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Aplicativo de consentimento sexual? Saiba por que não é uma boa ideia

Terapeuta sexual explica como funciona o consentimento e alerta para o fato de que, em vez de ajudar, o app pode prejudicar vítimas de abuso

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Foto: Photographer, Basak Gurbuz Derman/Getty Images
Aplicativo consentimento
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Nas últimas semanas, a fala de um delegado australiano viralizou e dividiu opiniões em todo o mundo. O oficial Mick Fuller sugeriu, em uma entrevista, a criação de aplicativos que atestem consentimento sexual prévio. A proposta – que foi considerada “ingênua” por muitos – teria como objetivo ajuda no combate aos crescentes casos de assédio sexual no país.

“Seria incrível se alguém fizesse um aplicativo que pudesse atestar consentimento. Isso poderia ajudar os júris em situações complicadas”, disse o delegado.

Para o terapeuta sexual André Almeida, a ideia da criação desse tipo de aplicativo é preocupante e, em vez de ajudar as vítimas, acabaria favorecendo e dando ainda mais armas aos abusadores.

“Um dos principais argumentos dos abusadores é: ‘a pessoa quis, ela disse que queria antes, ela foi até o motel comigo, já havia transado com ela antes’ etc. Por essa pessoa ter dado um consentimento, ou mesmo um sinal dele, o abusador entende como irrevogável e vitalício”, explica.

É importante que fique bem claro que o consentimento, ato igual a uma permissão dada para toque e atos sexuais, quando dado, pode ser retirado a qualquer momento. “Quando ele for retirado, ele precisa ser respeitado”, afirma o psicólogo.

O problema em torno do suposto aplicativo é que, mesmo “dando um match”, combinando um encontro ou mesmo tirando a roupa, logo depois a pessoa pode mudar de ideia. Contudo, não conseguirá provar que foi abusada, já que o dispositivo mostrará o contrário.

“Consentimento não é marcado em pedra, não precisa ser documentado. Existem milhares de motivos para uma pessoa mudar de ideia sobre fazer sexo: ela pode estar incomodada com algo, estar constrangida ou simplesmente ter perdido o desejo. E tudo bem”, garante André.

Não é não

Se a fluidez do consentimento parece tão óbvia, fica a pergunta: por que, na sociedade em todo o mundo, tem-se a ideia de que a mulher não pode mudar de ideia se já estiver, por exemplo, em um motel?

O especialista explica que isso vem de toda uma estrutura machista, em que homens são, na maioria das vezes, ensinados que o corpo feminino é um objeto que existe para usufruto deles. “A partir do momento que essa mulher diz um não, a nossa compreensão é de tornar um sim, não de respeitá-lo”, diz.

Para mudar essa realidade, têm sido cada vez mais crescentes os movimentos feministas que levantam bandeiras de temas como o “não é não”. Contudo, um aplicativo como esse poderia atrapalhar o processo. “Com esse respaldo dado pelo aplicativo, ocorre uma perigosa quebra de todo o movimento de entendimento dos direitos das mulheres”, finaliza.

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