Sommelier de vibrador: brasiliense dedica perfil a resenha de sex toys
Yara Borges, de 25 anos, apresentou aos seguidores o projeto Volupe Lab há pouco mais de um mês. A coluna bateu um papo com a influencer
atualizado
Compartilhar notícia
“Sentir prazer é um ato revolucionário e, consequentemente, político”. Esse foi um dos pensamentos que levaram a brasiliense Yara Borges, de 25 anos, a converter seu Instagram pessoal em uma página dedicada a resenhas de sex toys. Com uma coleção de 32 vibradores e cerca de 50 produtos eróticos, a estrategista de marketing iniciou o Volupe Lab para dividir com as seguidoras suas experiências e opiniões sobre os produtos que testa.
A faceta de “sommelier de vibrador” foi a porta de entrada que Yara encontrou para tirar um plano antigo do papel: falar sobre sexualidade e prazer feminino sem precisar abrir um sex shop. Com menos de um mês do primeiro post do Volupe, a influencer já conseguiu fechar, inclusive, parcerias com sex shops da capital federal e de outros estados.
No comando de todas as frentes e etapas que o novo projeto traz, a jovem tem muito o que falar sobre autoconhecimento, autoestima, orgasmo, sexualidade na maternidade, entre tantos outros assuntos que prometem colaborar para quebrar cada vez mais tabus e ajudar no resgate do prazer de tantas mulheres que a acompanham.
Yara bateu um papo exclusivo com a coluna e compartilhou um pouco mais sobre sua história e os próximos planos para o Volupe Lab. Confira:
Quando começou seu interesse por sex toys e quando você percebeu que estava fazendo uma coleção deles?
Surgiu a partir da necessidade de me redescobrir como mulher depois que eu me tornei mãe. Tenho uma filha de 3 anos e meu corpo, minhas relações e, consequentemente, a minha percepção de prazer mudaram de uma forma que eu não estava preparada. Precisei explorar esse novo corpo e descobrir o que o satisfazia.
Ver essa foto no Instagram
Comprei meu primeiro vibrador e me frustrei muito com ele, quase desisti de comprar outro. Achava que não valia a pena o valor e que não faria tanta diferença. Mas, lendo sobre autoconhecimento e depoimento de outras mulheres, resolvi tentar mais uma vez e foi outra experiência. Quanto mais eu lia, mais me interessava e consumia as opções com as quais me identificava.
Percebi que tinha uma coleção quando precisei comprar uma bolsa específica para guardar os brinquedos, pois não tinha mais espaço em nenhum lugar de casa. Hoje, tenho 32 vibradores e cerca de 50 sex toys em geral, incluindo vibros, cosméticos e acessórios.
Como surgiu a ideia de dedicar seu perfil às resenhas dos vibradores?
Já tem muito tempo que eu sinto vontade de estender esse universo para além da minha vida pessoal. No ano passado, fui limpar todos os vibradores e postei um tuíte com a foto de todos eles juntos, e algumas pessoas comentaram que queriam review.
Sempre soube que precisava falar sobre o assunto, mas achei que isso precisava estar aliado a uma sex shop, e até considerei abrir uma, mas com pouco tempo de pesquisa vi que não era algo que me traria satisfação. Seria um desafio muito desgastante me envolver com loja, logística, atendimento… Além disso, eu não queria deixar de consumir e falar de marcas de toys que eu amo.
Foi realmente um processo, porque só depois de um ano percebi que não precisava ser um supernegócio para falar sobre o assunto. Olhei para o meu círculo social, para como meus amigos e colegas sempre me procuravam para saber mais sobre esse tema e a ideia simplesmente veio, como um momento “Eureka!”.
Como foi a recepção de amigos e família à ideia?
Todo o processo criativo eu fiz no sigilo. Não quis ter interferência no que queria criar e, principalmente, tinha medo das críticas poderem me paralisar por ser um tema que ainda é muito cheio de tabu. Apenas quando tudo estava pronto (nome, alguns conteúdos e identidade visual, por exemplo), falei para alguns amigos mais próximos para validar se tudo aquilo realmente fazia sentido. Afinal, eles também são meu público.
A recepção foi incrível e emocionante. Com alguns amigos até chorei, porque realmente mergulhei a fundo em construir tudo com muita sensibilidade e carinho. Como mudei o meu perfil pessoal para o projeto, fiz um primeiro vídeo explicando para todos o que iria vir dali pra frente. Nesse vídeo, meu pai até comentou que estaria de olho nas dicas. Então, até agora, tive muita sorte com a receptividade.
Seu primeiro vídeo foi no início deste mês. Logo, tem pouco mais de duas semanas do início do projeto. Até então, como tem sido o feedback dos seus seguidores?
Tem sido tudo muito bom e mais rápido do que eu imaginava. Já fiz parcerias com sex shops de Brasília e outros estados para fazer review de produtos. As pessoas têm se engajado muito com as publicações. Além de resenhas, também trago reflexões sobre a liberdade sexual e sugestões de exploração do próprio corpo, sozinha e com parceiros(as).
Você sempre conversou e falou abertamente sobre sexo? Ou isso é recente?
Falar sobre isso sempre foi algo natural para mim. Gosto de pesquisar sobre o assunto, de compartilhar experiências e de saber o que as pessoas desejam. Para mim, é normal perguntar para a pessoa com quem estou saindo o que ela gosta e falar do que eu gosto também, logo de cara. Isso traz muita confiança e, claro, mais prazer. Principalmente porque cada pessoa tem um estímulo diferente. Se você perguntar isso para qualquer pessoa que já conviveu minimamente comigo, vão dizer que é algo que eu falo constantemente.
Vivemos em um mundo que, infelizmente, ainda é muito machista, moralista e preconceituoso. Você já recebeu críticas nesse sentido? Como faz para lidar com elas?
No perfil, até agora, já aconteceu de receber mensagens indiscretas e abusivas, acompanhadas de fotos pornográficas. Com esse tipo de gente, eu apenas denuncio e ignoro. Na vida, aprendi a lidar com questionamento e cinismo. Se me criticam por isso, digo: “Ué, não entendi. Porque você acha que eu não devo falar sobre isso?”; “Não compreendi. O que você quer dizer?”. Percebo que assim a pessoa geralmente tende a parar um pouco para pensar, e, muitas vezes, se constrange com o que acabou de dizer.
Como você organiza seu conteúdo (escolha dos sex toys, periodicidade dos vídeos…)?
Por trabalhar com marketing de conteúdo e planejamento há sete anos, a organização dos conteúdos acontece de forma muito profissional para mim. Consigo manter uma constância de postar um dia sim e um dia não, e sou eu quem faz tudo: roteiro dos vídeos, artes, edição do vídeo, seleção de pautas etc.
Na escolha dos temas e toys para fazer review, eu me baseio em pedidos e sugestões da audiência (que já é muito participativa); novidades de produtos que são bem diferentes e que muitos desconhecem; no que as pessoas mais buscam no Google; conteúdos para quem tem pênis (que faço em collab com parceiros) e temas úteis, como guia de limpeza dos toys, como conservar, sobre o material, entre outros.
Ver essa foto no Instagram
Está gostando de se dedicar a esse conteúdo? Tem planos para continuar nesse segmento e fazer disso um negócio?
Estou amando tudo que tem acontecido. O feedback tem sido muito positivo tanto do público feminino quanto masculino, e estou criando amizades especiais vindas do perfil. Eu tenho alguns sonhos de crescer o perfil, mas em nenhum deles está o de abrir uma sex shop, por exemplo.
Realmente gosto de me dedicar no conteúdo, e o que eu penso por agora é fortalecer parcerias com marcas que admiro muito. O meu ápice de sonho seria criar um modelo de toy ou coleção em parceria com alguma marca. Quem sabe um dia né? Afinal, sonhar grande e pequeno dá o mesmo trabalho.
Como os sex toys e o autoconhecimento que a exploração do próprio corpo e prazer mudaram sua vida (no âmbito sexual e em todos os outros)?
Os sex toys me deram um poder muito grande de descoberta do que eu gosto e do que eu não gosto também. Uma liberdade que se externaliza de uma forma muito natural para diversas outras áreas da minha vida. O principal é que conhecer o meu corpo me tornou uma mulher mais confiante, e isso impacta diretamente minhas entregas profissionais, minha autoestima física e intelectual e minhas relações pessoais de um modo geral. Em um mundo em que as mulheres foram e ainda são extremamente privadas de sentir prazer, ser capaz de me proporcionar isso é um ato revolucionário, e consequentemente, político.
Que conselho você dá para mulheres que têm curiosidade de experimentar algo novo e não fazem por insegurança ou vergonha?
O melhor conselho que eu posso dar é: se informe e siga o seu próprio ritmo. Eu sempre tive facilidade para falar sobre sexualidade e, ainda assim, tive resistência com sex toys no início e só consegui de fato me abrir para o universo quando passei a me informar. É um mundo novo, um processo muito individual e que deve ser um alívio e não um peso.
A vergonha e insegurança fazem parte, porque foi isso que plantaram em nós antes mesmo de nascermos e não devemos nos culpar por isso e sim entender de onde vem e para onde vamos a partir da consciência. Então é isso: siga seu ritmo e busque conhecer as possibilidades para que possa testar o que fizer mais sentido pra você. Ah, e claro: siga meu perfil @volupelab para se informar!