Entenda o slut-shaming, violência vivida por Yasmin Brunet nas redes
Especialista em estudos de gêneros explica o termo que consiste em envergonhar mulheres que vivem a sexualidade
atualizado
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“Constranger a vadia”. “Envergonhar a vagabunda”. A tradução livre do termo em inglês slut shaming é usada para descrever o ato de condenar uma mulher por viver sua sexualidade. O nome parece difícil, mas provavelmente você conhece alguém que já passou por tentativas de constrangimento por simplesmente ter explorado a própria vida sexual. Caso não conheça alguém, você deve ter ouvido falar do caso da atriz Yasmin Brunet, que recentemente foi vítima desse tipo de violência psicológica.
Isso porque, a sogra da modelo alegou ter um suposto vídeo de Yasmin fazendo sexo oral em um homem (cujo nome nem aparece, afinal, o alvo do slut shaming é sempre a mulher). Em resposta às ameaças do mencionado vídeo, a esposa de Gabriel Medina publicou que vive sua sexualidade livremente e não deveria ser julgada por isso.
A Pouca Vergonha ouviu a psicóloga, mestre em estudo de gêneros, Raquel Banuth, para entender a questão. Afinal, como saber se fui vítima de slut shaming, e como agir se acontecer comigo? Confira.
Viver a sexualidade não é errado
“Vadia, vagabunda, promíscua, piranha”. “Ela não é para casar”. Quantas vezes não assistimos mulheres ganharem esses adjetivos simplesmente por viverem a própria sexualidade livremente?
Para Raquel, essa questão não é tão simples, e reflete como a mulher é vista na sociedade patriarcal que atribui ao sexo feminino o papel dentro da família de esposa e de mãe: “E nesse espaço, não cabe uma mulher sexualizada. Isso foge do papel celestial, essa ideia conservadora da conduta feminina”, esclarece a especialista.
Público e privado
Na visão da pesquisadora, casos como o de Yasmin Brunet, acontecem porque as pessoas têm o objetivo de diminuir uma mulher a partir de sua conduta sexual. A intenção do agressor é envergonhar: “Certamente, se fosse o contrário, o homem nem seria exposto. O shaming (vergonha) recai sempre sobre a mulher”, explica.
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E para ela, não podemos falar sobre essas questões sem trazer o espaço público e privado ao debate: “Tornar a sexualidade pública é visto como problema para as pessoas conservadoras. Quando vem à tona que essa mulher vive livremente a própria sexualidade”, aponta.
Afinal, as mulheres são ensinadas desde cedo a não falar sobre sexo. Quando é exposto o fato de uma mulher explorar e mostrar seu prazer, isso soa como uma afronta à essa sociedade conservadora, afinal a mulher sai de um papel que é entendido dentro da família: “Na visão dessa sociedade, aquele ser materno, angelical e amoroso, não tem espaço para sexo”, explica.
“Todas nós temos o direito de viver livremente e se comportar de maneira sexual”, reforça Raquel.
O que fazer?
O caso de vazamento de material íntimo de uma mulher é grave e tem consequências emocionais concretas muito sérias. Quando alguma mulher for vítima desse tipo de violência, a especialista orienta dois caminhos: “O primeiro passo é procurar canais formais de denúncias para se defender. E o segundo é se fortalecer internamente e não ter vergonha de ter acontecido. É fundamental não silenciar”, alerta Raquel.
Liberdade sexual
Por fim, é importante ressaltar que estamos vivendo um momento de recrudescimento da onda conservadora religiosa, mas é possível ter esperança: “São duas forças convivendo. Enquanto uma recrudesce, a outra reage. A onda conservadora religiosa recai diretamente sobre as mulheres e o retrocesso aparece enquanto elas querem viver a feminilidade de outras formas”, esclarece.
“E dessa luta da nova geração, que não aceita mais ser envergonhada pela própria sexualidade, podemos esperar um futuro de mais liberdade para as mulheres”, finaliza Raquel Banuth.