Como a gordofobia interfere na sexualidade de mulheres gordas?
A gordofobia é uma realidade latente na sociedade, e interfere em diversas áreas na vida das pessoas, como na sexualidade
atualizado
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A gordofobia, ainda hoje, é uma realidade latente na sociedade, que interfere em diversas áreas na vida das pessoas, como na sexualidade. A atriz Fabiana Karla, durante participação no programa Surubaum, afirmou que existe um olhar sobre mulheres gordas de que elas não seriam sexuais ou interessantes o suficiente.
Além de toda a questão estética e do que a sociedade padronizou como “bonito”, existem preconceitos e crenças errôneas referentes a possíveis limitações dos corpos gordos em fazer sexo e sentir prazer — na mesma linha de pensamento de que pessoas gordas, necessariamente, não são saudáveis.
Segundo a psicóloga e terapeuta sexual Thalita Cesário, a raiz de toda a problemática é o padrão estético da magreza e dos corpos “perfeitos”, que se perpetuou com a internet e com as representações midiáticas, tanto no audiovisual tradicional quanto na indústria pornográfica.
“Os homens aprenderam, com os filmes e revistas adultas, que somente mulheres magras que seguem esse padrão são as que sentem prazer ou as que são atraentes. Não existe uma grande representatividade e diversidade de corpos, apesar de já haver uma maior movimentação para discutir e representar corpos reais”, explica.
Ao mesmo tempo em que marginaliza corpos gordos, a sociedade também os fetichiza, construindo um modus operandi que Fabiana Karla chama de “menina pantufa”: que servem e são boas para ficar dentro de casa, mas causam vergonha para sair com elas na rua. Isso surge da ideia de que se relacionar com mulheres gordas seria algo “errado” ou que precisaria ser feito “escondido”, criando uma aura de fetiche em torno delas.
“Existe a atração física e o desejo por pessoas gordas, afinal elas são também atraentes e desejáveis, mas há também um preconceito de assumir ou ser visto com alguém que está fora do padrão. Segue o mesmo raciocínio de sermos o país que mais mata pessoas trans ao mesmo tempo que somos o que mais consome pornografia com essas pessoas. Vem do fato de não assumir seu real desejo e vontades”, compara.
Além de interferir na forma como são enxergadas na sociedade, os padrões interferem também no jeito que mulheres gordas se enxergam. Em meio a isso, elas precisam encontrar ferramentas para alimentar a autoestima, aceitação e amor-próprio que não é incentivado pelo mundo exterior. Isso, fatalmente, pode prejudicar a sexualidade dessas mulheres.
“A autoaceitação corporal é fundamental na vida sexual das pessoas, promove confiança e permite uma exploração do prazer e da intimidade. A sexualidade está diretamente ligada à autoestima. Com autoconhecimento e autoaceitação, é possível se entender como ser ‘desejante’ e desejável. Por este caminho é que se chega a uma relação íntima, amorosa, prazerosa e saudável consigo e com as outras pessoas”, elucida a especialista.
Para isso, a sexóloga indica, além de psicoterapia e terapia sexual, buscar referências de beleza em pessoas que as representem. “Parar de seguir pessoas que não agregam nesse processo, que usam filtros e que fazem terrorismo alimentar e corporal é um bom passo. Sozinho é um processo mais difícil, mas não impossível. E com acompanhamento profissional, o trabalho se torna mais fácil e assertivo”, finaliza.