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Sim, a pele negra queima no sol e pode desenvolver câncer

Os mitos que até hoje são reproduzidos sobre a pele negra

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Dra – Coluna – Rodrigo França
1 de 1 Dra – Coluna – Rodrigo França - Foto: Reprodução

Recentemente, me deparei com o livro “Dermatologia para Pele Negra”, onde tem como editores Katleen da Cruz Conceição, Leonardo Lora Barraza e Ana Carolina Galvão dos S. de Araújo. A leitura desse estudo me trouxe uma reflexão profunda sobre como o racismo estrutural impacta até mesmo os cuidados básicos com a saúde, como a dermatologia.

Ao longo dos textos, os autores abordam com riqueza de detalhes as especificidades da pele negra, desmistificando uma série de crenças errôneas que circulam há décadas. Um dos pontos que mais me chamou a atenção foi a questão do protetor solar. Cresci ouvindo que, por ter a pele negra, eu não precisava me preocupar com o sol da mesma forma que pessoas de pele mais clara. Essa ideia, que parece inofensiva, na verdade, carrega uma perigosa desinformação.

O livro destaca que, apesar da melanina proporcionar uma barreira natural contra os raios ultravioleta, a pele negra não é invulnerável. Estamos, sim, sujeitos a queimaduras solares, envelhecimento precoce e, em casos mais graves, ao câncer de pele. No entanto, por falta de conscientização e diagnósticos tardios, as consequências podem ser ainda mais severas para nós. Outro aspecto relevante é como a pele negra tende a desenvolver hiperpigmentações e queloides com mais facilidade, exigindo cuidados específicos. Este tipo de informação, que deveria ser amplamente divulgada, ainda é negligenciada, resultando em práticas inadequadas e, por vezes, prejudiciais.

Esta “Bíblia” sobre a pele negra me fez perceber como é crucial que nós, pessoas negras, busquemos nos informar e exigir tratamentos e produtos que considerem nossas particularidades. Precisamos desmistificar essas crenças, não apenas para proteger nossa saúde, mas também para reivindicar nosso espaço em uma indústria que, por muito tempo, ignorou nossas necessidades.

Essa leitura foi um verdadeiro alerta e me incentivou a repensar meus próprios hábitos de cuidados com a pele. A conscientização é um passo importante para combater o racismo, inclusive na área da saúde, e é através do conhecimento que conseguimos fazer escolhas mais conscientes e assertivas.

Dra Katleen Conceição e seu pioneirismo na pesquisa e no tratamento da pele negra brasileira

A pele negra, frequentemente elogiada por sua resistência e beleza, é cercada por mitos que, ao invés de enaltecer, acabam contribuindo para a perpetuação de estereótipos prejudiciais. Entre as falsas crenças mais comuns está a ideia de que a pele negra é naturalmente protegida contra o sol e, por isso, não precisa de cuidados como o uso de protetor solar. A Dra. Katleen Conceição (foto em destaque), referência na dermatologia para pele negra no Brasil, tem se dedicado a desmistificar essas noções, que além de incorretas, colocam a saúde das pessoas negras em risco.

Dra. Katleen tem sido uma voz incansável na luta contra o racismo na indústria por falta de pesquisa e cosmético, especialmente ao abordar a necessidade de cuidados específicos para a pele negra. Ela destaca que, embora a pele negra tenha mais melanina, o que proporciona uma certa proteção contra os raios UV, isso não significa que ela é imune aos efeitos nocivos do sol. A exposição prolongada sem proteção adequada pode resultar em queimaduras, manchas, envelhecimento precoce e, em casos extremos, câncer de pele.

O mito de que a pele negra não queima no sol ou que não precisa de protetor solar é um exemplo claro de como o racismo estrutural constrói narrativas que afetam diretamente a saúde da população negra. De acordo com a Dra. Katleen, a falta de campanhas educativas voltadas para essa população, além da escassez de produtos desenvolvidos especificamente para a pele negra, contribui para a perpetuação desses mitos. A dermatologista também aponta que, historicamente, os estudos dermatológicos foram focados em peles claras, o que resultou em uma lacuna significativa no conhecimento e tratamento adequado da pele negra.

A desinformação sobre os cuidados com a pele negra é perigosa, especialmente quando se considera que, embora o câncer de pele seja menos comum entre pessoas negras, ele tende a ser diagnosticado em estágios mais avançados, o que diminui as chances de tratamento eficaz. A Dra. Katleen enfatiza que todos devem usar protetor solar diariamente, independentemente do tom de pele, e que a escolha do produto deve levar em consideração as particularidades da pele negra, como a tendência a manchas e o desenvolvimento de cicatrizes hipertróficas ou queloide.

É essencial que a sociedade entenda que a pele negra, como qualquer outra, precisa de cuidados específicos e que os mitos perpetuados sobre ela são, em última análise, fruto de uma visão racista e limitadora. Então, beba água e passe o seu filtro solar – diariamente.

INDICAÇÃO

Livro “Dermatologia para Pele Negra”, Katleen da Cruz Conceição, Leonardo Lora Barraza, Ana Carolina Galvão dos Santos de Araujo. Editora Manole.

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