Médica desaprova “supositório para perfumar vagina”, trend do TikTok
Após ácido bórico ser indicado para uma “vagina cheirosa”, ginecologista explica por que tendência é perigosa
atualizado
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O TikTok ataca novamente. A mais nova tendência do aplicativo é de beleza e bem-estar, mas não tem nada a ver com o rosto, os cabelos ou as unhas. Por lá, muitas usuárias têm dividido os “benefícios” de inserir supositórios de ácido bórico na vagina.
As adeptas da prática, em sua maior parte gringas, indicam o uso da substância para balancear o pH após o período menstrual ou até mesmo para amenizar o odor da região íntima.
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Apesar da proposta parecer convidativa, é eminente o risco de usar certas substâncias sem a devida recomendação médica. Apesar de não precisar de receita para ser adquirido, o ácido bórico é um medicamento e, se usado de forma errada, pode trazer malefícios.
“O ácido bórico é muito usado para candidíases e vaginoses bacterianas. Assim como toda medicação, ele precisa ser receitado por um médico; do contrário, pode causar alterações no pH vaginal, dar alergia e até mesmo propiciar outras infecções. Não é para ficar usando a torto e a direito”, explica a ginecologista natural Debora Rosa.
Cheiro ruim na vagina?
Antes de tomar alguma decisão para “melhorar o cheiro da vagina”, é importante identificar se a origem de um suposto mau cheiro vem, de fato, da região íntima. “Coitada da vagina, é tudo sempre culpa dela! O mau cheiro pode vir da virilha, que, assim como a axila, tem muitas glândulas sebáceas; do ânus, por onde passam as fezes; e até mesmo da vulva, que tem várias dobras e, sem uma higienização adequada, pode acumular secreção”, elucida.
Se o mau cheiro vier mesmo da vagina, a atitude mais acertada a se tomar é procurar um médico para avaliar o que pode ser. “O mau cheiro pode vir ou não acompanhado de coceira, e pode variar desde um cheiro muito intenso de fermentação até a um cheiro mais fétido, de estragado mesmo”, afirma.
Outra coisa que vale analisar é: o odor é ruim ou é cheiro de vagina? Debora faz o alerta, uma vez que, em nossa sociedade, mulheres são ensinadas que a vagina tem cheiro ruim. Há até uma crença que descreve o aroma da vulva como “odor de bacalhau”.
“É quase uma lavagem cerebral que fazem na gente. Crescemos pensando que nossa vagina tem um cheiro ruim. Mas não, vagina tem cheiro de vagina, não de perfume ou de rosas; apenas o cheiro natural dela”, pontua.
Todo esse movimento de “padrão estético da vulva” que exige que as genitálias (só as femininas, claro) tenham cheiro de morango, apesar de parecer inofensivo, dificulta muito o processo de aceitação do próprio corpo, o que interfere diretamente na vida sexual das mulheres — que já gozam 35% a menos que os homens, vale lembrar.
Para saber diferenciar o cheiro natural de um mau cheiro, a médica indica, principalmente, autoconhecimento. “Para as minhas pacientes, eu indico o autotoque durante todo um ciclo, desde a menstruação até a ovulação, para que elas se familiarizem com sua secreção e conheçam todas as suas fases. Aí, quando houver algo diferente ou estranho, elas vão saber que precisam procurar um médico”, diz.
Por fim, para quem quiser evitar maus cheiros advindos da vulva e da virilha, as dicas de ouro são: nada de calcinha, tampouco papel higiênico. “Calcinha sintética é a morte da vulva! Se for para usar, melhor optar por uma calcinha mais larguinha e confortável, para não abafar. Depois de fazer xixi ou cocô, lavar com água, sempre. Quando passamos papel, apenas secamos, não limpamos. A gente não passa papel higiênico nos bebês. Depois que crescemos, no entanto, esquecemos como fazer uma higienização adequada”, finaliza.