Os três jovens negros em Ipanema: a PMRJ não errou, foi racismo mesmo
Incidente com jovens negros não foi apenas erro de julgamento, mas evidência do racismo presente na segurança pública do país
atualizado
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Era uma noite tranquila em Ipanema, um bairro nobre no Rio de Janeiro. Três jovens negros e um branco passeavam pelas ruas do bairro, conversando animadamente. De repente, uma viatura da Polícia Militar surgiu e, sem qualquer abordagem inicial ou questionamento, os policiais desceram com armas em punho, em ação truculenta contra os jovens negros.
Os agentes começaram a revistá-los com brutalidade, certos de que, por serem negros, os garotos estavam envolvidos em alguma atividade criminosa. Com fuzis na cabeça dos jovens, nenhuma pergunta foi feita, nenhum documento solicitado – apenas a cor da pele bastava para condená-los. Durante a abordagem, um amigo dos jovens, um adolescente branco que estava com eles, foi poupado e não sofreu a mesma violência.
Enquanto a situação se desenrolava, o adolescente branco se aproximou dos policiais e explicou a verdadeira identidade dos garotos. A menção de que eram filhos de diplomatas – França, Canadá, Gabão e Burkina Faso – causou uma mudança imediata na postura dos policiais, que rapidamente se desculparam e liberaram os jovens.
Esse incidente não foi apenas um erro de julgamento, mas uma evidência do racismo presente na segurança pública do Brasil, em especial do estado do Rio de Janeiro. A diferença de tratamento entre os jovens negros e o adolescente branco expôs a discriminação arraigada nas práticas policiais. Sem a proteção do status diplomático, o desfecho poderia ter sido tragicamente diferente. Este caso revelou a necessidade urgente de reformas profundas no sistema policial para garantir que todos sejam tratados com justiça e respeito, independentemente de sua cor ou origem.
A análise crítica do tratamento diferenciado da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro (PMERJ) em relação a cidadãos negros e brancos revela dados alarmantes sobre o racismo estrutural e institucionalizado. De acordo com o relatório da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Alerj, há uma disparidade significativa nas abordagens e na violência policial contra pessoas negras em comparação com pessoas brancas.
Por exemplo, dados mostram que jovens negros são mais frequentemente alvo de abordagens policiais e são submetidos a revistas e detenções de maneira desproporcional. Relatórios indicam que 70% das vítimas de homicídios pela polícia no Rio de Janeiro são negras, o que evidencia um padrão de violência racial que permeia as ações das forças de segurança.
Além disso, a probabilidade de um jovem negro ser parado pela polícia é muito maior do que a de um jovem branco, o que demonstra um viés racial nas operações policiais. Esses dados e análises sublinham a importância de iniciativas que visam desmantelar as práticas racistas dentro das instituições de segurança pública e construir uma sociedade mais justa e equitativa.
E se fosse na favela ou na periferia, sem câmeras e sem o envolvimento da imprensa? E se não fossem filhos de diplomatas, e, sim, da dona Maria e do seu José?
INDICAÇÃO
Livro O Avesso da Pele, do escritor Jeferson Tenório (Companhia das Letras, 2020)
Espetáculo: Eu sou um Hamlet, com Rodrigo França
Direção: Fernando Philbert
Teatro Firjan Sesi Centro, Rio de Janeiro
Quintas e sextas, às 19h. Sábados e domingos, às 18h.
Até 14 de julho.