PMs discutiram se matariam bebê de 2 meses em chacina que marcou o RJ
Integrantes da Polícia Militar do Rio de Janeiro (PMRJ) cogitaram matar até bebê para apagar rastro em chacina na capital fluminense
atualizado
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Integrantes da Polícia Militar do Rio de Janeiro (PMRJ) discutiram se deveriam matar crianças e até mesmo um bebê de dois meses durante chacina que marcou a história do Rio de Janeiro. Após invadirem uma residência em Vigário Geral e executarem adolescentes e adultos que estavam no local, os PMs se desentenderam sobre a execução dos demais.
Na linha de tiro estavam Núbia, de 9 anos, Vitor, de 7, Luciane, de 6, Derek, de 4, e Jaíne, então com dois meses de vida. Com um lençol colocado sobre sua cabeça, para não ver o rosto dos policiais, Núbia ouviu oito familiares implorarem por suas vidas antes de serem executados. Em seguida, teve início o diálogo que marcou a sua vida.
“Vamos matar as crianças”, disse, exaltado, um PM que parecia coordenar a ação.
“As crianças são inocentes. Elas não têm nada com isso. Vamos embora”, respondeu outro policial, igualmente enérgico.
“Vamos embora nada. Elas têm que morrer também”, replicou o primeiro, com medo de serem reconhecidos de alguma forma.
“O dia já vai clarear. Vamos embora”.
Assustada com os tiros e com a discussão acalorada, a bebê Jaíne chorava e aumentava a ira do PM que defendia a execução de todos na residência. Após cerca de 30 minutos da maior tortura mental da vida de Núbia, ela e seus primos pequenos foram deixados, com vida, na residência.
Antes de abandonarem a casa, porém, os PMs executaram Luciene Santos, de 15 anos, Rúbia da Silva, de 18, Luciano Santos, de 23, Lucineia Santos, de 26, Gilberto Cardoso, de 61, e Jane Santos, de 53, que morreu agarrada à Bíblia.
Revelações sobre o caso estão no livro “Massacre em Vigário Geral: os 30 anos da chacina que escancarou a corrupção policial do Rio”. Lançada pela editora Record, a obra é fruto de uma minuciosa apuração dos jornalistas Elenilce Bottari, Elba Boechat e Chico Otavio.
A chacina matou 21 inocentes e levou 33 policiais ao banco dos réus. No livro, é possível conhecer as raízes da milícia que, hoje, tomou conta de grande parte do estado. Impactantes, as fotos que ilustram o livro foram feitas por fotojornalistas que, à época, cobriram o massacre pelo jornal O Globo.