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Transar no Catar é crime? Sexólogo comenta impactos culturais no sexo

País que sedia a Copa do Mundo de 2022 tem restrições que dizem respeito ao sexo. Veja como isso impacta a saúde e a sexualidade das pessoas

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Fauzan Fitria/Getty Images
Bandeira do Catar tremulando em mastro - Metrópoles
1 de 1 Bandeira do Catar tremulando em mastro - Metrópoles - Foto: Fauzan Fitria/Getty Images

Chegou o primeiro dia da Copa do Mundo, e torcedores de várias partes do globo se organizaram para ir ao Catar acompanhar o evento. Contudo, muitos deles tiveram que guardar as expectativas de “muita curtição e pegação” no bolso, uma vez que o país-sede tem diversas restrições que dizem respeito ao sexo.

Dentre as principais — e mais bizarras —, estão a lei que proíbe o sexo casual (ou seja, a menos que você seja casado, está proibido de transar), com pena de até 7 anos de prisão; e a lei que veta a homossexualidade. No Catar, a “sodomia” (como eles chamam o ato sexual entre dois homens) pode levar a uma pena de até 3 anos de cadeia.

Recentemente, inclusive, viralizou uma notícia de uma mulher que, após ser estuprada, foi condenada a 7 anos de prisão e 100 chibatadas. A mexicana Paola Schietekat, de 27 anos, fez uma denúncia após ser violentada por um homem que invadiu seu dormitório em Doha. Contudo, após prestar queixa, foi acusada e condenada por “sexo extraconjugal”. O agressor, que afirmou manter uma relação consensual com Paola — o que a vítima nega —, foi liberado.

Apesar da sexualidade ter uma grande carga cultural e social, não podemos esquecer das outras faces que ela carrega. De acordo com o terapeuta sexual André Almeida, o sexo é o que se pode considerar, na psicologia, de biopsicossocial.

“A sexualidade tem teor biológico, psicológico e sociológico ao mesmo tempo. Ou seja, ainda que existam nuances fisiológicas, é algo muito moldado por construções sociais e crenças do que é certo ou errado, moral ou até normativo em cada cultura específica. E isso acontece da mesma forma para culturas liberais e para as mais restritivas”, explica.

Interfere na saúde?

Hoje, com a ciência e todos os estudos sobre o assunto, sabe-se que questões como identidade e orientação sexual têm também componentes fisiológicos, genéticos e até mesmo epigenéticos, que acontecem durante a formação do feto.

Mesmo assim, elas acabam sendo alimentadas por toda a questão cultural ao redor. Logo, indivíduos que nascem em uma sociedade muito conservadora e restritiva e apresentam uma diversidade sexual considerada não normativa tendem a vivenciar estresses e sofrimentos muito fortes.

“Existe, sim, sofrimento psicológico e físico. Fatores como marginalização, ostracismo social e até mesmo violência física vinda da sociedade trazem muito sofrimento. Hoje, inclusive, é possível observar a comunidade LGBTQIA+ do Catar aproveitando o foco global para reivindicar e protestar o sofrimento que eles vivenciam em um país tão conservador, que coloca diversidade sexual como uma questão moral e até mesmo patológica”, afirma André.

Vai estar lá? Atenção!

Muita gente acredita que, por se tratar de um evento mundial ou pelo simples fato de não ser um cidadão do Catar, pode chegar no país-sede e agir como se estivessem em seu próprio. Porém, não é assim que funciona. Na verdade, há de se ter cuidado e estar bem atento às leis para se resguardar.

“Por mais que tenhamos outra cultura e não concordemos com os princípios deles, estamos em território internacional e sujeitos às leis internacionais. É preciso ter cuidado e respeitar essas regras, sejam elas humanitárias ou não. Até mesmo pelo próprio bem-estar e segurança”, elucida o profissional.

Ainda é essencial pensar que, no lado oposto, quebrar as regras também pode vir a trazer sofrimento para quem está acostumado com a realidade de lá. “Qualquer movimento de inserção em uma cultura precisa ser respeitado, se não você passa a ser um elemento desruptor e causa incômodo, estranheza. Defender os direitos humanos é uma discussão válida, mas, uma vez que se escolhe ir para o país, é obrigatório respeitar”, pondera André.

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