Comparações e status: entenda a obsessão masculina pelo próprio pênis
Assim como Arthur e Caio nas festas do BBB21, é comum que homens depositem todo seu valor e status social no órgão genital
atualizado
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Quem acompanha o Big Brother Brasil 21 pôde perceber que, nas últimas festas, um tema tem sido frequentemente conversado por alguns dos brothers: seus próprios pênis. O capixaba Arthur se gabou de supostamente possuir um órgão de 24 cm, enquanto Caio afirmou ser capaz de colocar os colegas em uma cadeira de rodas. “Moço, o meu dá duas mãos e mais três dedinhos”, disse.
Uma vez que o assunto foi tratado mais de uma vez e em mais de uma festa do reality, as redes sociais reagiram à aparente obsessão dos homens da casa pelas próprias genitálias. De acordo com o terapeuta sexual André Almeida, isso acontece por conta do falocentrismo.
“Nós vivemos em uma sociedade falocêntrica. Ou seja, para a maioria, a identidade do que é ser homem gira em torno do pênis. As características físicas desse órgão não são apenas funcionais, mas também definidoras do valor que o indivíduo do sexo masculino tem frente aos outros”, explica.
Logo, é comum que os homens aprendam não só a comparar seus pênis, mas também a utilizá-los como ratificação de um status social de “homem ideal”, que, via de regra, precisa ser viril, grande, reprodutor, garantidor de recursos etc.
A sexualidade perde
Apesar do falocentrismo colocar a “potência” do pênis como o centro de tudo, o que acaba acontecendo é um paradoxo: a sexualidade desses homens tende a ser prejudicada.
O problema começa no momento em que se deposita todo o valor e segurança de um homem em um órgão fisiológico, que pode funcionar ou não dependendo de diversos fatores psicológicos, ambientais, entre outros.
“É complicado porque no momento da falha do órgão, ele também falha enquanto homem. A maioria dos casos que recebo na clínica de disfunção erétil e de ejaculação estão ligados à ansiedade de desempenho, que é causa adjacente desse medo de não ser bom o suficiente”, diz.
Não só os homens são prejudicados sexualmente pelo falocentrismo, como também as mulheres que vêm a se relacionar com eles. Segundo o especialista, perante uma sociedade falocêntrica, a vagina é vista como o oposto do pênis – algo secundário, passivo e menos valoroso.
Sem contar que o prazer feminino acaba ficando em segundo plano, já que a tendência é que esses homens valorizem apenas a penetração como concretização de colocar seu “poder” à prova e única forma válida de sentir e dar prazer.
“Isso pode prejudicar mulheres que não sentem tanto prazer na penetração, o que acontece em muitos casos. Sabe-se que, para a mulher, o prazer costuma estar relacionado a outros tipos de estímulos, como o do clitóris, que acabam tendo pouco foco nesses casos”, afirma.
Para se desconstruir e evitar que a sexualidade – tanto própria quanto da parceria – seja prejudicada, André garante que o primeiro passo é entender que a identidade masculina não está, de forma alguma, relacionada ao pênis.
“O pênis é apenas um órgão, assim como o braço ou a perna, e não define nada frente à sociedade. É importante compreender que, para um sexo prazeroso, existe um corpo todo para dar e receber prazer, não só um pênis”, finaliza.