Diretora da Playboy sobre crimes no pornô: “Há gente mal intencionada”
Diretora-geral do Grupo Playboy Brasil, Cintia Fajardo fala sobre o combate à ilegalidade na indústria pornográfica
atualizado
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A indústria pornográfica é, sem dúvidas, uma das gigantes do audiovisual. Se na época em que as opções eram fitas VHS e revistas o consumo já era alto, em tempos de internet, streaming e todo tipo de conteúdo a um clique de distância, nem se fala.
Contudo, apesar de trazer temas relevantes, como a sexualidade e o prazer, ainda hoje há muita polêmica envolta na indústria. Uma pesquisa da Universidade de Durham, na Inglaterra, publicada no The British Journal of Criminology, estudou o pornô a fundo e os resultados foram preocupantes.
Durante a pesquisa, foram analisados 131.738 vídeos, coletados entre 2017 e 2018 em três grandes sites adultos: PornHub, XHamster e XVideos. No resultado, foi apontado que 1 em cada 8 vídeos (12% do total) tinha no título palavras como “abusada”, “molestada” ou “sequestrada”.
E vale ressaltar: segundo o estudo, nenhum vídeo fetichista com temática BDSM foi considerado violento ou abusivo. Os termos criminosos apenas foram vistos em conteúdos que davam a entender a real falta de consentimento.
Além disso, 7,7% dos vídeos levava o termo “adolescente”; 4,4% continham alguma indicação de relações sexuais incestuosas (até mesmo entre pais e filhas); e 2,2% envolvia imagens gravadas sem consentimento, com títulos como “câmera escondida” ou “espionando”.
A seriedade da situação faz com que diversos movimentos sejam favoráveis ao fim da indústria pornográfica, uma vez que sites do segmento seriam portas de entrada para divulgação e consumo de crimes.
Para falar sobre o assunto e dar o ponto de vista das empresas que lutam para fazer um trabalho dentro da legalidade, a Pouca Vergonha bateu um papo com Cintia Fajardo, diretora-geral do grupo Playboy do Brasil. Confira:
Hoje em dia, por conta de questões como as levantadas neste estudo, existe resistência por parte de muitos movimentos quando o assunto é pornografia. Na sua opinião, é proporcional culpar toda a indústria quando há pessoas que trazem o pornô de forma mais responsável?
Acredito que não. Há muitas formas de consumir pornografia, mas nem sempre elas estão associadas à legalidade e à qualidade do conteúdo. E isso é muito importante para o desenvolvimento e credibilidade da indústria.
A pornografia traz ensinamentos e prazer positivo para quem sabe usá-la. Mas aos olhos de pessoas mal intencionadas, induz à violência e ao desrespeito contra o próximo, principalmente contra a mulher, infelizmente. Assim como tudo na vida, o consumo deve e pode ser apreciado de forma responsável, consciente e seguro.
Ainda que a indústria pornográfica acabasse, você acredita que o acesso a este tipo de conteúdo criminoso iria acabar?
Acho que não. Com o acesso à tecnologia e aplicativos de gravação de vídeos e fotos digitais, houve um aumento expressivo de material pornográfico sem o consentimento do parceiro(a), e alguns abusos são cometidos de forma irresponsável. Todas as pessoas que se sentirem prejudicadas em relação à sua imagem ou se depararem com cenas que contenham erotização do corpo infantil, estupro, zoofilia ou qualquer tipo de crime sexual devem procurar os órgãos competentes e denunciá-los. Nós fazemos a nossa parte dentro do universo em que atuamos.
Não podemos responder pelas produtoras que atuam no mercado hoje, porque são independentes. Mas podemos sim garantir que nossos contratos sejam cumpridos com as produtoras que contratamos. Temos um canal aberto com toda a indústria, desde atrizes e atores até produtores em si.
Na sua opinião, ainda que demore algum tempo, é possível “limpar” a indústria pornográfica em relação a conteúdos criminosos? Qual a solução?
Há gente mal intencionada em qualquer lugar. No caso do Sexy Hot, por exemplo, através do Sexy Hot Produções, nosso selo de filmes originais, conseguimos acompanhar toda a cadeia de produção. Em todos os nossos filmes o uso de preservativo é obrigatório, ficamos atentos ao elenco, principalmente às atrizes. Esses cuidados acabam passando, de forma implícita e natural, uma mensagem mais educativa.
Todo o conteúdo que temos disponível no mercado possui um controle de idade para ser acessado. As nossas redes sociais, por exemplo, não levam o nome do Sexy Hot no user, mas enfatiza a restrição de idade com o user Só Para Maiores. Todo nosso conteúdo no canal e no site é 100% legal e profissional. Estamos conscientes de que a indústria deve, cada vez mais, se preocupar em produzir um conteúdo mais responsável.
Qual o papel de empresas sérias no combate deste tipo de crime, para mostrar que o sexo e a pornografia podem ser consumidos de uma forma responsável e saudável?
O mercado pornô está cada vez maior e diversificado. Há uma busca crescente por histórias e personagens mais próximos da realidade. Nós do Sexy Hot procuramos não apenas isso, mas também elevar o padrão das produções com mais qualidade na fotografia, na história e nos roteiros. É muito importante que o público que consuma esse tipo de conteúdo procure saber sobre os canais de pornô que acessa, opte por conteúdo legal e que respeite os atores.
Sob o ponto de vista feminino, por exemplo, trabalhamos com produtoras reconhecidas no mercado nacional, algumas compostas por mulheres, incluindo direção, câmera e produção. São elas que comandam a história, há uma preocupação maior com o aspecto artístico e isso inclui os ângulos de filmagem, entre outros detalhes. Tudo isso diz respeito não só à valorização da mulher em cena, mas também ao olhar feminino nos bastidores. Além disso, nas nossas produções levamos em consideração biotipos diversos. Os estereótipos dos atores podem ser diversificados e mais próximos das pessoas comuns.
Sabemos, por meio de pesquisas internas, que apesar da maioria ainda masculinas, existem muitas mulheres hétero, gays e trans que falam sobre o assunto e consomem pornô, então estamos trabalhando para atender também essa demanda de mercado.
Anunciamos, no início do ano, o lançamento de conteúdos mais diversos para 2021. No total serão 12 longas-metragens, 12 curtas-metragens, séries e pílulas de menor duração ao longo do ano. Estamos sempre atentos para melhorar a experiência do usuário, para que ele encontre um conteúdo cada vez mais personalizado para o seu desejo.