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Identificação: o que a esquerda pode aprender com o caso Jojo Todynho

A falta de representatividade na esquerda impede conexão real com a maioria da população, enquanto a direita já compreendeu essa importância

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Afirmar-se em meio ao cenário político brasileiro é um desafio que vai além de ideologias. Jojo Todynho, com sua afirmação recente, confirmando ser uma mulher negra de direita, nos provoca a questionar o quanto a esquerda brasileira está realmente em sintonia com a maioria da população. A direita e a extrema, por mais que não abracem efetivamente as pautas do movimento negro, LGBTQIAP+, ou feministas, aprenderam a apresentar uma face que dialoga com os morros, periferias e subúrbios do Brasil. Seus quadros estão cada vez mais preenchidos com candidatos e candidatas que têm a cara do povo, que conseguem se fazer entender e se identificar visualmente com as pessoas. A esquerda, em contrapartida, ainda se mostra majoritariamente composta por homens brancos – quem está no topo da pirâmide social, distanciando-se da realidade da população que pretende representar.

Além disso, é preciso reconhecer que a esquerda brasileira tem historicamente deixado as pautas raciais em último plano – pense se já existiu um projeto de segurança pública que deixe de encarcerar e assassinar jovens negros. Mesmo se propondo a ser um espectro político de inclusão e justiça social, ela falha em priorizar as demandas da população negra, que constitui a maior parte do país. Essa falta de comprometimento com as questões raciais contribui para a desconexão entre a esquerda e a maioria da população brasileira, que espera ver suas realidades e lutas refletidas na agenda política.

É inegável que há uma lacuna gigantesca de representatividade nos espaços de poder. Quando olhamos para as secretarias municipais e até mesmo para os ministérios, apesar de algum avanço, o cenário ainda é pouco diverso. A falsa simetria é perigosa e ineficaz; ela camufla a real desigualdade na ocupação desses espaços. A população negra representa 56% dos brasileiros, mas essa maioria não se reflete nos espaços de tomada de decisão, muito menos na cúpula dos partidos de esquerda. A extrema direita entendeu isso de uma forma pragmática, ainda que questionável em suas motivações e sinceridade, e tem se aproximado da população, mesmo que por vias conservadoras.

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Jojo Todynho causa revolta na comunidade LGBTQIANP+
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O público em geral muitas vezes não distingue claramente entre direita e esquerda, menos ainda entre os extremos. A escolha política muitas vezes é pautada pela identificação visual e social, por quem parece com eles, quem fala a mesma língua e vive as mesmas dores. É aí que figuras como Jojo Todynho se tornam relevantes. Ela tem a cara da minha mãe, das minhas tias e primas, e reconhece isso em seu discurso. Essa identificação é poderosa e tem sido um ponto de interrogação crescente sobre o quanto a esquerda está disposta a se repensar.

Temos uma infinidade de pessoas negras de esquerda com competência se candidatando, mas que se veem esmagadas pela falta de recursos e apoio dentro dos próprios partidos. E isso ocorre, lamentavelmente, principalmente na esquerda, que se propõe a ser o lado da inclusão e da representatividade. A distribuição desigual de poder dentro dessas estruturas partidárias ainda beneficia homens brancos, que muitas vezes parecem mais preocupados com seus próprios projetos pessoais de poder do que com uma real mudança estrutural que beneficie a maioria da população.

Ainda há tempo para virar esse jogo. A esquerda precisa aprender com os erros do passado e olhar para o futuro com uma estratégia que coloque em primeiro plano as necessidades e rostos da população que diz representar. Isso requer um movimento interno, um repensar das práticas e prioridades. Os homens brancos que hoje ocupam grande parte dos espaços de poder precisam, em um gesto de inteligência e abnegação, abrir espaço e colaborar para que novas vozes, que de fato refletem a diversidade brasileira, assumam seus lugares.

Jojo Todynho nos lembra que a política não é feita apenas de ideias, mas de pessoas reais com rostos e histórias. A esquerda precisa entender que para voltar a conquistar a maioria, é preciso ter a coragem de renunciar a velhas estruturas e abraçar, de fato, a pluralidade que compõe o Brasil. Sem isso, continuaremos a ver um distanciamento crescente entre a política e o povo, e a perda de uma oportunidade histórica de transformação verdadeira.

Indicações da coluna

Livro: Como Ser um Educador Antirracista: Para Familiares e Professores, de Bárbara Carine (Editora Planeta)

Como ser um educador antirracista é um convite e uma inspiração para criarmos uma sociedade verdadeiramente antirracista. Embarque nesta jornada! No livro, Bárbara Carine, conhecida nas redes como “uma intelectual diferentona”, discute sobre como a educação e a escola podem ser pensadas a partir de perspectivas não ocidentalizadas e, sobretudo, racializadas.  A autora esmiuça conceitos ligados à luta antirracista, como pacto da branquitude, racismo estrutural, cotas raciais e educação emancipatória, para (re)pensar as ações pedagógicas e a formação e o papel dos educadores, que são, afinal, todos nós, os “doadores de memórias” que integram a escola. Longe de ser um manual com fórmulas prontas, o livro, resultado de anos de experiência da autora como educadora e idealizadora da Escola Maria Felipa, primeira escola afro-brasileira registrada em uma Secretaria de Educação no Brasil, faz um convite aberto para o leitor conhecer e desenvolver práticas antirracistas em sala de aula e na vida.

Espetáculo: Torto Arado – O Musical
Torto Arado – O Musical traz um texto épico e lírico, realista e mágico que revela, para além de sua trama que conta uma história de vida e morte nas profundezas do sertão baiano, um poderoso elemento de insubordinação social, de combate e redenção. Questões delicadas e difíceis, como escravidão moderna, racismo, resistência, sobrevivência, disputa de terra, bem como o universo da fé, magia, poesia e religiosidade são abordadas tanto no livro, quanto no musical. Um projeto que promove um diálogo inédito entre as criações artísticas de Itamar Vieira Junior e Elisio Lopes Junior; ambos baianos e que compartilham com o público do espetáculo novas visões do Brasil e de sua diversidade.

Com direção geral de Elisio Lopes Junior, o espetáculo conta com 22 profissionais em cena, sendo seis músicos e 16 atores, todos com vasta experiência em suas áreas de atuação, o que promete emocionar e encantar o público durante as sessões. Com duas horas de duração, “Torto Arado – O Musical” se divide em dois atos e – ao mergulhar na cultura popular brasileira e em um universo repleto de seres encantados – conta a história de duas irmãs, Bibiana e Belonísia, marcadas por um acidente de infância, que vivem em condições de trabalho escravo contemporâneo em uma fazenda no sertão da Chapada Diamantina, na Bahia. Na adaptação teatral, uma nova personagem também protagoniza a cena, em relação à história original, a avó, Donana.

No elenco principal, três profissionais com um currículo que dispensa apresentações na área musical e teatral: a cantora e apresentadora Larissa Luz interpretará Bibiana, uma das heroínas da trama. Ao lado dela, a atriz, cantora, compositora e teatróloga Bárbara Sut viverá sua irmã, a Belonisia. E, juntas, darão vida às netas de Donana, papel interpretado por Lilian Valeska.

A direção musical e as composições são assinadas por Jarbas Bittencourt. E Torto Arado – O Musical é um espetáculo de música popular brasileira, onde todos os ritmos e dinâmicas são nordestinas e ligadas ao cancioneiro do sertão nordestino, interiorano com interpretações e sonoridade totalmente brasileiras.

Teatro Sesc Casa do Comércio – Salvador
De 13 de setembro a 29 de setembro (Sexta: 20h, Sábado: 16h e 20h e Domingo: 17h). Ingressos: R$ 120 (inteira) e R$ 60 (meia entrada). Ingresso popular: R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia entrada). Classificação indicativa 14 anos. À venda on-line.

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