Afinal, será que todos temos tendências bissexuais?
O Dia da Visibilidade Bissexual é comemorado nesta quinta-feira (23/9)
atualizado
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A bissexualidade é só uma fase? Será que ao longo da vida todo mundo vai se descobrir bissexual em algum momento? Ter atração pelo mesmo sexo torna um indivíduo bissexual? Toda mulher é meio lésbica? A heterossexualidade é algo imposto pela sociedade?
Essas e outras perguntas, carregadas de tabus ainda rondam o tema da bissexualidade. E a letra B da sigla LGBTQIA+ é uma das que, como tantas, sofre e ainda hoje é vista como uma orientação sexual duvidosa e polêmica por muitas pessoas.
Neste 23 de setembro celebramos o Dia da Visibilidade Bissexual em alusão ao falecimento de Freud, o pai da psicanálise, e vamos falar sobre o tema na Pouca Vergonha.
As pesquisas sobre o assunto são amplas, diversas e atravessam décadas, mas não há consenso. No ano de 1948, Alfred Kinsey criou uma escala para medir a sexualidade humana, enfatizando a diversidade. Apesar de criticada, por não incorporar a transexualidade, por exemplo, ela revolucionou os estudos sobre sexo. E abriu portas para o debate das escalas que preenchem de um polo ao outro quando se fala de hétero e homossexualidade.
Mas afinal, todos temos predisposição à bissexualidade?
O terapeuta sexual André Almeida, reforça que a sexualidade não é imutável, e depende dos nossos desenvolvimentos, experiências e como fomos socializados: “São muitas formas de expressar a sexualidade, algumas mais restritas direcionadas para um único gênero e outras mais variadas”, esclarece. Ele explica que falar que todos podem ser Bi é uma afirmação complicada pois a bissexualidade não é só orientação: “É também um movimento social e de identificação”, afirma.
Mas é possível dizer que todos têm potencial para sentir prazer e orientar-se com muitas estruturas: “A bissexualidade é uma das formas de funcionar enquanto orientação, dentro do que é saúde sexual”, defende.
Meio a meio?
E engana-se quem pensa que bissexual é quem sente atração 50% por homem e 50% por mulher. Existe uma flutuação entre esses extremos e muitas pessoas ao longo da vida podem experimentar relações homoafetivas e não serem bissexuais.
Para Marcos Santos, sexólogo da Plataforma Sexo sem Dúvida, a manifestação da orientação bissexual vai depender de cada pessoa, do momento em que ela se encontra e, quais são os focos de seu desejo sexual. Além disso, não é necessário que a pessoa se sinta igualmente atraída por homens ou mulheres: “Não há regras para a bissexualidade como não há regras para qualquer orientação sexual”, informa.
É uma fase?
Apesar de muita gente ter contato com experiências bissexuais na adolescência, ser bi não significa ser uma pessoa indecisa: “Não se trata então nem de experiências isoladas, nem de um determinismo biológico. Significa que houve um processo de autoconhecimento e autoaceitação, e a pessoa entendeu que é possível sentir atração por ambos os sexos e que isso não é um desvio de comportamento e nem mesmo um problema social”, defende Marcos.
Fetiche x Preconceito
Os especialistas lembram que os bissexuais sofrem preconceitos dentro e fora da comunidade LGBTQIA+. Por exemplo, a bissexualidade feminina é fetichizada, e mais aceita na sociedade por satisfazer a ideia de algumas fantasias machistas de duas mulheres juntas. Enquanto a bissexualidade masculina é rechaçada pelo comportamento machista imposto pela sociedade.
Na visão da psicóloga sexual, Michelle Sampaio, quando uma mulher já teve relacionamentos com outras mulheres, isso é aceito em relacionamentos heterossexuais posteriores: “Já os homens que tiveram relacionamentos com outros homens, sofrem preconceitos inclusive por mulheres”, afirma a especialista.
Flutua
A especialista em sexualidade humana, Michelle Sampaio reforça que na prática, algumas pessoas tem atração por um único sexo ao longo de toda a vida. Ou ainda pode estabelecer vínculos afetivos com um gênero e depois outro, e não simultaneamente pelos dois gêneros: “A ideia da bissexualidade de que a pessoa tem que estar o tempo todo interessada por mais de um gênero não é verdade”, esclarece.
Por fim, os especialistas concluem que a orientação sexual é um movimento fluido, que passa por mudanças ao longo da vida de cada um: “E as pessoas fluem nesses espaços”, finaliza Michelle. Assim como na música Flutua, de Johnny Hooker: “Ninguém vai poder querer nos dizer como amar”.