita o tratamento racista, colocando-se como uma das vozes mais importantes na luta contra o racismo no futebol contemporâneo. Essa postura, porém, cobra seu preço. A sanção social para os negros que denunciam o racismo é pesada e já é previsível: seja por parte da mídia que distorce suas falas, seja pelos torcedores que o vaiam ou, agora, pelos jornalistas que deixaram de premiá-lo, mesmo diante de uma temporada marcante.

A questão é ainda mais complexa porque reflete uma realidade cotidiana também no Brasil. A denúncia do racismo muitas vezes leva à perda de oportunidades, à estagnação de carreiras e a uma constante desvalorização de habilidades e talentos. A lógica é conhecida: pessoas negras geniais perdem vagas e promoções para brancos medianos. E isso ocorre não apenas no campo profissional, mas em todos os aspectos da vida, seja no mercado de trabalho, na universidade, nos meios artísticos e, claro, no esporte. Vini Jr. é um espelho da frustração que tantos negros brasileiros já sentiram e continuam a sentir ao serem preteridos, não pela falta de mérito, mas pelo racismo que sustenta as estruturas de poder.

A surpresa, portanto, não está na derrota de Vini Jr., mas na surpresa de quem não enxerga ou finge não enxergar o racismo como uma barreira real e constante.

A perda da Bola de Ouro para o atacante é um episódio simbólico de uma violência que se repete diariamente: negros tendo suas conquistas diminuídas, ignoradas ou desacreditadas. Quantas vezes o Brasil assistiu à genialidade negra ser colocada em segundo plano para manter o status quo de uma sociedade racista?

No futebol, Vini Jr. só foi mais um a vivenciar essa lógica. Não há surpresa para quem entende as dinâmicas do racismo; a surpresa é apenas para aqueles que se beneficiam do sistema ou para aqueles que, por ignorância ou conveniência, negam sua existência. O resultado da Bola de Ouro é um reflexo previsível de um sistema que ainda opera sob as lógicas do colonizador, mesmo em pleno século 21. A pergunta que fica é: surpresa para quem?

Que Deus não perdoe essas pessoas ruins.

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