Máquinas do sexo? Entenda por que mulheres livres sexualmente intimidam
Terapeuta sexual explica motivos pelos quais pessoa criam expectativas sobre mulheres que falam abertamente ou trabalham com sexo
atualizado
Compartilhar notícia
A ex-BBB Marcela McGowan é, sem dúvidas, uma das principais referências da atualidade quando o assunto é sexualidade feminina. Ginecologista e obstetra, a médica se especializou no segmento e tem usado a visibilidade do reality para ajudar mulheres a quebrar tabus.
Em entrevista recente ao jornal Extra, Marcela afirmou que por conta de seu trabalho com sexualidade, muitas pessoas se sentem intimidadas com ela.
“Acham que vou fazer algo muito mirabolante no momento do sexo e vejo até que outras se intimidam achando que vou julgá-las, mas sempre tenho esse papo. Cada um e cada relação sexual vai ser diferente. Falar sobre esses assuntos afasta alguns, mas abre espaço para outros se comunicarem melhor comigo”, disse McGowan.
De acordo com a terapeuta sexual Tâmara Dias, isso não acontece apenas com Marcela, ou mesmo pelo fato dela ser famosa. Tem a ver com as questões que as próprias pessoas têm em relação a sexo e ocorre tanto com mulheres que trabalham com sexo quanto com mulheres que falam abertamente sobre ele.
“A maioria das pessoas ainda vê a sexualidade como um tabu e têm resistência com quem vive isso de forma livre. E claro que por trás disso também existem as inibições culturais, costumes e padrões que foram tão reproduzidos e naturalizados”, diz.
Contudo, a psicóloga afirma que mulheres que trabalham com sexualidade sofrem ainda mais com expectativas. “Existe uma cobrança, como se você soubesse tudo sobre sexo e isso fosse garantia do melhor desempenho do mundo e orgasmos intensos”, pontua.
De acordo com Tâmara, toda essa crença em torno da sexualidade como profissão vem da cultura que tem como principal “educador sexual” a pornografia e coloca a performance como prioridade. “As pessoas demoram a perceber que sexo é energia, afeto, sentimento, movimento, troca, parte inerente do ser humano; que ele influencia nossa saúde física e mental e por isso deve ter uma atenção especial”, afirma.
Machismo
Um dos padrões sociais que fazem com que mulheres do universo sexual intimidem é o próprio patriarcado, que deixou as como coadjuvantes quando o assunto era sexo. “Por muito tempo ficou sob os homens a responsabilidade do prazer feminino. Querendo ou não, ainda existe reflexo disso”, explica a sexóloga.
Ou seja, além do próprio preconceito e machismo por trás da resistência de alguns homens em se relacionar com mulheres livres sexualmente, existe também baixa autoestima e insegurança por se sentir ameaçado em “perder o comando”.
“Ao longo da profissão percebi que a maioria dos homens querem mulheres ‘independentes’, mas não a ponto de não depender deles emocionalmente. Mulheres carentes de afeto são mais fáceis de serem manipuladas”, diz.
Como lidar?
Por mais bem resolvidas que sejam, mulheres livres sexualmente também são humanas e, muitas vezes, podem não lidar tão bem com toda a expectativa. Pode acontecer, inclusive, delas quererem alcançá-la.
“Pode ser prejudicial se a mulher se sentir na obrigação de superar todas essas expectativas fazendo posições ou práticas que não curte somente para satisfazer a parceria, ou ainda quando é a única responsável em levar novidades, como fantasias e produtos sensuais para apimentar a relação”, diz.
Para aprender a lidar com isso a primeira dica é saber identificar se a pessoa te vê como uma “máquina do sexo” por conta da profissão ou vivências. Depois, a melhor opção (caso seja alguém que valha o desafio) é sempre o diálogo. Além de sempre lembrar do próprio valor, claro.
“Existem mulheres com autoestima e amor próprio o suficiente para que expectativas e julgamentos de fora não a afetem. Também é legal abrir um diálogo para o outro perceber que é uma mulher comum, e que não é preciso ter medo ou a superestimar”, finaliza.