Decentering men: por que algumas mulheres estão descrentes com homens?
Falar sobre a descrença nos homens se tornou cada vez mais comum nas redes sociais; movimento é batizado de “decentering men”
atualizado
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“Tudo o que falamos agora é sobre p*us grandes, ou bolas, ou p*us pequenos. Como é que acontece que quatro mulheres tão inteligentes não têm nada para falar além de namorados? E nós? O que pensamos, sentimos, sabemos?”. Esse questionamento, que voltou a viralizar nas redes, foi feito pela personagem Miranda na segunda temporada da série Sex and the City. O motivo? A obsessão das amigas em falar sobre homens.
Embora tenha ido ao ar pela primeira vez em 1999, a cena soou atual para muitas mulheres, sobretudo aquelas adeptas a um movimento conhecido, hoje, como “decentering men”, ou descentralizando homens, que cresce cada vez mais. Isso se deve em parte ao aumento do pensamento feminista e da mídia na cultura popular, bem como movimentos como #MeToo.
A psicóloga Liliany Souza, especialista em gênero, aponta que a sociedade ainda é patriarcal, ou seja, oprime existências fora do ideal e em que o homem não esteja no centro. “Quando falamos dessa estrutura social, estamos estendendo isso também para a vida das mulheres”, avalia a especialista.
Por mais que pareça algo aparentemente inofensivo, essa estrutura reforça “formas de funcionamento” nos quais a existência feminina se centre no cuidado, seja da relação, seja de outras áreas correlatas a isso, como a família e os filhos.
Além disso, a psicóloga salienta que essa questão “tem uma série de efeitos psíquicos nas mulheres sobre seu ‘papel’ na sociedade.”
Nas redes sociais
Em um vídeo do YouTube, a criadora de conteúdo Jasmin Siri explicou que ela “descentralizou” os homens ao se tornar celibatária por um ano e nove meses. A mulher alegou que isso a tornou “magnética”, ajudando-a a “estabelecer uma base melhor para ser uma parceira melhor para seu próximo relacionamento”.
“Para mim, descentralizar os homens significa descentralizar a heteronormatividade e o gênero. É ver todos como iguais. ‘Desplataformar’ o que a família nuclear, as sociedades ocidentais e o patriarcado historicamente viram como primordial. Praticar o amor e a vida com todos com o mesmo cuidado, atenção e intenção”, comentou, na sequência que viralizou no TikTok.
O que Zara está sugerindo é mais fácil dizer do que fazer. No entanto, é uma medida que pode ajudar a dar mais leveza ou até propósito a existência feminina.
De acordo com Liliany, um dos primeiros passos é a sociedade entender que tanto homens quanto mulheres podem se comportar da mesma maneira nos relacionamentos, sem que haja um julgamento moral. “Um exemplo disso é quando mulheres ficam com várias pessoas e são chamadas de galinha, piranha… Mas quando homens se relacionam com várias pessoas, são garanhões, pegadores, de um modo positivo”, diz.
Para ela, o movimento de “descentralização”, muito parecido com o heteropessimismo (entenda o fenômeno aqui), é emancipatório e ajuda a responsabilizar os homens, que, propositalmente ou não, se beneficiam com a estrutura machista da sociedade.