Na noite da última segunda-feira (8/5), Rita Lee faleceu, aos 75 anos, em São Paulo. Em seus 60 anos de carreira, a artista deixou um legado que inspira — e ainda vai inspirar — muita gente. No que tange a “bater o pé” sobre o que mulheres poderiam ou não fazer, a cantora usou sua voz e sua arte para gritar ao mundo que, sim, mulheres gostam de sexo. E muito.

Principalmente em suas composições com o marido Roberto de Carvalho, Rita trazia letras que detalhavam o amor do casal. De acordo com a artista, era como se ela e “Rob” (como carinhosamente chamava o amado) deixassem o mundo espiar pela fechadura.

Uma prova de que “Santa Rita de Sampa” estava à frente de seu tempo é que, por conta das letras recheadas de sexualidade e disruptividade, Rita Lee tem o “título” de artista mais censurada pela ditadura militar.

Como homenagem à icônica cantora e ao serviço prestado ao trazer à luz a sexualidade quando o assunto era proibido – ainda mais para mulheres –, a Pouca Vergonha relembra alguns dos sucessos mais “calientes” de Rita:

Mania de Você

Talvez uma das músicas mais tocadas de Rita Lee, Mania de Você, parceria com Roberto de Carvalho, foi a primeira a falar de forma mais sensual sobre a relação dos dois. Na canção, Rita fala sobre a conexão do casal, que a essa altura já fazia “amor por telepatia”.

“Meu bem, você me dá água na boca
Vestindo fantasias, tirando a roupa
Molhada de suor de tanto a gente se beijar
(…)
A gente faz amor por telepatia
No chão, no mar, na lua, na melodia
Mania de você
De tanto a gente se beijar
De tanto imaginar loucuras”

Lança Perfume

Lançada em 1980, em plena ditadura militar, Lança Perfume chegou a ser vetada pela Divisão de Censura de Diversões Públicas por, segundo o documento exibido na exposição de Rita Lee, “deixar margem para o duplo sentido”.

“Vê se me dá o prazer de ter prazer comigo
Me aqueça
Me vira de ponta cabeça
Me faz de gato e sapato
Me deixa de quatro no ato
Me enche de amor”

Doce Vampiro

Doce Vampiro foi composta por Rita Lee durante o período em que passou por prisão domiciliar na casa de sua família, em São Paulo, pela acusação de “porte de drogas” durante a ditadura.

Com o carioca Roberto ainda residindo no Rio de Janeiro e indo semanalmente visitá-la, Rita conta em sua biografia que escreveu a canção em uma noite que aguardava sua chegada. Na ocasião, ela estava grávida de Beto, o primogênito do casal.

“Compus Doce Vampiro de uma só tacada com o violão apoiado no barrigão, imaginando Rob Drácula entrando pela janela do meu quarto e me dando uma bela chupada na nuca”, conta a artista na obra.

“Venha me beijar,
Meu doce vampiro
Na luz do luar
Venha sugar o calor
De dentro do meu sangue
Vermelho
Tão vivo, tão eterno
Veneno
Que mata a sua sede
Que me bebe quente
Como um licor
Brindando a morte
E fazendo amor”

Banho de Espuma

A icônica Banho de Espuma se chamaria, originalmente, Afrodite, mas precisou passar por alterações para ser liberada pela censura na ditadura. A canção narra uma tarde de amor de Rita e Beto em uma banheira de espuma, e teve os trechos “em qualquer posição” e “bulinando com água e sabão” substituídas na versão que entrou no álbum Saúde, em 1981.

“Que tal nós dois
Numa banheira de espuma
El cuerpo caliente
Um dolce farniente
Sem culpa nenhuma
Fazendo massagem
Relaxando a tensão
Em plena vagabundagem
Com toda disposição
Falando muita bobagem
Esfregando com água e sabão”

Pega Rapaz

Também com inspiração no casal, Pega Rapaz fala sobre sexo misturando o subjetivo com referências mais diretas.

“Alô doçura
Me puxa pela cintura
Tem tudo a ver o teu xaxim
Com a minha trepadeira
Nós dois pra lá, bem pra lá de nirvana
Numa cama voadora, fazedora de amor
De frente, de trás
Eu te amo cada vez mais
Pega rapaz, me pega rapaz”

Flerte Fatal

Com título autoexplicativo, Flerte Fatal narra uma conexão instantânea e avassaladora entre um casal, que não resiste e precisa se expor aos “perigos do amor” para dar uma rapidinha e matar a vontade um do outro o mais rápido possível.

“Um pecadinho escondidinho, rapidinho
Gostosinho no banheiro social
Impetuoso, indecoroso, mafioso
Atrás da árvore de Natal
Um santo pecadinho original
Flerte fatal”

Amor e Sexo

Por fim, no mais recente álbum Balacobaco, de 2003, foi lançada Amor e Sexo – sucesso de Rita e Roberto que ganhou o coração do público. A música, que faz um paralelo entre os dois sentimentos, foi inspirada no texto O Amor Atrapalha o Sexo, de Arnaldo Jabour, que assina a composição junto com o casal.

“Amor é um livro, sexo é esporte
Sexo é escolha, amor é sorte
Amor é pensamento, teorema
Amor é novela, sexo é cinema
Sexo é imaginação, fantasia
Amor é prosa, sexo é poesia
O amor nos torna patéticos
Sexo é uma selva de epiléticos
Amor é cristão, sexo é pagão
Amor é latifúndio, sexo é invasão
Amor é divino, sexo é animal
Amor é bossa nova, sexo é carnaval”
Amor é para sempre, sexo também
Sexo é do bom, amor é do bem
Amor sem sexo é amizade
Sexo sem amor é vontade”