Policial que tomava R$ 400 mil de cafetões é demitido por Derrite
Agente da Polícia Civil demitido por Guilherme Derrite integrava esquema de extorsão mensal a exploradores de pontos de prostituição e jogos
atualizado
Compartilhar notícia
Secretário de Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite (foto em destaque) demitiu o agente de polícia Anderson Maciel de Moraes, envolvido em um esquema de extorsão que arrecadava cerca de R$ 400 mil por mês. Anderson Moraes era responsável por recolher dinheiro das vítimas, entre elas, donos de pontos de prostituição e comerciantes ligados a jogos de azar no centro da capital paulista.
O agente foi preso após denúncia de comerciantes. Na casa dele, a Corregedoria de Polícia Civil e o Ministério Público de São Paulo (MPSP) encontraram R$ 300 mil em espécie, além de 47 porções de cocaína, 16 porções de maconha e 6 porções de crack, prontas para a venda.
O policial foi monitorado por dois meses antes de ser detido, em 2019. Durante a investigação, a Corregedoria flagrou os encontros de Moraes com as vítimas, nos quais o dinheiro da propina era entregue. Em troca, o agente se comprometia a não apreender o material da contravenção e avisar sobre operações policiais com antecedência. Uma das vítimas contou que pagava R$ 2,8 mil por mês a Moraes para que ele não interferisse em seus negócios.
Moraes também telefonava para as vítimas com o objetivo de lembrar as datas de pagamento. As conversas foram interceptadas por escutas telefônicas autorizadas pela Justiça. Em um dos diálogos, o policial pergunta a um empresário, dono de máquinas caça-níqueis, se pode buscar o dinheiro.
“Posso passar lá?”, questiona Moraes.
“Opa! Que dia é hoje?”, responde o lojista.
“Hoje é dia 30”, diz o policial.
“Eu nem estava lembrando de você hoje”, admite a vítima.
“É, mas eu lembro de você”, diz o agente.
O homem então garante fazer a entrega do dinheiro.
“Eu vou me preparar aqui, meu amigo, é… Amanhã é dia 31 ou hoje é o último dia?”, pergunta.
“Amanhã, 31”, responde Moraes.
“Então amanhã eu deixo lá”, confirma o comerciante.
Anderson Maciel de Moraes atuava no 12º Distrito Policial, no Pari, e era um dos responsáveis pela segurança na Rua do Brás, um dos principais polos comerciais da região. A operação que prendeu o agente também cumpriu mandados de busca e apreensão no 3º Distrito Policial, em Campos Elísios, na área conhecida como “cracolândia”.
Na delegacia, que abrange a Rua Santa Efigênia, importante ponto de comércio de eletrônicos de São Paulo, foram encontrados anabolizantes, crack, maconha e anotações de contabilidade. Nos armários de dois policiais alvos da investigação no 3º DP, o MPSP localizou grande quantidade de maconha e crack. Como os agentes não estavam na delegacia e não havia mandados de prisão contra eles, ninguém foi detido em flagrante.
Denúncia
Moraes foi denunciado por extorsão e tráfico de entorpecentes. Ele conseguiu o relaxamento da prisão dias depois da operação do MPSP e respondeu ao processo em liberdade. O agente foi condenado à prisão em regime semiaberto, recorreu da sentença no Superior Tribunal de Justiça (STJ), mas teve sua apelação negada.
O policial foi demitido a bem do serviço público por Guilherme Derrite após a conclusão de um Processo Administrativo Disciplinar (PAD). A investigação interna apontou o descumprimento dos artigos 74 e 75 da Lei Orgânica da Polícia Civil de São Paulo, que punem “procedimento irregular de natureza grave” e a prática de “ato definido como crime hediondo, tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, e terrorismo”.