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Por trás da câmera: uma espiada na dura vida de atores pornôs

Atuais e antigos profissionais do mercado compartilham experiências da profissão

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Fabioderby/iStock
Face detail of sensual woman lips with little clapper board
1 de 1 Face detail of sensual woman lips with little clapper board - Foto: Fabioderby/iStock

É difícil falar sobre sexo sem mencionar, eventualmente, pornografia. É por meio dos vídeos eróticos que muitas pessoas começam a educação sexual. Mas nos bastidores acontecem mais coisas do que as imagens revelam, e os atores são os grandes responsáveis por fazer todo mundo gozar no final.

Por isso, a coluna conversou com três profissionais do ramo, entre atuantes e que já deixaram o segmento, para entender melhor a profissão e os bastidores do mercado pornô.

Ex-empresária do ramo de entretenimento, Mia Linz começou na indústria pornográfica há quase dois anos. “Eu tinha uma rotina muito estressante, até que resolvi vender tudo e fazer outra coisa. Como eu gostava muito de sexo e sempre recebia mensagens de empresas para fazer eventos, resolvi testar. Foi uma cena tranquila, mas fiquei muito excitada e vi que o exibicionismo era minha praia. Decidi que queria isso para minha vida. Mas antes falei com minha família e eles me apoiaram”, revela.

Minha parte favorita do pornô é mostrar do que eu sou capaz e me empoderar como mulher. Quando a gente goza, se liberta. O pornô foi um escape para mim. Eu era deprimida, estressada e me preocupava muito com a imagem que a sociedade tinha de mim. Depois me libertei disso. Vivo como eu quero e sou mais feliz.

Mia Linz

Já Nego Catra trabalhava como bancário até receber convite para fazer uma audição para um filme erótico, em 2014. “Claro que eu aceitei. É o sonho de muitos homens sair com aquelas mulheres. Mas meu interesse não era só ser ator pornô, era falar sobre a indústria, desenvolver alguma coisa. Comecei a gravar, mas não sabia que a carreira ia dar tão certo. Acabei largando o banco para investir no segmento e ganhei prêmios, como Melhor Ator Hétero no prêmio Sexy Hot”, compartilha Catra, que atualmente conta com o apoio familiar, mas se divorciou quando entrou para a indústria pornográfica. “As parceiras sentem muitos ciúmes.”

A vida no set
Catra estima que grava de dois a quatro filmes por semana. “Passamos o dia inteiro gravando, dependendo da proposta. As produções com história e texto são similares a uma novela. Algumas cenas são feitas em uma hora. Ao voltar para casa, eu sou um homem tranquilo, com vida normal. Sou um ator igual ao de emissoras populares. A única diferença é que entrego sexo explícito”, defende.

Ele ainda opina que hoje em dia as produtoras pornô estão apostando mais em enredos e menos em sexo. “Isso é um um novo foco, que visa chegar ao público feminino, e acho a mudança positiva. O pornô era muito machista, com muita grosseria. Acho legal colocar o feminismo em alta, com a mulher curtindo tudo o que merece”, avalia. “Na indústria pornô a gente preza muito pela atriz. Se ela não estiver bem, a gente não grava. Há respeito”, completa.

Mia confirma que é tratada com dignidade pelos colegas. “Nunca me relacionei com nenhum ator fora das câmeras. Até porque eu sempre deixei bem claro que eu estava ali profissionalmente. O trabalho também não interfere nos meus envolvimentos íntimos. As pessoas acham que é bagunça depois das gravações, mas não é assim”, garante. Ela diz que costuma gravar duas vezes por mês no Brasil e diariamente quando atua no exterior.

A atriz afirma que não dá para se sustentar no país apenas com o pornô e reclama da falta de estrutura. “Minha principal renda vem de trabalhos como camgirl. O pornô é um momento de empoderamento. Faço quando quero me satisfazer. Os cachês são bem ruins”, aponta.

Os brasileiros costumam taxar as atrizes pornô como putas, mas no exterior somos vistas como profissionais.

Mia Linz

Nem tudo é gozo
Aposentada da indústria pornográfica há cerca de três anos, Vanessa Danieli (nome real da pornstar Bárbara Costa) revela que, para ela, a realidade não foi tão divertida quanto parece. “Quando eu entrei, não tinha nenhum entendimento sobre empoderamento feminino e respeito. Achava comum as pessoas me tratarem como lixo. Preferi o pornô a me prostituir”, confidencia.

Com um histórico conturbado, a jovem sofreu um abuso sexual aos 5 anos, estupro aos 15, quando perdeu a virgindade, e um relacionamento abusivo ao longo de três anos. Ela lembra que dava preferência para atuar com outras mulheres porque “sabia que não ia sair chorando e machucada”.

“Muitos jovens se educam através do pornô, mas ele não corresponde à realidade. Até o gozo é falso. Fazem com água e maisena. É muito distorcido, mas as pessoas veem e acreditam. Sempre tem uma pessoa que passa lubrificante nas partes íntimas quando o foco está em outro lugar, e isso faz parecer que a mulher está sempre lubrificada. A maioria dos homens toma remédio ou injeção para manter o pênis ereto. Já vi cara desmaiar e passar muito mal porque exagera. É tudo falso e feito pensando em dinheiro”, diz Vanessa.

Divulgação
Vanessa se aposentou da indústria pornográfica há cerca de três anos

 

Pornô = educação sexual?
Questionado sobre a relevância do filme pornô na atualidade, Catra defende ser necessário acabar com o preconceito sobre o gênero. “Todo mundo vê e existem vários tipos. O gênero não está ali para prejudicar, e sim para ajudar. Com ele, você pode até apimentar relacionamento. As pessoas julgam muito”, opina.

Já Vanessa acredita que o pornô não deve ser usado como forma de educação sexual. “O jovem é imaturo e tudo que importa para ele é gozar. Independentemente de com quem, onde ou quantas vezes. Acredito que o pornô faz com que o homem não se importe com a mulher”, pontua.

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