Dor e prazer: entenda fetichismo por trás da saga de terror Hellraiser
O reboot lançado este mês retoma a mitologia apresentada por Clive Barker no clássico de 1987, na qual prazer e dor se confundem
atualizado
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Por conta do Halloween, outubro pode ser considerado, oficialmente, o mês do horror. Os cinéfilos de plantão que são fãs do gênero ganharam um presente na última sexta-feira (7/10): a estreia de Hellraiser. O reboot faz parte da saga do filme Hellraiser — Renascido do Inferno, que foi lançado em 1987 e lançou o Pinhead como uma das principais figuras da estética do terror clássico.
“E o que isso tem a ver com sexo?”, você se pergunta. Acontece que toda a mitologia criada por Clive Barker no livro que deu origem ao longa traz uma linha tênue entre duas linhas que podem parecer opostas, mas pra muitas pessoas se confundem: dor e prazer.
No primeiro filme, o protagonista é viciado em sexo e pornografia, e chega ao ponto de acreditar que nada mundano possa mais o satisfazer. Ao saber da lenda da Caixa de LeMarchand — um enigma capaz de abrir um portal para um mundo de prazeres nunca conhecidos —, vai atrás do artefato. Ao abri-lo, ele é enviado diretamente para o inferno, onde novos níveis de excitação são alcançados por meio de tortura.
Essa tortura é realizada pelos Cenobitas, que atuam como uma espécie de demônios e exploram a dor de quem os evoca como uma espécie de “presente”. No reboot de 2022, os precursores de “dor e prazer” voltam para aterrorizar Riley, interpretada por Odessa A’Zion.
Além de trazer o sexo e o fetichismo em torno da dor no próprio modus operandi da história, a saga Hellraiser carrega toda uma estética BDSM, presente, principalmente, no visual do inferno e dos Cenobitas, com muito couro, látex, spikes, entre outros elementos.
O que é o BDSM?
Depois que o mundo pop se apossou do tema (alô, Cinquenta Tons de Cinza), muito se fala sobre o BDSM, mas pouco se entende do que realmente se trata a prática. De acordo com a sexóloga e estudiosa desse universo Erika Thinem em entrevista anterior ao Metrópoles, o movimento se oficializou para separar praticantes sérios de abusadores.
“A sigla é a junção de Bondage e Disciplina, Dominação e Submissão, Sadismo e Masoquismo. O termo foi criado na década de 1980, quando os praticantes perceberam que, com a popularização, foram surgindo abusos e práticas sem controle. O acrônimo trouxe também regras que legitimam os verdadeiros adeptos”, explica.
Para além da dor em si, o prazer envolvido no BDSM está relacionado à dinâmica de obediência e hierarquia. Ou seja, nas sessões há quem sinta tesão em dar ordens e também quem se excite com o fato de ser submisso e, muitas vezes, até humilhado. Isso, inclusive, independe da relação sexual em si.
“Ainda que tenha um grande apelo erótico, principalmente aos olhos dos leigos, não se trata apenas de sexo. Muitas vezes o sexo nem chega a acontecer”, afirma Erika.
É saudável?
Leitores assíduos da coluna já sabem “de cor e salteado”, mas é sempre bom lembrar que, no sexo, tudo é valido, desde que com consentimento e que não cause sofrimento a nenhuma das partes envolvidas. Ou seja, há sim quem sinta prazer na dor – tanto em inflingir quanto em sentir.
“O desejo sexual tem uma parcela psicológica muito forte, então, é importante entendermos que diferentes coisas despertam desejo em diferentes pessoas. Para algumas pessoas a dor desperta excitação, assim como para outras o susto, medo e horror podem ter o mesmo efeito, por exemplo”, explica o terapeuta sexual André Almeida em entrevista anterior ao Metrópoles.
É preciso estar sempre atento para saber quando o fetiche se torna um transtorno parafílico. Segundo o especialista, o transtorno vai desenvolver o sofrimento do indivíduo ou de outra pessoa, o que inclui também o não consentimento.
“Por exemplo, se a pessoa só conseguir sentir tesão com a presença do elemento de fetiche e isso trouxer prejuízo à vida dela, como a dificuldade em engatar comportamentos sexuais não fetichistas, configura-se um transtorno. Se não atrapalhar nem machucar ninguém, não é”, diz.
Para finalizar, é importante lembrar que o consentimento é a chave para qualquer troca sexual segura e saudável. Até por isso, o BDSM conta com regras, como o SSC (são, seguro e consensual) e a palavra de segurança.
“A palavra de segurança é importante para quando a pessoa estiver se sentindo não mais excitada ou com desejo, mas sim com medo e com sensações ruins. Ela é combinada antes e, uma vez dita, a brincadeira acaba”, garante.