PM é expulso ao cobrar propina do PCC para liberar tráfico
Soldado integrava equipe que pedia dinheiro para não prender traficantes do PCC; caso levou 53 militares ao banco dos réus
atualizado
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O soldado Michel Barbosa Coelho, do 48º BPM, foi expulso da Polícia Militar de São Paulo (PMSP) por se aliar ao Primeiro Comando da Capital (PCC) em troca de propina. O militar está entre os 53 PMs presos pela Operação Ubirajara, denunciados por cobrar dinheiro e outras vantagens para deixar de prender traficantes ligados ao PCC que atuavam no Jardim Marajoara, em São Paulo.
Coelho atuava no 22º BPM/M quando foi preso. A denúncia do Ministério Público aponta que o soldado integrava uma equipe que negociava valores com o traficante identificado como “Revolta”, para facilitar o funcionamento de um “comércio” de drogas.
As gravações mostraram que o cabo Dário Satilite, conhecido como “Habbib’s”, era quem intermediava o contato da equipe com o PCC, combinando locais e horários para o pagamento de propina.
REVOLTA: E aí, Habbib’s!
CB PM SATILITE: E ai moleque, suave?
REVOLTA: (…) farol de baixo.
CB PM SATILITE: Não entendi.
REVOLTA: Suave!
CB PM SATILITE: E aí? O menino falou pra eu encostar lá no coisa lá, e aí?
REVOLTA: Então, a caminhada é o seguinte, vou ligar nele aqui que já estava na mão com ele lá, entendeu? vou ligar nele aqui e falar pra você ir lá na rua lá, na, sem embicar lá o comércio, uma rua do lado lá entendeu?
CB PM SATILITE: Sei, ele falou pra eu ir lá em baixo lá, atrás do escadão lá.
REVOLTA: É. Então, vou ligar nele aqui agora.
CB PM SATILITE: (…) fala pra ele ir lá que eu já estou lá já.
REVOLTA: Tá bom, suave!
CB PM SATILITE: O, o, deixa eu falar pra você…
REVOLTA: Ãn?
CB PM SATILITE: O Indiana Jones conseguiu desenrolar o mês passado aí meu?
REVOLTA: Conseguiu!
CB PM SATILITE: Não, beleza! Suave!
REVOLTA: Falou!
CB PM SATILITE: Falou!
A presença de Coelho na viatura nos dias em que o dinheiro era entregue foi confirmada pela análise do boletim de serviço do 22º BPM/M. As equipes investigadas pelo MPSP recebiam entre R$ 500 e R$ 1,5 mil mensais para permitir a venda de drogas.
Segundo a denúncia do Ministério Público, o papel dos policiais era “não reprimir a prática do delito de tráfico, bem como facilitá-lo, não passando de viatura policial próximo aos pontos de venda, informando acerca de alguma operação policial pelo local e até mesmo alterando a verdade em documentos públicos para que não ocorresse apreensão de droga ou a prisão dos traficantes”.
Dos 53 PMs presos pela operação Ubirajara, 42 foram condenados a penas que variaram de 5 a 83 anos de prisão, no que ficou conhecido como o maior julgamento militar do Brasil.