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João Pedro: e a Justiça brasileira o mata “novamente”

Quatro anos depois da morte de João Pedro, no Rio, a Justiça absolveu os agentes envolvidos

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1 de 1 imagem colorida joão pedro - Foto: Reprodução

Era uma manhã típica de outono em São Gonçalo, Rio de Janeiro, quando o sol tímido começava a aquecer as ruas da cidade. João Pedro Mattos Pinto (foto em destaque), um menino de 14 anos, estava em casa, um lugar de refúgio e segurança, cercado pelo carinho da família. João Pedro era um adolescente cheio de vida, com sonhos e esperanças, e como qualquer garoto de sua idade tinha a curiosidade de explorar o mundo e a inocência da juventude.

Aquele dia, 18 de maio de 2020, começou como qualquer outro. João Pedro acordou cedo, tomou seu café da manhã e passou o tempo brincando e estudando, como fazia regularmente. Ele era um garoto dedicado, que gostava de aprender e sonhava com um futuro melhor para si e para sua família.

A paz da manhã foi quebrada subitamente por um som estridente e ensurdecedor. Uma operação policial estava em curso na comunidade, supostamente para combater o tráfico de drogas. Os moradores estavam acostumados com a presença policial, mas aquela operação em particular seria diferente. Policiais fortemente armados invadiram a comunidade, levando uma atmosfera de medo e tensão ao local.

João Pedro, que estava em casa brincando com seus primos, não tinha ideia do que estava por vir. A operação, que deveria ser uma ação de segurança, transformou-se rapidamente em um pesadelo. Sem aviso, a casa em que João Pedro estava foi invadida por policiais. O barulho das botas pesadas e das armas disparando ecoava pelos corredores. Em meio ao caos, João Pedro procurou um lugar para se esconder, buscando instintivamente a proteção que seu lar deveria oferecer.

Policiais chegaram atirando. João foi atingido por um disparo de fuzil pelas costas. A casa na qual estava ficou com mais de 70 marcas de tiro. Seu corpo jovem e cheio de vida foi perfurado pela violência sem sentido das armas de fogo. João Pedro caiu, e a dor foi imediata. Seus primos, apavorados, gritaram por ajuda, mas o som dos tiros abafava qualquer outro ruído.

Os momentos seguintes foram de desespero absoluto. A família de João Pedro, ao descobrir o ocorrido, correu para socorrê-lo, mas era tarde demais. João Pedro foi levado às pressas para o hospital, mas não resistiu aos ferimentos. Aquele menino cheio de sonhos e esperanças teve sua vida ceifada de maneira brutal e abrupta.

João Pedro Mattos Pinto deveria ter tido a chance de crescer, de realizar seus sonhos e de viver plenamente.

Quatro anos depois, a Justiça absolveu os agentes envolvidos. A decisão da juíza Juliana Bessa Ferraz Krykhtine de absolver sumariamente os três agentes da Core envolvidos na operação que resultou na morte de João Pedro Mattos Pinto é profundamente perturbadora e revela falhas significativas no Judiciário brasileiro. A absolvição rápida e aparentemente desconsiderada das circunstâncias trágicas que levaram à morte de um adolescente negro em sua própria casa reflete um padrão inquietante de impunidade para forças policiais, especialmente em casos que envolvem comunidades marginalizadas.

Essa decisão não apenas desconsidera a dor e o sofrimento da família de João Pedro, mas também envia uma mensagem perigosa sobre a permissividade da violência estatal contra jovens negros. A falta de responsabilização judicial alimenta a desconfiança e a revolta entre aqueles que são sistematicamente vitimizados pelo racismo estrutural e pela brutalidade policial.

Em um país em que a Justiça deve ser um pilar da democracia e da igualdade, a decisão da juíza Krykhtine representa um retrocesso significativo. Ela sublinha a necessidade urgente de reformas judiciais e de uma maior conscientização sobre os impactos do racismo institucionalizado. Para que tragédias como a de João Pedro não se repitam, é imperativo que o sistema judiciário seja verdadeiramente justo e equitativo, responsabilizando adequadamente aqueles que abusam de seu poder.

Imagina se o João Pedro fosse um adolescente branco, filho de desembargador e morador do Leblon. Imagina.

INDICAÇÃO:
Livro “Necropolítica” de Achille Mbembe. Editora N-1
Livro “O Genocídio do negro brasileiro: Processo de um racismo mascarado” de Abdias do Nascimento. Editora Perspectiva

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