Definições preconceituosas de fetiches podem ser prejudiciais à sexualidade
Terapeuta explica o processo de patologização dos fetiches na sociedade ao longo do tempo, o que atrapalha na aceitação dos gostos kinky
atualizado
Compartilhar notícia
Mesmo que a sexualidade seja um assunto discutido com muito mais naturalidade nos dias de hoje, ainda existe muito preconceito no que diz respeito a sexo. Principalmente quando o assunto é fetiche.
Além de serem saudáveis se praticados com consentimento e segurança, os fetiches têm mais adeptos do que se imagina. De acordo com um levantamento da rede social adulta Sexlog, metade de seus 13 milhões de usuários têm interesse por alguma prática fetichista.
Mas o preconceito existe até mesmo nas definições de alguns destes fetiches no Google – que tem seus resultados com base no dicionário Oxford.
Ao buscar por voyeurismo, por exemplo, se encontra a seguinte definição: “Psicopatologia. desordem sexual que consiste na observação de uma pessoa no ato de se despir, nua ou realizando atos sexuais e que não se sabe observada;”
Ao buscar outros fetiches também é possível encontrar termos como “mórbido”, “desordem” e “psicopatologia”. De acordo com o terapeuta sexual André Almeida, esse preconceito vem sendo construído ao longo de muitos anos, desde que se criou uma “norma” para o sexo.
“Desde muito tempo começaram a ser criadas regras sobre o que é certo ou errado no comportamento sexual. Com isso, pessoas que saem daquele padrão de ‘normalidade’ passam a ser consideradas não saudáveis, aberrações, pessoas que precisam de tratamento”, explica.
Mas, vale lembrar, que essa está longe de ser a realidade. O psicólogo reforça que todo e qualquer comportamento sexual que tenha consentimento, não faça mal a ninguém e não coloque o bem-estar de nenhum dos envolvidos em risco é um comportamento normal e saudável.
“São simplesmente pessoas que aproveitam seu prazer de uma forma que sai do que foi convencionado”, afirma.
Aceitação
André aponta que ter definições pejorativas para fetiches pode atrapalhar o processo de aceitação de fetichistas. Mas com a internet e a disseminação de informações, fetichistas puderam identificar outras pessoas com os mesmos gostos e se organizar.
“Esses movimentos sociais de aceitação e colocação social fazem com que as pessoas tenham cada vez mais visibilidade e aceitação. Claro, é um processo longo, ainda tem muito preconceito. Mas, com o tempo, a gente vai conseguir um maior espaço para todos”, diz.