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Amor livre “raiz”? Acordos da não monogamia podem ter fundo monogâmico

Lua Menezes fala sobre a influência monogâmica na não monogamia e a crença de que relacionamento é apenas sobre sexo, e não sobre afeto

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Mãos de três pessoas juntas em fundo rosa - Metrópoles
1 de 1 Mãos de três pessoas juntas em fundo rosa - Metrópoles - Foto: Nick Dolding/Getty Images

Com maior abertura para pautas de liberdade sexual e fugas ao tradicionalismo, muito tem se falado sobre a não monogamia. O “relacionamento aberto” é alvo de críticas, discussões, estudos e, principalmente, muita curiosidade. Mas vale se questionar: em uma sociedade moldada pelo amor romântico, até o amor livre pode acabar influenciado pelo sistema monogâmico?

De acordo com a especialista em sexualidade positiva Lua Menezes, a resposta é sim. Em um contexto no qual as pessoas são ensinadas pelo amor romântico que o conceito de alma gêmea é real, mesmo nas dinâmicas não monogâmicas pode acabar existindo uma proteção ao “amor verdadeiro”. Na prática, isso pode ser observado na crença de que a não monogamia diz respeito apenas à liberdade sexual e carnal.

Há quem, ao entender que é possível amar uma pessoa e desejar outra, se tornem não monogâmicas para satisfazer esse desejo, mas ainda assim se sente ameaçada em relação ao afeto, ao amor, e cria regras como “pode ficar, mas não pode se envolver”, por exemplo.

“Muita gente acha que a não monogamia é só sobre poder ficar e transar com outras pessoas, e isso é uma visão muito limitada. A não monogamia, além de uma escolha afetiva e sexual, é uma escolha política. Diz respeito a valores muito maiores, quebrar a ideia de posse e entender que não somos donos dos desejos e da individualidade do parceiro e nem de ninguém”, explica.

Em outras palavras, é importante entender que a não monogamia é, de forma prática, deixar o outro livre para desejar e, caso aconteça, amar outras pessoas, sabendo que isso não vai interferir em nada no desejo e amor que a parceria sente por você. Viver a não monogamia desta forma é o que Lua chama de amor livre “raiz”. “Sou uma idealista, acredito que o amor mais pleno deixa livre, quer o outro feliz, não quer o outro limitado”, defende.

Sobre amar mais de uma pessoa, Lua deixa claro: é óbvio que é possível amar mais de uma pessoa; e o sentimento por uma não anula o sentimento por outra. “Isso de anular é uma lógica de escassez de amor, sendo que a gente já sabe e vive a abundância de amor em outras relações. Amamos mais de uma amiga, mais de um familiar, mas inventaram que, na dinâmica romântica, só é possível e verdadeiro se o amor for direcionado a uma pessoa só”, elucida.

A não monogamia e os sentimentos humanos

Apesar de parecer tudo muito fácil, é importante entender que, ainda que se viva um amor livre, será necessário saber conviver e lidar com os sentimentos que vão surgir. Por mais “desconstruída” que a pessoa seja, ela foi socializada no sistema monogâmico e do amor romântico. Ou seja, vai existir ciúmes, inveja, insegurança, medo do abandono. O segredo é aprender a lidar com essas sensações da melhor forma possível.

Além de sexóloga, Lua é autora do livro Rio Profano, um romance erótico não monogâmico e, de alguma forma, autobiográfico. Nele, a protagonista Mel é uma mulher livre que se encontra em uma dinâmica de trisal e precisa acolher seus “monstros” no momento em que percebe que está sentindo ciúme e posse em relação a um dos parceiros.

“Guardar esses monstros no armário só os fortalece. Eu sentia vergonha por estar sentindo ciúme e tentava reprimi-lo, me julgava, sendo que ter ciúme é totalmente natural. A melhor forma de lidar com esses sentimentos é a autocompaixão, se acolher”, indica Lua.

Mesmo sabendo da influência da monogamia e da existência do amor livre “raiz”, é importante a autocompaixão também nesse ponto: não é errado estipular combinados ou “regras” na não monogamia, desde que elas façam sentido para os envolvidos e aconteçam sempre com muito diálogo.

“Às vezes, os combinados são importantes porque, diferente da monogamia, que vem com um tutorial do que fazer ou não fazer, a não monogamia é uma ‘terra sem mapa’. Para algumas pessoas, ficar totalmente sem regras funciona, mas para outras gera ansiedade, por exemplo. Os acordos podem ser muito saudáveis”, argumenta.

Quero tentar a não monogamia. E agora?

Por fim, para quem tem curiosidade e vontade de viver o amor de forma livre e sem posse, Lua afirma que não acha que exista um momento certo para tentar. O que deve guiar o processo é a vontade legítima e segura de tentar a não monogamia. E, além disso, muito estudo e informação sobre o tema.

“Tem muitos livros legais sobre o assunto. Eu recomendo A Ética do Amor Livre, de Janet Hardy e Dossie Easton; e também minhas lives, podcasts e outros materiais sobre o assunto. É legal também ter exemplos de outros relacionamentos, não para fazer igual, mas ter referências, saber o que bate ou não com você”, diz.

Sobre levar a proposta à parceria, a dica de ouro é: comunicação clara e não violenta. Mas é importante entender que o(a) companheiro(a) pode não querer experimentar a dinâmica, e está tudo bem. Contudo, fique atento(a): não querer viver um amor livre não é justificativa para te julgar por ter proposto.

“Não é legal fazer com que você sinta vergonha, se sinta culpada ou errada por externar sua vontade. Assim como a pessoa tem o direito de não querer, você tem todo o direito de propor”, finaliza.

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