PF já foi alvo de acusações de Gleisi Hoffmann e não abriu inquérito
Críticas à Polícia Federal foram feitas pela presidente do PT na tribuna do Senado e não ensejaram abertura de inquérito pela PF em 2017
atualizado
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Antes das críticas e acusações que recebeu este ano de deputados da oposição, a Polícia Federal foi alvo de um duro discurso da presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann. Na ocasião, em 2017, nenhum inquérito foi aberto pela corporação contra a parlamentar.
Em meio às denúncias de corrupção contra Lula e petistas, a então senadora usou o plenário do Senado para atacar a forma de atuar da PF durante o governo Michel Temer, afirmando que a corporação atuava fora da lei, causava suicídios e “fazia operaçãozinha” para aparecer na televisão. Neste mês, os deputados da oposição Marcel Van Hattem (Novo) e Cabo Gilberto (PL) foram indiciados pela Polícia Federal, pelos supostos crimes de calúnia e injúria, por discursos proferidos contra o delegado Fábio Shor na tribuna do parlamento.
Disse Gleisi: “É uma total desvalorização do enfrentamento à corrupção que nós temos que fazer, chegando ao absurdo de hoje nós termos a Universidade Federal de Minas Gerais invadida pela Polícia Federal, e a reitora e seus dirigentes sendo levados coercitivamente, tratados como bandidos. Eu pergunto à Polícia Federal: a missão de vocês não era estar na fronteira deste país? Lá na fronteira do meu estado, o Paraná, com o Paraguai, Argentina, atrás de traficantes de drogas que estão invadindo este país e levando nossas crianças a se tornarem dependentes? O que vocês estão fazendo contra o tráfico?”.
“Entrar numa universidade é fácil, tirar de lá a reitora, entrar na universidade como vocês entraram em Santa Catarina, causando o suicídio do reitor, é fácil, é moleza. Entrar na casa do Lula, também, na minha casa, na casa de qualquer um aqui. Cadê vocês na fronteira? Onde estão combatendo o tráfico de drogas neste país? Eu quero saber qual é a operação que vocês estão fazendo. Pois bem, porque combater a corrupção não é essa cineminha que vocês estão querendo dar ao povo brasileiro”, criticou a atual presidente do PT.
Em seu discurso de 2017, Gleisi Hoffmann também questionou os alvos das operações da PF. “Eu lembro que em 2003 a Polícia Federal tinha problema de autoestima. Ninguém acreditava na Polícia Federal. Fomos nós que estruturamos a Polícia Federal, que demos condições para ela atuar. Então, atuem de acordo com a lei. Tenham coragem. Parem de fazer operaçãozinha para sair na Rede Globo. Façam operação lá onde precisa, combatam o que efetivamente está levando este país à lona”, disse.
Em seu pronunciamento, Gleisi Hoffmann questionou a operação sobre um suposto desvio de recursos da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que levou o então reitor da instituição a prestar depoimento. Antes disso, afirmou que a prisão do reitor da Universidade Federal de Santa Catarina, Luiz Carlos Cancellier, teria levado o professor ao suicídio.
A Constituição Federal estabelece que “deputados e senadores são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas opiniões, palavras e votos”. Responsável pelo relatório que indiciou Van Hattem, o delegado da PF Marco Bontempo argumentou: “Consagradas como garantias constitucionais, tanto a liberdade de expressão quanto a imunidade parlamentar não possuem (assim como nenhum outro direito fundamental) caráter absoluto”.
Indiciamentos
Nesta terça-feira (26/11), a PF indiciou mais um deputado por críticas feitas à instituição na tribuna da Câmara. Cabo Gilberto havia questionado a atuação do delegado Fábio Shor, que atua em casos como a investigação sobre os atos antidemocráticos de 8 de janeiro e sobre o plano para matar o presidente Lula, o vice Geraldo Alckmin e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes.
“Fui indiciado pela Polícia Federal do presidente Lula. Roubei? Matei? Trafiquei drogas? Pratiquei corrupção? Não! Apenas cumpri com o meu dever; fiz denúncias na tribuna da Câmara dos Deputados sobre a conduta do delegado Fábio, que está à frente de vários inquéritos ilegais contra inocentes brasileiros”, disse.
Neste mês, outro deputado, Marcel Van Hattem (Novo-RS), foi indiciado por supostos crimes de calúnia e difamação contra o mesmo delegado da PF. “Não tenho medo de falar e repito: eu quero que as pessoas saibam, sim, quem é este dito policial federal que fez vários relatórios absolutamente fraudulentos contra pessoas inocentes, inclusive contra Felipe Martins [ex-assessor de Bolsonaro na Presidência]”, afirmou Van Hattem.