Entenda a sexualidade fluida e o que a difere da bissexualidade
Saiba como a fluidez sexual funciona e entenda por que é errado usá-la como justificativa para discursos normativos
atualizado
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A discussão e o entendimento sobre todas as nuances que existem na sigla LGBTQIAPN+ estão cada vez mais comuns. No que tange às orientações sexuais, um dos termos que tem ganhado visibilidade e ainda gera muitas dúvidas é a sexualidade fluida, que esteve sob os holofotes por conta de declarações de artistas como Alanis Guilen e Vitão.
De acordo com o terapeuta sexual André Almeida, a fluidez sexual é um termo alcunhado por Lisa Diamond para designar uma mudança natural, ao longo da vida dos indivíduos, de orientação, desejo, expressão sexual e identidade. Essa fluidez acontece como parte da complexidade do que é a sexualidade, dado que ela é um produto de fatores fisiológicos e experienciais.
“Assim como acontece com outros aspectos da nossa personalidade, vivenciar coisas novas, se expor a novas culturas, aprender a apreciar novas estéticas e belezas e descobrir novas identidades que lhes vistam melhor podem levar um indivíduo a mudar — em menor ou maior grau e de forma natural — sua percepção acerca da própria orientação e identidade”, explica.
André elucida que é comum vivenciar esse tipo de questão ao longo da vida, uma vez que todos estão em constante mudança em nível fisiológico e experimental. Além disso, ele destaca o fato de que a sexualidade é uma estrutura complexa. Qualquer tentativa de reduzi-la e determiná-la pode ser uma empreitada falida.
“As pessoas descobrem, todos os dias, novas formas de expressão que melhor comportem sua subjetividade. Dessa forma, há pessoas que irão vivenciar maior fluidez e outras que vão passar por uma maior ‘estabilidade’. É importante que aprendamos a conviver com as mudanças. Tudo é válido”, pontua.
A fluidez é NATURAL
Em uma sociedade extremamente normativa que, muitas vezes, chega a tratar diferentes orientações de forma patológica (como se fossem doenças ou desvios), o psicólogo faz questão de ressaltar: uma possível mudança de sexualidade, dentro da fluidez e da subjetividade na qual ela está englobada, acontece de forma natural e espontânea, podendo ser em maior ou menor grau ou nem mesmo acontecer.
“Há muitos estigmas em cima do conceito da fluidez sexual. Há pessoas que o utilizam para justificar movimentos de ‘curas’ e ‘tratamentos’ que têm por objetivo “retificar” orientações, encaixando-as no que foi atribuído enquanto saudável (lê-se heterossexual e cisgênero)”, diz.
Segundo Almeida, por conta disso, muitos movimentos LGBTQIA+ passaram a trazer uma visão da sexualidade de uma forma mais determinística como uma resposta válida para ratificar sua existência, a naturalidade de suas vivências e, acima de tudo, ir de encontro com ideias que ameaçavam sua própria liberdade sexual e seu modo de ser no mundo.
Fluidez sexual não é bissexualidade
Por fim, uma confusão que muitas pessoas fazem é confundir a sexualidade fluida com orientações, como a bissexualidade. É importante entender que tratam-se de coisas diferentes.
“A fluidez sexual pode ser experienciada por qualquer indivíduo dentro de qualquer orientação ou identidade. A bissexualidade, por outro lado, é uma orientação. Existem pessoas bissexuais que podem experienciar uma fluidez sexual. Outras, não necessariamente”, conclui.