Flertar é traição? Entenda os combinados da monogamia
Ainda que a maioria pense que casais monogâmicos só têm um acordo, o de “não trair”, fica o questionamento: o que, na prática, é traição?
atualizado
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Com os relacionamentos não monogâmicos entrando cada vez mais em pauta, muito se fala sobre como funciona uma relação liberal e como são alinhados seus combinados. Mas, e as relações monogâmicas, não têm combinados para chamar de seus além da “não traição”?
Apesar de maioria achar que existe apenas uma regra, o “não trair”, fica o questionamento: o que é trair? Uma vez que cada indivíduo tem uma ideia diferente do que é uma traição, torna-se necessário conversar sobre isso e alinhar expectativas.
Na teoria, traição é quebrar combinados, independentemente de quais forem. “É uma quebra de confiança, decepcionar o outro mesmo sabendo o que era combinado. Por isso a importância desse combinado não ser automático, subentendido. Ele precisa ser claro para ambas as partes, até mesmo para não acontecer o famoso ‘para mim isso não é traição’”, explica a terapeuta sexual Tâmara Dias.
É justamente para evitar esse ruído que o óbvio precisa ser dito. Afinal, traição é um conceito – há quem ache que só sexo não é trair, enquanto outros podem ver como infidelidade apenas a parte carnal. Há quem flerte sem achar que exista problema nisso, enquanto algumas pessoas já ficam incomodadas, até mesmo, que parceria assista sozinha à série que o casal começou junto.
Modo automático
O fato das pessoas entrarem em um relacionamento monogâmico sem ao menos procurar saber as expectativas sobre fidelidade do outro se deve muito à construção, por gerações e gerações, da monogamia como o certo e normativo.
“Com as mudanças culturais de maturidade, comportamento e crenças das novas gerações, muitos aspectos diferentes passaram a fazer parte das relações, atitudes que antes não eram nem vividas, como a vida on-line. Ter uma conversa franca se torna indispensável. Definir bem os combinados pode evitar muitas frustrações”, indica a psicóloga.
Nesse aspecto, é importante ver um relacionamento fechado da mesma forma que se olha para um aberto: como algo mutável e que deve ser constantemente alinhado ao longo do tempo. As pessoas, individualmente, vão mudando de opinião de acordo com o tempo e com as suas experiências.
“O que se acredita ser o certo ou ideal para sua vida hoje pode se tornar irrelevante para você amanhã. A importância que se dá para determinada atitude pode ser menor no dia seguinte. As mudanças de crenças ocorrem em paralelo com o ganho de maturidade pessoal e emocional”, pontua.
Como chegar lá?
Ainda que pareça algo difícil ou complexo, é um processo que se torna natural com muito diálogo, sinceridade e, principalmente, respeito e aceitação pelo outro e pelo que ele sente. Além disso, Tâmara dá a dica: nunca trate os combinados como “regras”.
“Regras são impostas de forma autoritária e não é legal ter a sensação de ser obrigado a segui-las. Os combinados são bem mais democráticos e passam a sensação de que é algo que se concorda em cumprir, pois participou da sua construção e o aceitou por que está dentro do que se acredita ser o ideal para o relacionamento”, finaliza.