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Peegasm: conheça a prática e entenda os riscos de segurar o xixi até gozar

A coluna conversou com um especialista no assunto e tirou as dúvidas de como funciona, e se há benefícios ou riscos

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Mulher segurando virilha para fazer xixi
1 de 1 Mulher segurando virilha para fazer xixi - Foto: Reprodução/ FreePik

Uma mania feminina aparentemente inofensiva tem ganhado muitas adeptas: reter o xixi o maior período de tempo possível para, ao enfim urinar, sentir um prazer semelhante ao do orgasmo. Esse modismo, porém, oferece riscos à saúde que vão desde infecções urinárias de repetição até uma musculatura pélvica deficiente que pode afetar a sexualidade.

Inconscientemente o corpo naturalmente pratica o “peegasm” (algo como “orgasmo do xixi”, em inglês), quando, por necessidade (leia-se sem banheiros por perto) a mulher adia a urina o máximo possível. Quando finalmente chega o momento, é possível que uma onda de prazer tome conta do corpo.

Segundo a uroginecologista Lilian Fiorelli, , a anatomia feminina favorece a sensação prazerosa ao fazer xixi após deixar a bexiga bem cheia. “O clitóris fica bem próximo da região da uretra. Temos a parte visível dele, a cabecinha, e logo depois, a abertura da uretra. Internamente, o clitóris se divide em dois bulbos. Todo esse primeiro terço da vagina é repleto de terminações nervosas bastante sensíveis a qualquer estímulo”, conta. “A associação com algo gostoso, porém, está nossa cabeça”, completa.

Como isso acontece?

Para compreender melhor como funciona essa percepção, é preciso entender como a bexiga trabalha. Ela está conectada a um setor do sistema nervoso chamado SNA, o Sistema Nervoso Autônomo, que se divide em duas partes: SNA Simpático e SNA Parassimpático. De acordo com a médica, essas duas divisões do SNA agem como um sistema de gangorra, executando funções contrárias um ao outro: quando um domina, o outro desliga, e vice-versa.

“Quando os dois sistemas estão em equilíbrio, ou seja, a gangorra está no nível horizontal, sentimos uma sensação de ‘nada’. É uma espécie de ‘silêncio’ do corpo ou ‘estado de bem-estar’. O próprio processo de viver impede que esse ‘estado de bem-estar’ dure muito tempo, pois a queima dos alimentos dentro das células não para nunca e os resíduos são eliminados por fezes e urina”, explica.

O sistema dos órgãos ocos como a bexiga é feito de espaços de armazenamento e de anéis musculares chamados esfíncteres que abrem e fecham a entrada e a saída desses depósitos. Enquanto o SNA Simpático fecha os esfíncteres e relaxa as paredes do depósito, permitindo que o espaço dentro do órgão fique cada vez mais cheio, o SNA Parassimpático faz o contrário: contrai as paredes do órgão e abre a “porta” fazendo o esvaziamento acontecer.

“Esse movimento da gangorra Simpático-Parassimpático provoca um reflexo no sistema nervoso, envolvendo contração e relaxamento de vasos sanguíneos da pele e dos músculo que arrepiam os pelos, fazendo a pessoa sentir uma onda passageira, de curta duração, que percorre o corpo todo, com sensações de arrepio, calafrios, calor e/ou tremores leves e ligeiros em braços e pernas. O que foi apelidado de ‘peegasm’ ou ‘orgasmo do xixi’ nada mais é a do que a descrição médica da sensação de alívio”, afirma Lilian.

Experiência sadomasoquista?

É importante perceber a diferença entre alívio e orgasmo. No primeiro, quanto maior o tempo de desconforto e sofrimento, maior o alívio do retorno ao equilíbrio. “O orgasmo não precisa de sofrimento prévio para acontecer. Pelo contrário, acontece depois de um período de excitação, que, por si só, já é uma experiência agradável. Não há nenhum incômodo nem é necessário sofrer antes do prazer. Nesse sentido, a prática do ‘peegasm’ poderia ser entendida como uma experiência sadomasoquista, onde o prazer é substituído pelo alívio depois do sofrimento”, diz Fiorelli.

Muitas mulheres, realmente, relatam achar mais gostoso transar com a bexiga cheia do que com ela vazia. Durante a excitação erótica acontece a ativação de alguns centros cerebrais que estavam desativados antes do sexo começar e que modificam a percepção da experiência sensorial dos órgãos sexuais.

“Num primeiro momento o toque no clitóris é percebido como um ‘choque’ incômodo, mas quando os centros cerebrais são ativados é percebido como ‘tesão’. Essa mudança cerebral causada pela excitação erótica pode fazer uma bexiga cheia ser percebida como um reforço da sensação sexual, e não como incômodo”, explica a especialista.

Apesar de prazerosa, essa prática não é recomendada. “Para as mulheres que desejam uma sensação diferente na hora do sexo, o ideal é praticar exercícios de Kegel ou consultar uma fisioterapeuta pélvica. Além de exercitar a musculatura, elas aprenderão a contrair e retrair a vagina de um modo que propicie benefícios para o sexo, sem comprometimento à saúde”, ressalta a uroginecologista.

Alívio forçado e muito arriscado

Todas as pessoas sentem esse “micro peegasm” quando urinam, mas muitas mulheres vêm forçando esse movimento de gangorra até extremos não fisiológicos para experimentar a sensação de grande alívio após um grande desconforto. “Na prática significa deixar passar o limite do esticamento da bexiga cheia para experimentar uma sensação mais forte de alívio, com mais arrepios, mais calafrios e mais ondas de calor ou frio. Se isso acontece muito raramente, quando por acidente estamos num lugar sem banheiro disponível e temos que aguentar a bexiga encher mais que o normal, tudo bem. No entanto, provocar isso com frequência é intensamente prejudicial”, complementa a expert.

Uma maior incidência de infecções urinárias, segundo a médica, é o primeiro risco. A urina costuma eliminar bactérias do sangue e outras que acabam atingindo, via uretra, a bexiga. Reter o xixi por longas horas permite que essas bactérias tenham tempo para se reproduzir aos milhares, provocando infecções.

“Se isso torna-se um hábito, há ainda o risco de distender a bexiga. Com isso, ela nunca se esvazia por completo. Outro perigo é a pressão exercida pela bexiga cheia afetar o ureter e o rim, causando uma nefrite”, alerta. E se isso acontecer repetidas vezes pode levar até o extremo de uma insuficiência renal e, consequente, necessidade de transplante de rins.

Outro perigo é uma distensão de musculatura de todo o assoalho pélvico, região do períneo, que vai do osso acima do clitóris até o final da coluna vertebral, logo acima do ânus. “Com isso, há a possibilidade de a sexualidade da mulher ser prejudicada, pois essa musculatura é responsável pelas contrações na hora do sexo”, finaliza a profissional. Ou seja, melhor seguir com as formas mais tradicionais de chegar ao orgasmo: sexo e masturbação.

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