Outubro Rosa: como se redescobrir no sexo depois de um câncer de mama
Especialista explica a importância de manter a cabeça aberta para novas sensações e dá dicas de como explorar o mapa erótico do corpo
atualizado
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Outubro é o mês da conscientização do câncer de mama. Sabe-se que, ao passar pelo processo de tratamento de um câncer, diversas áreas da vida são afetadas negativamente, e a sexualidade é uma delas.
De acordo com a sexóloga Gabriela Daltro, da plataforma Sexo Sem Dúvida, a autoestima feminina é uma das primeiras a sentir os efeitos.
“O câncer abala as estruturas da pessoa, a forma como ela se vê, sua autoconfiança. Muitas vezes ela também se enxerga em uma posição de incapaz. Sem contar que o foco dela vai para outras coisas no momento, o que joga o desejo e a libido lá para baixo”, explica.
No caso do câncer de mama, ainda existe a questão da mastectomia – cirurgia de remoção da mama. Segundo Gabriela, uma interferência direta e invasiva como essa, que afeta uma parte tão sexual da mulher, pode trazer muita insegurança. “Pode abalar muito não só a autoimagem, mas também a percepção dessa mulher de se sentir desejável”, diz.
Foi o que aconteceu com Bruna Caldas, que passou pelo tratamento quando tinha 24 anos. “Fiz mastectomia radical da mama esquerda, perdi cabelos, sobrancelhas e todos os outros pelos do corpo. Minha autoestima baixou e especialmente a questão da libido foi comprometida”, lembra.
Além de todo o processo emocional, há também as questões físicas que o corpo sofre. A psicóloga explica que, ao mesmo tempo que trata a doença, a quimioterapia “machuca” no processo, e acaba modificando o sistema hormonal.
“Nisso se abala toda a disposição para sentir prazer. É como pedir para uma pessoa pensar em sexo e ter um orgasmo tendo um mal estar físico”, explica a especialista.
Como se reinventar
Ainda que seja um processo doloroso e, muitas vezes, demorado, pode sim haver a recuperação plena da sexualidade após o tratamento do câncer. Gabriela aponta que o primeiro passo é ter a cabeça aberta e se permitir viver uma nova realidade.
“É importantíssimo não se comparar com o que era antes do tratamento. É preciso aceitar o novo corpo, seja porque ele passou por uma mastectomia ou porque passou por tantos outros tratamentos agressivos e invasivos”, diz.
Além disso, é preciso ter paciência para explorar um possível novo mapa erótico. Uma vez que a mulher passa por um processo emocional e físico muito intenso de transformação, as zonas erógenas podem sofrer modificações.
“A forma que gosta de ser tocada, os locais em que gosta. Por exemplo, uma mulher que gostava de ser tocada no seio, pode passar a não suportar”, explica.
Nesse processo de redescobrir, os sex toys podem ser grandes aliados. Para a sexóloga, trazer um novo elemento pode ser excitante e incentiva a pensar em novas sensações. O segredo é se curtir. “Use gel e óleos de massagem. Faça uma massagem, sinta o corpo. Derrame gel ou óleo no corpo e curta a pele, o toque, no corpo inteiro”, explica.
Solteiras x acompanhadas
Para quem é casada ou namora, o(a) companheiro(a) tem papel fundamental neste momento – tanto durante quanto depois. “É preciso ter muita sensibilidade para acolher, reconhecer que a pessoa vai estar diferente, não exigir que ela seja do mesmo jeito, tenha a mesma disposição etc.”, explica a psicóloga.
Bruna confirma, e lembra que o apoio de seu marido foi parte importante de sua recuperação.
“Ele aceitou minha nova forma antes de mim. Aceitou meu ‘novo peito’, minha careca, tudo primeiro que eu. Foi acolhedor e inspirador. Superamos juntos e hoje sem dúvidas somos mais fortes”, conta.
Para as mulheres solteiras, é comum que haja uma perda inicial na vontade de se relacionar. Mas Gabriela alerta: tanto durante o tratamento quanto após, a terapia é fundamental para passar por esse processo.
“É importante entender que a vida sexual não acabou, que existem formas de se colocar, paquerar, continuar investindo. É muito importante fazer tudo isso”, finaliza.