Hana Khalil fala sobre sexualidade, ativismo e quarentena: “Se toque nua”
A Pouca Vergonha bateu um papo com a influencer, que faz sucesso no Instagram com vídeos didáticos sobre pautas sexuais relevantes
atualizado
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Se você é usuário(a) de Instagram, já deve ter visto alguém compartilhando um dos vídeos de Hana Khalil. Para quem não conhece, a carioca de 24 anos tem uma conta com 2,4 milhões de seguidores no Instagram e participou dos realities Big Brother Brasil 19 e De Férias com o Ex Brasil.
Na bio de seu perfil, Hana se descreve como “influencer ativista” – e não é para menos. Com frequência, publica vídeos didáticos no formato de bate-papo sobre diversos temas atuais. Dentre as pautas pelas quais Khalil “milita”, uma delas é a sexualidade.
Bissexualidade, fatos sobre a vagina, masturbação, broxadas, masculinidade frágil, entre tantos outros assuntos recorrentes no mundo sexual já passaram pelos vídeos. Para saber mais sobre o processo de criação do conteúdo e outras curiosidades, a Pouca Vergonha bateu um papo com a influencer:
A sexualidade sempre foi um tema comum e sem tabus na sua vida? Se não, quando isso começou?
A sexualidade nunca foi um tema muito comum na minha vida, pois a minha família é um pouco conservadora. Acho que meus pais sempre souberam que eu era diferente, que eu não gostava só de homens. Meu pai sempre teve muito medo que eu fosse LGBTQ+ um dia, e acabou que eu sempre tive essa cultura de me sentir em um lugar onde a sexualidade que não fosse hétero normativa não era uma coisa muito aceita.
Então por mais que eu sentisse atração por mulheres, para mim aquilo era praticamente impossível, então nunca cogitei. Com uns 12, 13 anos eu já sabia que gostava de mulheres, mas só com uns 15, 16 que fui ter minha primeira experiência. Mas continuei gostando de homens também. Eu gosto de gente, né. E isso não é uma coisa que sempre tenha acontecido, ou que sempre tenha sido discutida na minha família. Eu tive que crescer para poder conversar com pessoas, conhecer gente e entender que, na verdade, o lugar de onde eu vim era um pouco opressor nesse sentido.
Já nas redes sociais, o que te fez decidir começar a fazer os vídeos nesse formato mais didático e de bate-papo, sempre levantando temas relevantes?
Eu era atriz quando criança, já fiz teatro, sempre gostei de me comunicar e sempre quis trabalhar com comunicação. Comecei a fazer esses vídeos quando eu tinha 19 anos. Eu trabalhava como estagiária de edição na Globosat. E eu ouvia todo mundo falando que eu não tinha que ficar atrás das câmeras. Sou formada em Cinema também, gosto de fazer tudo! Escrever, dirigir, já operei câmera, já fiz tudo que tem para fazer atrás das câmeras e na frente delas também.
Mas pensei que queria fazer algo com serviço, algo que fosse utilidade pública. Não queria fazer vídeo só por fazer. Então não foi uma coisa tipo “vou fazer porque eu quero que as pessoas me conheçam”, foi porque eu queria que as pessoas soubessem o que eu estava falando. O foco sempre foi em fazer as pessoas entenderem a mensagem que eu queria passar.
Como é a escolha dos temas? Você aceita sugestões dos seus seguidores, vai pelo que está acontecendo no momento ou um pouco de tudo?
Eu sou completamente aleatória! Não quero falar nada por falar, para encher de conteúdo ou para bombar. Eu funciono de uma forma bem espontânea quando se trata de Instagram, por mais que seja meu trabalho. Quando eu sinto que eu preciso descansar, ou que eu preciso pensar melhor para falar sobre alguma coisa que eu quero muito falar, às vezes eu levo dois meses pensando e estudando sobre como abordar o tema.
É óbvio que o que os seguidores falam é importante. Às vezes acontece alguma coisa e várias pessoas pedem para falar sobre o assunto, aí eu vou e dou atenção porque eu acho que é impactante, e que vai fazer diferença. É um pouco de tudo mesmo, porque eu presto atenção no que meus seguidores querem, mas também tô de olho no que está acontecendo dependendo da época.
Como tem sido o feedback das pessoas? Os homens também dão retorno, ou são mais as mulheres?
Naturalmente o meu conteúdo é mais voltado para as mulheres, não é um conteúdo voltado para homens, héteros, cis. Claro, eu fiz um vídeo sobre broxar, que é uma coisa que permeia os homens, falo muito sobre masculinidade tóxica, mas eu acho que meu conteúdo é muito mais voltado para elas.
Mas mesmo assim tem muito homem que dá retorno dizendo que aprendeu, que tá reconsiderando os machismos. Tem meninos de 12, 13 anos que me mandam mensagem e dizem: “Hana, você está me ajudando a não crescer um homem machista”, e isso é muito emocionante e gratificante.
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Tem algum tipo de tema que bomba mais quando você solta um vídeo?
Conteúdos voltados para mulher, para pessoas que têm útero, para autoconhecimento LGBTQ+. Geralmente conteúdos voltados para as pessoas as quais esse conhecimento foi tirado por muito tempo, porque existem grupos que foram muito prejudicadas por opressões, e isso fez com que eles não conhecessem ou entendessem bem seus sentimentos, corpos, liberdade, lugar. Naturalmente esses são os que mais bombam!
Você recebe muitos comentários negativos? Como você lida com as críticas moralistas/machistas?
Depende. Eu não gosto de receber comentários negativos, óbvio. Quando eles fazem sentido é muito melhor. Mas o problema é que eu não recebo muitos comentários negativos que fazem sentido, eu recebo muitos comentários de ódio. Comentários machistas de homens e mulheres conservadores que se juntam para me atacar, e isso acontece com vários influencers que têm essa pegada mais ativista.
As pessoas se juntam para despejar ódio, coisas como “Você é nojenta”, “Vai depilar”, “Que nojo”, “Você é muito vulgar”. Isso, para mim, já passa a ser um comentário de ódio, porque a pessoa não para em nenhum momento para pensar no que ela está falando para a outra. A partir do momento que alguém chega e fala: “Olha só, Hana. Você está falando uma coisa errada, porque isso, isso e isso”, eu vou parar e pensar. Todo mundo pode discordar de mim, eu estou na internet para isso.
Talvez por eu ter vindo de reality shows, as pessoas se concentram muito na minha aparência, falam que eu sou descuidada, dos meus pêlos, que eu não uso maquiagem. As pessoas queriam muito que eu tivesse outra aparência, mas isso não faz sentido com nada do que eu acredito. O corpo é meu. Eu nunca quis ficar famosa ou que as pessoas se identificassem comigo por causa da minha aparência, não é por isso que eu estou aqui.
Na sua opinião, qual a importância de uma mulher tão jovem como você e com tanto alcance nas mídias levantar assuntos tão importantes como os de sexualidade e tantos outros dos quais você é ativista?
Modéstia a parte, me olhando de fora, eu me vejo como uma representatividade que eu precisava ter para mim mesma. Eu precisava de uma pessoa assim quando eu era criança. Porque em uma sociedade que objetifica a mulher de um jeito absurdo, na qual eu aprendi que o jeito certo de você conquistar um homem é ser bonita, querida, amável, delicada, ser frágil, mas nem tanto. Ser uma mulher que preze pela sua aparência acima de tudo, ter certas características, e eu precisava de uma pessoa que me mostrasse que o poder da mulher não é esse.
Ainda que eu seja uma mulher padrão, o que eu posso fazer é usar o meu lugar para ser útil no meu contexto de privilégio branco, com um corpo padrão. Eu sei que eu não estou em certas categorias, então eu também acho necessário que alguém que esteja faça. Porque se não, não adianta, a gente não muda. O desserviço é o meu maior medo, sabe?
Você é bissexual e isso já até foi tema no seu insta. Como influencer, acredita que essa representatividade mais didática é importante? Você já recebeu feedback de pessoas que se instruíram mais sobre o assunto depois dos vídeos ou até se descobriram bissexuais?
Eu acho que a representatividade é importante para as pessoas se identificarem de verdade com aquilo, e não verem como uma pessoa, mas sim como um movimento de sexualidade e entenderem. Ultimamente eu tenho me identificado mais com a pansexualidade, me identifiquei mais com essa pauta, mas acho que aquele vídeo foi muito importante para organizar na cabeça das pessoas, principalmente das que não são bissexuais.
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um pouco sobre bissexuais e suas pressões diárias. reflita sua relação conosco 🏳️🌈
Você já participou de dois realities e na sociedade em que vivemos a repercussão do que as mulheres fazem ou deixam de fazer é sempre bem diferente da dos homens. Como é a sua relação com a exposição sexual dos programas e como foi para você lidar com isso?
Hoje, olhando para trás, eu penso muito em algumas questões a respeito da objetificação. Tem coisas que eu fiz nos dois realities que eu não sei se eu faria de novo, justamente por conta dessa questão. Mas é isso, a liberdade sexual das mulheres é uma coisa que se transformou em nicho de mercado, em um produto. Tem um objetivo mostrar mulheres de biquini, transando, mulheres com corpo “x”.
Além disso, o que eu sinto é que a pressão estética é muito maior para mim do que para os homens, por causa dessa mesma raiz de objetificação. Isso fez com que a gente se perdesse sobre o que é natural e o que não é para a gente. Desde a questão das pessoas não conseguirem aceitar o momento em que eu quero usar meus pêlos e o momentos em que eu não quero. As pessoas opinam muito sobre meu corpo, ainda que eu seja uma mulher padrão.
Por fim, estamos vivendo um período de pandemia. Você teve dificuldades em relação à sua vida sexual na quarentena no que diz respeito a se reinventar no relacionamento? Qual a dica que você daria para as pessoas que estão passando pela mesma situação?
Eu voltei com meu namorado antes de começar a quarentena, e a gente ficou cinco meses dentro da minha casa sem sair para nenhum lugar, só ia para o mercado e voltava. A gente teve muitos problemas. A minha libido, por exemplo, praticamente zerou na época. Foi muito pesado. Eu não consegui achar táticas de me reinventar nesse momento.
Eu tenho namorado, então é bem mais fácil do que para uma pessoa solteira. Nós temos uma vida sexual muito saudável, a gente já tem uma história de oito anos, então é muito diferente de outras realidades. Mas, para as pessoas que querem se reinventar, eu acho que o autoconhecimento é ideal.
Esse momento sozinho é ideal para você se reconectar com sua energia sexual. Acho que eu recomendaria uma boa dose de exploração do corpo, se tocar nua, se tocar nu. Fazer essa relação consigo mesmo(a), acho que isso funciona muito.