Saiba por que padrão da vulva está relacionado à cultura da pedofilia
A busca incessante por uma vulva lisa, clara, pequena e apertada é fruto do fetichismo pela inocência infantil, avalia especialista
atualizado
Compartilhar notícia
Não é novidade que o padrão estético imposto para as mulheres alcança diferentes esferas e corpos — e chega, até mesmo, à vulva. Características como “rosinha, pequena, apertada e lisa” são algumas das que o público feminino busca alcançar. Contudo, existe algo enraizado nesse padrão que as pessoas mal percebem e que levanta polêmica: a cultura da pedofilia.
A premissa deste conceito não é repreender a vaidade ou a vontade de buscar sua melhor versão, mas sim problematizar a imposição de que uma mulher adulta tenha uma genitália com as características que apenas os órgãos infantis têm. A psicóloga Alessandra Araújo explica que, apesar da pedofilia ser um crime no Brasil, sabe-se que milhares de crianças são abusadas todos os dias.
“O poder sobre aquela pessoa indefesa causa desejos libidinais nos abusadores. A vulva de uma criança traz traços de inocência, desproteção, submissão que são situações que são fetiches e como a possibilidade de dominação e o homem é movido a controlar”, diz.
É importante ressaltar que a raiz do padrão da vulva não faz com que todos os homens sejam pedófilos e abusadores.
Contudo, é importante ter a consciência de que a visão libidinosa do abusador sobre a inocência infantil reflete no produto de indústrias como a pornográfica, que molda o repertório e os desejos sexuais de homens por todo o mundo. Produções que levam temáticas de colegiais, mulheres com penteados “maria chiquinha” que falam fino e chamam os homens de “papai” são um exemplo disso.
Uma vez que o homem não pode ter a criança, mas passa a fantasiar com aquelas características, as mulheres começam a buscar se encaixar naquele modelo. Contudo, mulheres adultas têm vulvas de mulheres adultas. “Quando a mulher vai amadurecendo, o corpo também amadurece, os hormônios, os órgãos e a pele se modificam, quando engordamos e emagrecemos a flacidez também modifica nosso corpo”, elucida Alessandra.
Logo, é sim válido cuidar da vulva e até mesmo lançar mão de produtos e tratamentos que levem benefícios à saúde, higiene e funcionalidade da genitália, sem contar para a autoestima feminina. O problema está em se prender a ideias como “voltar a ser virgem” e reforçar um padrão inalcançável e, indiscutivelmente, infantil.
“Historicamente a mulher já tem a submissão ao homem como imposição. Quando ela se depara com um homem que julga sua vulva e que determina que precisa ser assim ou daquele jeito, ela se sente ainda mais impossibilitada de dar e receber prazer. As mulheres, muitas vezes, não sabem que as vulvas são diferentes, cada uma tem seu formato, cor, cheiro. Salvo alguns casos de anomalia, precisamos aprender a admirar nossas vulvas”, finaliza.