Durante a Feira Literária de Paraty (Flip 2020), Caetano Veloso relembrou, em meio ao encontro com o escritor Paulo B. Preciado, as consequências que a ditadura militar trouxeram para sua sexualidade.

De acordo com o artista, que ficou preso durante 54 dias por ser considerado um artista “subversivo e desvirilizante”, o cárcere e o espaço muito masculino da prisão militar apagou nele a atração sexual e sentimental por homens. “Fiquei com uma rejeição sexual em relação à figura dos homens que eu não tinha”, disse.

Segundo o terapeuta sexual André Almeida, é comum que experiências traumáticas causem esse tipo de impacto na sexualidade das pessoas. Isso acontece porque a sexualidade, assim como várias outras áreas da vida, passa por toda a carga experiencial do indivíduo.

“Então traumas têm sim potencial de fazer com que um indivíduo crie resistência a uma prática sexual, ou mesmo à sexualidade em si. É possível alterar completamente uma estrutura sexual”, explica.

E se engana que é preciso algo do nível “prisão militar na ditadura” para causar alterações. Para André, a estrutura machista da sociedade atual, por si só, já é traumática o suficiente para os indivíduos e suas sexualidades.

“São impostos para homens e mulheres determinados padrões que às vezes vão contra o que é ser humano e aproveitar essa sexualidade de forma plena e tranquila, gerando assim alguns traumas e questões que perpetuam-se pelo resto da vida”, afirma.

Mas o terapeuta garante que, apesar de ser uma mudança estrutural profunda, a psicoterapia pode ajudar a redefinir diversas questões, principalmente quando se trata de traumas e experiências. A melhor saída é sempre procurar a ajuda de um profissional.

“A grande questão é que aquele trauma gera uma inflexibilização, uma rigidez no comportamento adaptativo, seja ele qual for. A psicoterapia pode ajudar nessa adaptabilidade, e a psicoterapia sexual pode ajudar no foco da sexualidade, do que é esse prazer, e das questões que levaram ao trauma”, indica.