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Maio Laranja: o abuso infantil pode ser evitado com educação sexual

No mês do combate ao abuso sexual infantil, entenda por que a educação sexual — em casa e nas escolas — é uma arma contra essa violência

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Foto colorida de uma criança desfocada com a palma da mão estendida para a câmera - Metrópoles
1 de 1 Foto colorida de uma criança desfocada com a palma da mão estendida para a câmera - Metrópoles - Foto: fizkes/Getty Images

Desde 2020, o mês de maio é conhecido pela campanha Maio Laranja, sendo o dia 18 o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual Infantil. Com um triste cenário em que uma criança é abusada a cada três horas no Brasil — 51% delas de 1 a 5 anos de idade, de acordo com informações da campanha —, é importante ressaltar o papel que a educação sexual tem nesse combate e conscientização.

Retomada em julho de 2023 na grade escolar da rede pública de ensino, a educação sexual e reprodutiva não incentiva entre as crianças o comportamento sexual. Pelo contrário: o conhecimento pleno funciona como uma proteção contra possíveis abusos.

De acordo com o psicólogo e terapeuta sexual André Almeida, levar o assunto da forma correta para essas crianças as mune de linguagem e percepção acerca do que pode ser uma violação.

“Educação sexual dá ferramentas importantes para a criança entender principalmente sobre o próprio corpo, limites e sobre o que são comportamentos de abuso. Normalmente, não é algo que vai doer, que vai machucar; o abusador trata como se fosse um carinho, uma brincadeira. Se ela não tiver uma boa educação sexual, só vai compreender muito mais pra frente que foi abusada”, afirma.

Engana-se quem acredita que o assunto não deve ser tratado nas escolas. Segundo dados do Ministério da Saúde, familiares e conhecidos são responsáveis por 68% dos casos de violência sexual contra crianças de 0 a 9 anos no Brasil. Sem contar que a casa das vítimas é o local de ocorrência de 70,9% desses abusos. Dito isso, fica fácil compreender o quanto pode ser perigoso limitar que a fonte desse tipo de informação seja apenas a própria família ou parentes próximos.

“Sexualidade é estrutural, não se trata apenas do comportamento sexual em si. Ela entra no vivenciar do ser humano nesse mundo, autoconhecimento sobre corpo, nomear sensações, colocar limites… Tudo isso é educação sexual. É muito importante, e deveria ser priorizado se a gente quer um desenvolvimento mais saudável das crianças”, elucida André.

Consequências do abuso infantil

Ao contrário do que se pode pensar, o trauma de um abuso sexual não causa consequências apenas no momento da violência ou durante a infância. Os reflexos, na maioria das vezes, se estendem até a vida adulta — e não só no que diz respeito à sexualidade.

“Um abuso pode acarretar desde uma repulsa a sexo até a disfunções sexuais e dificuldades em entender a própria orientação sexual. Além disso, pode haver impacto na capacidade da pessoa impor limites, socializar e crises diante de gatilhos”, pontua a psicóloga e sexóloga Alessandra Araújo.

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Ao contrário do que se pensa, não é uma "aula de sexo"
A educação sexual ajuda, inclusive, a protejer crianças de possíveis abusos
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A educação sexual é essencial para o desenvolvimento e a proteção das crianças

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Ao contrário do que se pensa, não é uma "aula de sexo"

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A educação sexual ajuda, inclusive, a protejer crianças de possíveis abusos

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A especialista ressalta também uma tendência a ter dificuldade em colocar projetos em ação e ir atrás de objetivos entre vítimas de abuso. “É como se a pessoa não se sentisse no comando, como se o próprio corpo não a pertencesse. Isso causa uma sensação de incapacidade, paralização”, diz.

Muito além de “falar de sexo”, educação sexual é algo sério e subjetivo, e a abordagem vai depender tanto da curiosidade quanto do nível de desenvolvimento. “Começa-se com o básico, como higiene; o que é cada coisa e como nomeá-las; quais regiões são adequadas ou não para um carinho; quem pode fazer a higienização ou não…”, lista André.

Se feita de forma adequada, além de proteger a infância contra abusos, cria-se também jovens que, ao começarem a engatar comportamentos sexuais, lidam melhor com o próprio prazer e o prazer do outro, utilizam métodos contraceptivos mais eficazes e também têm maior compreensão e aceitação do próprio corpo, da própria orientação e assim por diante.

André explica como é feita a abordagem de sexualidade ao longo do desenvolvimento infanto-juvenil em cada uma das fases.

Confira:

1 a 4 anos

Nessa idade, é importante que as crianças aprendam a nomear e identificar as partes do corpo, incluindo as genitais. Não há problema em usar apelidos como “piu piu” e “pepeca”, mas identificar pelos nomes “pênis” e “vagina” também é importante – principalmente para munir a criança na hora de comunicar qualquer desconforto, problemas de saúde, machucados e até abusos.

Pontue também a existência das diversas formas de expressão de gênero (exemplo: figuras masculinas com cabelo grande). Acostumar-se com diversidade ajuda na construção de uma autoimagem mais positiva, inclusive.

5 a 7 anos

Além de continuar reforçando os pontos apontados anteriormente, nessa idade a criança pode mostrar interesse pela forma como nascem os bebês. Você pode falar sobre fecundação, crescimento no útero e nascimento, por meio da história da criança ou de forma lúdica.

Explique que existem diversas composições familiares diferentes pode ser uma boa maneira de ratificar a diversidade. Atente-se à curiosidade da criança, não precisa ir muito além do que é questionado.

Ensine a criança sobre privacidade, toques apropriados e inapropriados e consentimento (aprender a perguntar antes de tocar em alguém, e saber que devem pedir permissão quando forem tocar nela, algo que não deve ser feito sem consentimento).

8 a 10 anos

Reforce os tópicos anteriores e explique sobre a existência das orientações sexuais e identidades de gênero. A exploração do próprio corpo é comum nesse período, então, trate com naturalidade, mostrando a importância de realizar determinadas ações (tocar nas genitálias, por exemplo) em privacidade.

Vivemos em uma era na qual o acesso a conteúdos eróticos é muito fácil. Ensine sobre o acesso seguro à internet e o que fazer caso seja exposto a algo que gere desconforto.

A puberdade é um assunto importante para se introduzir, pois ela está batendo à porta (muitas crianças entram nesse período por volta dos 10 anos). Introduza as mudanças no corpo (pelos, menarca, mamas, espinhas…) e a importância da higiene íntima.

11 a 13 anos

Acolha e explique sobre as mudanças naturais do corpo. Fale sobre a menstruação, as emissões noturnas e outras mudanças que estão acontecendo. Aqui, o conhecimento sobre navegação saudável pela internet também é imprescindível.

É importante saber dos riscos de acessar materiais adultos, bullying, compartilhamento de fotos e vídeos. Lembre-se de alimentar a curiosidade das crianças com informações corretas conforme as dúvidas forem surgindo.

Pré-adolescentes também precisam saber como as redes sociais afetam a autopercepção acerca dos corpos, além de treinar o senso crítico a respeito de como questões de sexualidade são representadas na mídia.

14 a 18 anos

Segundo estudos, a média de idade de início das relações sexuais é de 15 anos. Por isso, quanto mais próximo dessa faixa etária, mais informações sobre infecções sexualmente transmissíveis, contracepção, sexo seguro e gravidez precisam ser introduzidas. É importante ressaltar que existem diferentes corpos e ficar atento às pressões estéticas.

Os adolescentes precisam saber sobre relações saudáveis e tóxicas, além de estarem munidos de habilidades de consentimento, negociação, frustração e término de relações. Conversas sobre álcool e drogas também fazem parte desse escopo.

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