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Torto Arado – O Musical: um triunfo do teatro brasileiro

Adaptação poética da Bahia celebra a autenticidade de nossas histórias

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Não exagero ao dizer que Torto Arado – O Musical” é uma obra-prima fecundada em histórias e silêncios. Assim como o livro de Itamar Vieira Júnior, que tocou o coração de milhões de leitores, a adaptação para os palcos não apenas preserva a essência do original, mas a expande, com um lirismo que nos envolve e nos arrasta para dentro das profundezas da Chapada Diamantina. As irmãs Bibiana e Belonísia, protagonistas dessa saga de vida e morte, parecem ganhar novas camadas de humanidade e ancestralidade no palco. E a avó Donana, figura introduzida na adaptação, é uma presença que nos lembra das raízes mais profundas, aquelas que sustentam nossa memória coletiva e nossa resistência cultural.

O espetáculo, que teve sua estreia no Teatro Sesc Casa do Comércio em Salvador, é mais do que uma peça de teatro: é um ato de coragem, de afirmação e de amor às nossas histórias. Ao escolher Salvador como o berço para seu nascimento, Torto Arado – O Musical rompe com a hegemonia do eixo Rio-São Paulo e reivindica o protagonismo do teatro baiano, que há décadas tem mostrado ao país a sua excelência criativa. A lotação esgotada em todas as sessões antes mesmo da estreia é prova desse desejo reprimido por espetáculos que ressoem nossa própria história, que falem de nossa gente, em nosso sotaque e com nosso ritmo.

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Cena de adaptação musical de Torto Arado
Bárbara Sut em cena
Bárbara Sut é uma das estrelas do espetáculo
Torto Arado foi sucesso na literatura
Itamar Vieira Junior conversa com o público
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Ana Barroso em Torto Arado: o Musical

Caio Lirio/Divulgação
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Cena de adaptação musical de Torto Arado

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Bárbara Sut em cena

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Bárbara Sut é uma das estrelas do espetáculo

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Torto Arado foi sucesso na literatura

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Itamar Vieira Junior conversa com o público

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Lilian Valeska e Diogo Lopes Filho em cena

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Espetáculo Torto Arado: o Musical

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Plateia aprova o espetáculo

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Sob a direção sensível e minuciosa de Elisio Lopes Junior, o espetáculo desliza pelo palco como um rio de águas densas e misteriosas. A dramaturgia, coassinada por Elisio, Aldri Anunciação e Fábio Espírito Santo, preserva o espírito insubmisso do romance original, enquanto a direção de movimento do diretor e coreógrafo José Carlos Arandiba – o genial mestre Zebrinha – traz para o corpo dos atores a espiritualidade e o misticismo do Jarê. O público é arrebatado não apenas pelas palavras, mas também pelos gestos, que transformam a cena em um ritual cênico e espiritual, revelando uma estética que é ao mesmo tempo ancestral e contemporânea. A trilha sonora original – posso afirmar que é uma dramaturgia sonora – de Jarbas Bittencourt é deslumbrante, feita de xotes e baiões que ressoam como batidas do coração sertanejo. Um trabalho sofisticadíssimo, sem um distanciamento pequeno burguês, pois os espectadores saem cantando no final. Para quem entende de musical, sabe que é um a característica de trabalho muito bem executado.

O elenco, um verdadeiro coral de vozes poderosas, é liderado por Larissa Luz, Bárbara Sut e Lilian Valeska. A força de suas interpretações nos atinge com o peso da verdade que carregam as heroínas sertanejas. Larissa, com sua voz vigorosa, nos entrega uma Bibiana que carrega o fardo e a esperança de muitas gerações. Bárbara, com uma sutileza que corta como lâmina, dá vida à Belonísia, enquanto Lilian encarna Donana como a grande matriarca, símbolo de uma ancestralidade que tece o tempo com sabedoria. Todas as três traduzem o que temos de melhor no teatro musical brasileiro. No dia que estive presente, assisti a atriz e cantora Cainã Naira interpretando a personagem Bibiana com tamanha maestria. A cenografia de Renata Mota nos transporta para o sertão profundo, onde o real e o mágico se confundem, criando um cenário de encantamento e redenção. Cada detalhe da iluminação de Luciano Reis, do visagismo de Alberto Alves e dos figurinos de Bettine Silveira parece ter sido pensado para nos lembrar de que estamos diante de um espetáculo que é, acima de tudo, um testemunho da riqueza cultural do Brasil. Preciso ressaltar que o design de som elaborado por Paulo Altafim e Bruno Pinho embala o alto grau do espetáculo. O som límpido e respeitoso ao talento dos atores-cantores, músicos e do diretor musical.

Mas, para além da beleza e da excelência artística, Torto Arado – O Musical nos obriga a refletir sobre as desigualdades que ainda permeiam o fazer teatral no Brasil. A produção coordenada pela Fernanda Bezerra levantou um espetáculo extraordinário, em um cenário em que os recursos das leis de incentivo ainda estão majoritariamente concentrados no Sudeste. É preciso repensar este fato. Até quando?

Com 28 sessões e um público de 14.500 pessoas, Torto Arado – O Musical é mais do que um sucesso de bilheteria; é um triunfo do teatro feito por e para brasileiros, um exemplo de como podemos contar nossas histórias sem imitar modelos importados. É a prova de que o nosso teatro está cada vez mais confortável em sua própria pele, construindo uma linguagem que é profundamente nossa, sem concessões ou concessões às exigências de um mercado que muitas vezes subestima a nossa capacidade criativa.

É impossível sair de Torto Arado – O Musical sem sentir o peso e a leveza de sermos brasileiros, com todas as nossas contradições, dores e esperanças. Este espetáculo é uma celebração de nossa identidade e uma reafirmação de que o teatro é, sim, um lugar de resistência e de transformação. É um lembrete de que, por mais árido que seja o solo, é sempre possível fazer brotar flores – flores do sertão, resistentes e belas, como o próprio povo que as inspira.

Muito obrigado ao talentoso elenco composto por: Anderson Danttas, Ana Barroso, Denise Correia, Diogo Lopes Filho, Érica Ribeiro, Guigga, Ivan Vellame, Tariq, Sueli Ramos, Ofalowo, Raynna e Jai Bispo.

Sem esquecer da banda – que chamo de excepcional “orquestra”: João Mendes (regente, guitarra e violão), Nilton Azevedo (sax, clarinete e flauta), Talita Felício (baixo), Joberson Macedo (teclado), Alana Gabriela (percussão), Géssica Oliveira (percussão) e Arthur Oliveira (percussão).

Que Torto Arado – O Musical percorra cada canto deste país, levando a força do sertão e a poesia da Bahia a todos os palcos, porque o Brasil merece se ver, se ouvir e se sentir em cena.

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