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Ciúme e diálogo: como manter a saúde mental no relacionamento aberto

Psicólogo explica como lidar com o ciúme e garantir que um relacionamento seja saudável dentro de uma dinâmica liberal não monogâmica

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Casal deitados rindo juntos - Metrópoles
1 de 1 Casal deitados rindo juntos - Metrópoles - Foto: Maskot/Getty Images

Vez ou outra o assunto de relacionamentos liberais volta à tona; desta vez, foi por causa da declaração de Igor Rickli e Aline Wirley sobre serem um casal não monogâmico e bissexual. Dentre as dúvidas que mais surgem a respeito do assunto, uma das maiores questões é como manter a saúde mental em um relacionamento com esse tipo de dinâmica.

Não é bagunça

Para começar a entender como não pirar, é importante ressaltar que o fato de o relacionamento ser liberal não está relacionado à “bagunça” ou falta de regras – muito pelo contrário. De acordo com o terapeuta sexual André Almeida, quando a relação aberta se dá de forma respeitosa, o que acontece é o total oposto.

“Na verdade, o que se estabelece dentro de uma não monogamia é algo que a monogamia tem que aprender, que é o diálogo, constatação aberta do que está acontecendo, do que se está sentindo. Quando se fala de um relacionamento não monogâmico estruturado, você tem algo muito bem-feito e construído, além de uma aceitabilidade muito maior sobre os sentimentos de ambos, coisa que a gente não vê tanto na monogamia”, explica.

Prova de que essa visão é puramente moralista é que, muitas vezes, ao mesmo tempo que julgam uma relação aberta como “bagunça”, pessoas vivem relações monogâmicas em que mantêm um ou mais casos extraconjugais. “Na verdade é uma não monogamia escondida”, elucida.

Apesar de ser um formato válido e legítimo de se relacionar, o psicólogo faz o alerta: nem sempre – quase nunca — abrir a relação vai servir para resolver algum problema do relacionamento. Logo, é preciso ter cuidado com esse tipo de decisão.

“Na maioria das vezes, os casais estão com problemas relacionados a diálogo, sexo entre outras coisas. Abrir nessas condições, em que o problema é subjacente ao próprio relacionar-se, vai gerar ainda mais problemas. A questão maior está na base da relação, então é interessante que, antes dessa abertura, se resolvam as questões. A abertura vem como um aprimoramento, não uma resolutiva de um problema que está no cerne”, pontua.

É o caso de Lucas*, de 27 anos, que mora junto com a namorada. Dos sete anos de relacionamento, o último foi em uma dinâmica aberta. Segundo o brasiliense, só trouxe melhorias; contudo, estavam muito bem antes de tomar essa decisão. O caminho natural foi de evolução.

“Desde o início do namoro, nós sempre fomos curiosos em relação à não monogamia. Quando surgiu a oportunidade de inserir outras pessoas, nós topamos, principalmente para entender como iríamos nos sentir. Acabou sendo uma experiência muito boa pra ambos, e optamos por abrir”, relata.

O brasiliense reitera que ele e a parceira ainda estão no início dessa experiência – que inclui muito diálogo, novos desafios, ciúmes e regras que são constantemente revisitadas e conversadas. “Foi muito importante definir o que era confortável e aceitável pros dois naquele momento. E revisitar as regras permite que a gente tenha flexibilidade em nos adaptarmos a essa nova realidade”, diz.

Tem ciúme?

Outra crença que existe sobre relacionamentos abertos é que, via de regra, as pessoas não podem ser ciumentas, uma vez que é um sentimento que não existe nessa dinâmica. Porém, o ciúme por vezes aparece. A diferença está na forma que se lida com ele e também em como se leva para o outro.

André esclarece que, mesmo que existam correntes de pensamento que tratam o ciúme como algo puramente construído socialmente, outras linhas teóricas o definem como um sentimento básico do ser humano, a exemplo da alegria ou tristeza. Na psicologia evolutiva, por exemplo, já foram observados em animais comportamentos de retenção de parceria que se assemelham ao ciúme.

“É importante a gente compreender que ele vai aparecer, o negócio é como ele vai se traduzir em comportamentos. Emoções vão aparecer e podem ser desagradáveis, e quando a gente parte para a agressão é um problema, mas a gente pode sentir a raiva e conversar sobre ela com a pessoa. Existem formas construtivas de fazer isso, conversar, explicar o que está sentindo e ouvir o lado do outro”, expõe.

O motivo de as pessoas não conseguirem fazer isso é, justamente, a cultura da monogamia. Uma vez que o ser humano é acostumado socialmente a se relacionar (ao menos abertamente) com uma pessoa só, trata-se de um cenário em que o ciúme não deveria nem chegar a acontecer, quanto mais ser conversado e alinhado.

Quando saber que é a hora?

Assim como não existe nada de errado em defender e se adaptar bem a um relacionamento monogâmico, também é válido enxergar a não monogamia com curiosidade e vontade de experimentar. Mas antes disso é importante respeitar os próprios limites e observar quando é o melhor momento de dar esse passo – tanto no que diz respeito ao casal quanto aos indivíduos.

“É muito importante que a gente primeiro trate bastante da autoestima, da percepção em relação ao pertencimento, e também de entender e aceitar nossos limites relacionais: como é nossa percepção de apego, como funciona a construção que temos de autoconceito, priorização, e sobre a própria individualidade. Isso evita a dependência emocional e serve para qualquer relacionamento”, garante.

Como fazer isso? Terapia – tanto a individual quanto a de casal. O acompanhamento de um profissional é sempre bem-vindo para a construção de uma relação saudável. “Um relacionamento funcional gira em torno de uma construção de diálogo estruturada, e a terapia proporciona um espaço seguro e fértil para que isso aconteça”, finaliza o sexólogo.

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