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A audácia do racismo em uma roda de samba

A roda de samba, lugar de encontro e celebração da cultura negra, viu-se manchada por um ato de racismo explícito

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imagem colorida casal imita macacos durante samba no rio
1 de 1 imagem colorida casal imita macacos durante samba no rio - Foto: Reprodução

A noite na Praça Tiradentes parecia encantada. O samba fluía como um rio de alegria, suas ondas de música e dança envolviam a multidão que se reunia para celebrar. A roda de samba do Pede Teresa, ponto de encontro cultural, pulsava com a energia de vozes e instrumentos que ecoavam a ancestralidade e a resistência do povo negro. O ar vibrava com risos, cantos e a percussão envolvente que fazia o chão parecer dançar junto.

No entanto, no meio da celebração, uma sombra de desrespeito se manifestou. Entre os que dançavam e se deixavam levar pela música, um casal, ambos brancos, se destacava. Eles não estavam ali para celebrar, mas para profanar. Em meio à multidão, começaram a imitar gestos e sons de macacos, uma ofensa racista que contrastava brutalmente com o espírito de união e respeito que a roda de samba encarnava.

O homem e a mulher, rindo de forma que seus ecos cortavam o ar da noite, executavam seus movimentos com um desprezo silencioso, mas ensurdecedor. A mulher fingiu tirar algo da cabeça do companheiro e colocar na boca, uma cena que remetia a um racismo visceral, antigo e doloroso. Eles pareciam alheios ao impacto de seus atos, mas suas ações não passaram despercebidas.

Os tambores continuaram, mas o ritmo perdeu a inocência por um momento. Olhares incrédulos e indignados se voltaram para o casal, testemunhando um ato que nenhum dos presentes esperava ver naquele espaço de celebração e resistência. A câmera do telefone da jornalista Jackeline Oliveira capturou o momento, congelando o desrespeito em imagens que mais tarde se espalhariam como fogo pelas redes sociais.

A roda de samba, lugar de encontro e celebração da cultura negra, viu-se manchada por um ato de racismo explícito, relembrando a todos que o racismo não dá descanso, mesmo na hora do descanso.

Ao perceber o ato racista, os seguranças deveriam ter conduzido o casal diretamente à polícia, possibilitando que a lei fosse aplicada sem hesitação. Esse tipo de ação imediata e resoluta não só interromperia a ofensa, mas também enviaria uma mensagem nítida: o racismo não será tolerado e será tratado como o crime que é.

Naturalizar tal ato é uma traição aos valores de respeito que a roda de samba representa. Permitir que a noite continuasse como se nada tivesse acontecido não só perpetua a violência simbólica, mas também desrespeita todos os presentes, especialmente aqueles que se sentiram diretamente ofendidos e desumanizados. O racismo é crime inafiançável e imprescritível, e não pode ser varrido para debaixo do tapete de uma celebração.

É vital que todos saibam que a roda de samba, espaço de resistência e celebração da cultura negra, não deve permitir que o racismo se perpetue. Precisamos garantir que a indignação se transforme em ação. Qualquer ato de racismo tudo deve parar até que alguma providência (lícita) seja feita. Na escola, no trabalho, no mercado e até mesmo no samba.

Qual o contexto do racismo ao chamar pessoas negras de macaco?

A história de chamar pessoas negras de “macaco” está profundamente enraizada no racismo científico e no colonialismo europeu, que remontam ao século XVIII. Esse insulto desumanizante surgiu da tentativa dos europeus de justificar a escravidão e a colonização, apresentando pessoas negras como inferiores e mais próximas dos animais do que dos seres humanos. Nesse período, surgiram teorias pseudocientíficas que buscavam validar a supremacia branca por meio da biologia.

O conceito de “racismo científico” foi utilizado para criar hierarquias raciais que colocavam pessoas de origem africana no nível mais baixo. Essas teorias desumanizavam pessoas negras, retratando-as como selvagens e associando-as a animais, especialmente macacos, para sugerir uma ligação evolutiva inferior.

Durante o período de escravidão transatlântica, desumanizar pessoas negras era um mecanismo crucial para justificar a brutalidade e a exploração. Os colonizadores europeus usavam essas comparações para negar a humanidade e os direitos dos africanos escravizados, facilitando o tratamento cruel e desumano.

Chamar pessoas negras de “macaco” perpetua a desumanização, um processo que visa retirar a dignidade e a humanidade de um grupo de pessoas. Essa prática reforça estereótipos negativos e cria um ambiente em que a discriminação e a violência são mais facilmente justificadas.

É crucial entender esse contexto histórico para combater efetivamente o racismo.

A necessidade de que este caso não fique na impunidade é fundamental para a manutenção da justiça e do respeito às vítimas do racismo. A sociedade brasileira, marcada por uma longa história de desigualdade racial, não pode permitir que atos de discriminação e desumanização sejam tratados com negligência ou leniência.

Punir os responsáveis por atos racistas é crucial para desencorajar comportamentos semelhantes no futuro. A impunidade envia uma mensagem de tolerância ao racismo, perpetuando um ciclo de discriminação e violência. A aplicação rigorosa da lei mostra que o racismo não será tolerado e que todos são iguais perante a lei.

Caso os criminosos sejam estrangeiros, é essencial que a Polícia Federal e a Polícia Civil trabalhem em conjunto para investigar o caso de maneira completa e eficaz. A cooperação entre essas entidades garante que todos os aspectos legais e diplomáticos sejam considerados, especialmente se os envolvidos retornarem a seus países de origem.

Se confirmado que os criminosos são estrangeiros, um desagravo diplomático (ou uma nota de repúdio) deve ser emitido pelo governo brasileiro, no mínimo. Esse ato formal demonstra a seriedade com que o Brasil trata casos de racismo e exige que os países de origem dos envolvidos tomem medidas apropriadas.

A justiça deve ser feita de acordo com as leis brasileiras, que preveem punições para atos de racismo. A condenação judicial dos responsáveis serve como exemplo de que o sistema jurídico está comprometido com a igualdade e os direitos humanos.


INDICAÇÃO:
Espetáculo “Diário do farol”
De João Ubaldo Ribeiro
Direção: Fernando Philbert
Teatro Poeira – RJ
Terça e quarta – 20h
Até 24 de julho

Espetáculo “Pequeno monstro”
Dramaturgia e atuação: Silvero Pereira.
Direção: Andreia Pires
Teatro Poeira – RJ
De quinta a sábado – 20h; domingo – 19h
Até 28 de julho.

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