Conto da carochinha: desmentimos 10 fake news sobre sexo
Com a ajuda da sexóloga Luciana Callimeres, elencamos e desmistificamos 10 mentiras contadas por homens e mulheres
atualizado
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Ao longo da história a sexualidade foi alvo de condenação, culpa, ignorância e, obviamente, muita mentira – sempre considerando, é claro, o contexto, o momento e o nível de informação vigentes.
De acordo com a sexóloga Luciana Callimeres, é muito normal os mais velhos contarem mentiras para as gerações mais novas, visando assustar ou retardar o início da vida sexual. “É uma postura complicada e que pode causar traumas futuros. Eu acho que uma conversa franca é bem melhor, mas tem gente que ainda utiliza dessa artimanha com os adolescentes”, explica a profissional.
O Metrópoles elencou 10 fake news sobre sexo. Confira:
Se não sangrou, não era virgem
Nem toda garota apresenta sangramento quando transa pela primeira vez. “O sangramento ocorre por causa do rompimento do hímen, membrana que fica na entrada da vagina. Dependendo da forma e do local que ela é rompida, há um sangramento mais ou menos intenso”, afirma Luciana.
E mais: sentir dor durante a primeira experiência também é algo que varia de mulher para mulher, pois trata-se de um fator que tem a ver com a parte emocional e a lubrificação vaginal.
Menstruação é tóxica
Um mito da Idade Média é que transar com uma mulher menstruada faria a pele do pênis queimar. “Muitos homens achavam que a menstruação era nociva ao ponto de azedar o vinho, estragar as colheitas e enlouquecer os animais”, diz a sexóloga.
Como na época não existiam calcinhas (e muito menos absorventes), as moças enrolavam panos e prendiam de maneira a segurar o sangue – porém, é claro que volta e meia um desses tampões caía no chão e causava horror e pânico ao redor.
Homens (cisgênero) engravidam
Parece brincadeira, mas não é. As pessoas realmente acreditavam nisso. Essa fake news foi disseminada pelo clero cristão durante a Era Medieval, a fim de controlar a luxúria dos fiéis – se pensassem muito em sacanagem, sobrava pouco tempo e dedicação à oração.
“Segundo os boatos propagados pela Igreja, com exceção da chamada posição papai-mamãe, todas as demais formas de transar eram tidas como antinaturais e, portanto, dignas de proibição”, comenta. “Se a mulher ficasse por cima do parceiro durante o sexo, o homem corria o risco de engravidar. Já se ela se colocasse de quatro para ser penetrada, podia virar uma égua”, completa a especialista.
Mulheres “direitas” não gozam
Durante muito tempo, a Igreja Católica foi responsável por perpetuar as normas que regiam o comportamento dos fiéis na cama. Sexo devia servir somente para a procriação e, portanto, devia ser algo “vapt-vupt”: sem prazer, sem preliminares, sem beijos na boca, sem carícias.
“As mulheres que, mesmo em condições tão deprimentes, conseguiam atingir o clímax não podiam demonstrar muita empolgação, sob o risco de serem consideradas loucas ou até bruxas”, complementa a profissional. No século XIX, as garotas eram orientadas a se “controlarem” no leito depois de se casarem.
Homem gosta mais de sexo do que mulher
“O tesão é o mesmo para os dois”, frisa Callimeres. O que acontece é que, ao longo da história, culturalmente, os homens sempre tiveram maior incentivo para demonstrar seus desejos e se sentir à vontade para falar do assunto – ao contrário das mulheres, educadas a reprimir seus instintos e a associar libido e caráter.
Usar vibrador faz da mulher uma prostituta
Essa ideia dominou os anos 1950, quando a figura da mulher recatada era o ideal vigente e qualquer alusão ao prazer feminino sofria condenações. Felizmente, a Revolução Sexual dos anos 1960 fez surgir vários sex shops e jogou luz sobre o orgasmo das mulheres.
Luciana afirma que utilizar o brinquedo é até melhor para a mulher. “Hoje, sabe-se que o sex toy é um acessório não só de empoderamento, mas funcional em prol da saúde, também, ajudando na lubrificação, combatendo a atrofia vaginal e atenuando vários sintomas da menopausa”.
Masturbação provoca loucura
Até o início do século XX, muita gente – inclusive da comunidade médica – defendia essa tese, embasada pelas teorias do suíço Samuel Auguste David Tissot (1728-1797) que escreveu um longo trabalho condenando o prazer solo.
“Durante muito tempo, os médicos europeus atribuíam os mais bizarros sintomas à prática, como o surgimento de espinhas, crescimento de pelos nas mãos, debilidade, dores de cabeça, espasmos e até deterioração da medula espinhal”, explicou a especialista.
Mulher quando perde a virgindade anda de pernas abertas
Essa crença machista e preconceituosa era bem difundida no início do século passado para assustar as moças e reprimir sua liberdade. “Eu mesma já escutei essa da minha mãe. Mas ter vida sexual ativa não deixa marcas no corpo, como pernas arqueadas ou quadris largos”, revela a sexóloga.
Só bruxas tinham clitóris
Em 1593, um inquisidor médico relatou a existência do órgão pela primeira vez ao investigar o corpo de uma mulher acusada de bruxaria. Ele o descreveu como o “bico do seio do diabo” e, a partir de então, sempre que algum inquisidor o “encontrava”, dizia que a proprietária tinha ligação com feitiçaria. Ao longo da Idade Média, o clitóris ainda foi acusado de ser responsável pela orientação sexual das lésbicas, pela cegueira e pelo desequilíbrio mental.
Ejaculação noturna é coisa do diabo
“Hoje todo mundo sabe que a ejaculação que acontece durante o sono, sem que o homem possa controlar, é algo perfeitamente natural – principalmente na adolescência, fase em que se inicia a maturidade sexual”, explica a sexóloga.
Mas nem sempre foi assim. No século 11, o sujeito que tivesse uma polução noturna devia se levantar e entoar sete salmos como penitência. Na China, acreditava-se que essa ejaculação era obra de um demônio feminino chamado Súcubo, que roubava o sêmen das vítimas de madrugada.