Pressão do PT barra compra de blindados israelenses por R$ 1 bilhão
Licitação do Exército para compra de blindados da empresa israelense Elbit Systems estaria parada por “questões ideológicas”, diz José Múcio
atualizado
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O Exército recuou na compra de 36 blindados da empresa israelense Elbit Systems, em licitação por R$ 1,2 bilhão aberta em abril deste ano. O motivo foi a pressão de dirigentes do PT e parlamentares governistas contra a aquisição de material bélico israelense em meio à guerra contra o grupo terrorista Hamas. O argumento é que o dinheiro do governo brasileiro seria usado para acirrar o conflito na Faixa de Gaza e no Líbano.
A resistência do PT e da bancada governista foi confirmada pelo ministro da Defesa, José Múcio, durante evento na Confederação Nacional da Indústria (CNI). “Houve agora uma concorrência, uma licitação, e venceram os judeus, o povo de Israel. Mas, por conta da guerra, do Hamas, os grupos políticos, nós estamos com essa licitação pronta, mas por questões ideológicas nós não podemos aprovar”, disse Múcio.
O ministro argumentou ainda que a licitação havia recebido parecer favorável do Tribunal de Contas da União (TCU). No entanto, o cancelamento dos contratos entre o Brasil e Israel é defendido abertamente pelo vice-presidente nacional do PT, Washington Quaquá, e por parlamentares do PT, PDT, PCdoB e PSol, além de, mais discretamente, pelo chefe da assessoria especial de Lula, o ex-ministro das Relações Exteriores Celso Amorim.
A polêmica teve início em março com a publicação, pela coluna, de matéria sobre a contratação, sem licitação, de outra empresa israelense, a Israel Aerospace Industries LTD, para manutenção de duas aeronaves remotamente tripuladas da Força Aérea Brasileira (FAB). O valor da contratação era de R$ 86 milhões. O contrato estabelecia a prestação de serviços, por demanda, de suporte logístico ao sistema de duas aeronaves Heron-I, compradas pela Polícia Federal (PF) em 2009 por R$ 27 milhões, em um programa de vigilância que foi encerrado depois de mais de R$ 150 milhões em despesas.
Após a divulgação do acordo, a deputada Fernanda Melchionna cobrou explicações do Ministério da Defesa sobre a contratação, afirmando que “a continuidade de qualquer tipo de contrato entre Brasil e Israel se mostra como forma de financiar a continuidade do massacre histórico do povo palestino”.
O vice-presidente do PT, deputado Washington Quaquá, também se manifestou. “Israel não tem uma aliança estratégica com o Brasil. É preferível fazer acordos com a Itália e a França, que são muito próximas do Brasil do ponto de vista militar. A França já faz submarinos com a gente. No mercado, tem China, Rússia e, mesmo, os Estados Unidos”, argumentou.
“Não vejo por que o Brasil deva manter contratos com Israel, que não tem relevância geopolítica para nós. Pelo contrário, só nos traz problemas. E, hoje, é um país genocida”, afirmou Quaquá à coluna.
Jandhira Feghali, do PCdoB, defendeu que o governo brasileiro avalie quais contratos com Israel poderiam ser cancelados, “tanto na questão do fornecimento [se há serviços que apenas Israel pode oferecer] quanto se é possível do ponto de vista administrativo”. Max Lemos, do PDT, levantou dúvidas sobre a confiabilidade do material comprado de Israel, depois que o Brasil declarou posicionamento contrário ao conflito em Gaza.
“Nosso Ministério da Defesa tem que estudar alternativas com urgência para não depender de Israel, haja vista que o próprio governo brasileiro criou atritos com o governo israelense. Importar recursos bélicos de Israel, em meio a uma escalada de tensão, gera insegurança. Podemos confiar 100% nesses produtos que estamos recebendo?”, indagou.
Nesta quarta-feira (17/10), Israel confirmou a morte do líder do Hamas, Yahya Sinwar, suposto mentor dos ataques a Israel em 7 de outubro de 2023. De acordo com as forças militares israelenses, Sinwar foi morto em confronto entre tropas de infantaria e combatentes do grupo terrorista durante patrulha de rotina em Rafah, no extremo sul da Faixa de Gaza.