Jovens estão iniciando vida sexual três anos mais cedo, diz pesquisa
Apesar do levantamento do IBGE ter recorte regional em Palmas (TO), terapeuta sexual afirma que antecipação é geral e aponta motivos
atualizado
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Um levantamento feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontou uma diminuição de três anos na idade em que os jovens de Palmas, no Tocantins, iniciam a vida sexual. Enquanto a geração de seus avós começava a transar com cerca de 19 anos, a geração atual começa com cerca de 16.
Apesar da pesquisa ter sido feita com recorte regional, esta realidade corresponde à sociedade de uma forma geral. De acordo com o terapeuta sexual André Almeida, fisiologicamente as gerações atuais tendem a amadurecer mais precocemente.
“Em alguns estados as variáveis socioeconômicas e outros fatores, como religiosidade, conservadorismo etc., podem aumentar ou diminuir essa idade. Contudo, essa antecipação da vida sexual em relação aos mais velhos é uma realidade em todos os lugares”, explica.
Além das questões fisiológicas, o especialista aponta como um dos motivos desse quadro o maior acesso à informação, no que diz respeito a uma maior liberdade sexual e menor repressão em comparação com antigamente.
Meninos antes, meninas depois
Além da diminuição geral de idade, a mesma pesquisa apontou também uma diferença entre as idades em que meninos e meninas começam a se relacionar sexualmente. Enquanto para a parcela masculina a média é 16 anos, para a feminina é 17,9.
“Passa geração e entra geração e tudo isso é transpassado pelo machismo. Os homens ainda têm muito mais liberdade sexual do que as mulheres, inclusive no que diz respeito ao acesso e a tranquilidade em lidar com essas informações por parte dos pais. Isso leva a uma exposição mais cedo”, explica.
Contudo, o mesmo cenário de uma sociedade machista levanta o questionamento: teria a menor liberdade sexual feminina algum peso nas respostas da pesquisa, fazendo com que meninas alterem a verdade?
Para André, é inevitável pensar que, se meninos estão começando a vida sexual mais cedo, estão fazendo sexo com outra pessoa. Logo, ou estes meninos estão engatando comportamentos sexuais com outros meninos, ou as meninas também estão iniciando na mesma idade.
“Até que ponto não há um viés de não querer se expor nas respostas? Dado ao machismo em que a gente vive, não é bem visto para as mulheres que elas façam sexo, que elas tenham uma vida sexual ativa”, questiona.
Educação sexual
Em um país no qual a educação sexual deixa a desejar, o fato de jovens estarem iniciando a vida sexual cada vez mais cedo pode ser preocupante. Pois, independente de idade, se não há uma educação sexual bem desenvolvida, é maior a exposição a problemas como infecções sexualmente transmissíveis, gravidez indesejada e até mesmo abusos.
“Quanto mais cedo esses jovens entenderem o que eles estão fazendo, mais esses riscos diminuem. É importante ter o mínimo de informação, conhecimento do próprio corpo, possíveis consequências do sexo etc. Isso gera um maior cuidado ao fazer o sexo”, garante.
André adiciona ainda que não é possível pontuar uma idade ideal para iniciar a vida sexual, uma vez que isso depende de diversos fatores que variam de pessoa para pessoa. “O ideal, talvez, seria preparar as pessoas para o momento em que elas vão se expor ao sexo”, explica.
Por fim, o psicólogo pontua duas das principais informações que devem estar claras para os jovens antes de iniciarem a vida sexual: proteção e limites. No âmbito dos cuidados, é importante saber, como se colocar uma camisinha e onde é possível encontrar uma, por exemplo.
“Além disso, também é essencial conhecer e desenvolver a compreensão de que tem coisas que você quer e coisas que você não quer, isso tem que estar muito bem delimitado. Se você não quiser, você não precisa fazer e está tudo certo. É preciso fortalecer esses indivíduos para reconhecerem os limites próprios que devem ser respeitados”, finaliza.