Todo fetiche é um “desvio” que surge do vício em conteúdo erótico?
Trapeuta sexual explica as formas com as quais um fetiche pode surgir e pontua se todo fetiche é, necessariamente, uma patologia
atualizado
Compartilhar notícia
A cada dia, é mais comum encontrar discussões nas redes sociais e até mesmo na grande mídia sobre fetiches. Apesar de poderem ser praticados de forma saudável, muita gente acredita que qualquer fetiche é um “desvio” de personalidade, ocasionado, necessariamente, pelo vício à pornografia. Será mesmo?
De acordo com o terapeuta sexual André Almeida, é fato que a pornografia pode, sim, influenciar esse quesito.
Em homens ou mulheres, jovens ou adultos, a exposição a conteúdos pornográficos pode gerar uma mudança no comportamento sexual. Isso inclui os “normalizados socialmente” e até aqueles mais kinky (tudo que foge do que é aceito dentro da “normalidade”).
Contudo, não é regra. “Como qualquer comportamento, o sexo também é influenciado pelo aprendizado, e ele pode vir tanto da exposição à pornografia quanto de relações íntimas que reforçaram esses fetiches. Mesmo assim, vai depender do quanto é estimulante para cada indivíduo, uma vez que cada pessoa tem seus ‘gatilhos’ de maior intensidade para ativação do que outros”, explica o psicólogo.
Ainda que “aprendidos” com a pornografia, os fetiches e tantos outros comportamentos sexuais só se tornam desfuncionais se saírem do que é sexo real ou começarem a causar sofrimento em que pratica. Fora isso, independentemente da fonte, um fetiche pode ser praticado de forma totalmente saudável.
André ainda elucida que afirmar com certeza que todo fetiche é um desvio causado pela pornografia pode ajudar a reforçar um grande preconceito que existe com tudo que está fora da dita “normosexualidade”, que tem parâmetros baseados no que a atual sociedade considera “moral”.
“O fato de um comportamento poder ser aprendido no pornô não o torna patológico. O grande problema é a indústria pornográfica com seus abusos, irrealidades e objetificação (principalmente da mulher)”, finaliza.
Para ele, definir se é saudável ou não depende do quanto gera danos para si ou para o outro. “Um casal pode ter contato com um fetiche no pornô e gerar muito prazer na relação; da mesma forma, alguém pode tentar reproduzir algo sem o consentimento e a segurança necessários, e acabar gerando dano”, finaliza.