“Lula está conseguindo ampliar sua base”, diz ministro Renan Filho
Em entrevista à coluna, Renan Filho afirmou que estruturar uma base no Congresso não é fácil mas avaliou positivamente a articulação de Lula
atualizado
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Ministro dos Transportes, Renan Filho (MDB) acredita que Lula tem conseguido ampliar sua base. Apesar de o presidente estar longe de consolidar maioria no Congresso, o ministro aponta evolução. “Se o União Brasil não veio todo para a base, ao menos veio uma parte. Antes, era todo contra. Ordenar a agenda que o governo deseja no Congresso não é uma arquitetura simples”. Confira a íntegra da entrevista concedida à coluna.
Quais os principais desafios que o senhor detectou nesses primeiros meses à frente do ministério?
O Brasil é um país de dimensão continental e, ao longo dos últimos anos, pela imposição do teto de gastos, transformou-se, entre as grandes economias, no país que menos investe no mundo.
Menos investe com recursos públicos, menos investe com recursos privado, e menos no somatório dos dois. Isso é algo muito danoso para infraestrutura nacional e para a competitividade da nossa economia. Esse cenário precisa ser modificado.
Qual tem sido a sua prioridade para esses primeiros cem dias na pasta?
Recuperação da malha, duplicação de rodovias, pontes, muitas obras. Uma ponte gigantesca sobre o Rio Araguaia que começou com a Dilma e nós vamos terminar. A Ferrovia Norte-Sul, que é investimento privado. A duplicação de rodovias como a BR-116 em Minas Gerais, a BR-116 na Bahia, a BR-101 em Alagoas e em Sergipe.
A imprensa, de maneira geral, explora o início do governo para aferir se o governo está andando mais ou menos que o governo anterior. É óbvio que o atual governo está andando muito mais, porque vai fazer um investimento muito maior.
Por conta da PEC da Transição, estão previstos R$ 21,7 bilhões para o Ministério dos Transportes em 2023. Orçamento robusto…
Representa mais do que os quatro anos do governo Bolsonaro em investimento em transportes. Em um ano, nós vamos fazer o que eles fizeram em quatro, por isso é que que não tem comparação.
Qual a marca que o senhor quer deixar no ministério?
Acho que uma boa marca é a gente enfrentar os desafios. Hoje a gente tem 66% das rodovias brasileiras classificadas como ruins, péssimas ou regulares. A gente chegar num nível adequado, comparativamente à experiência internacional, é importante. Quero reduzir esses 66% para 20%.
O Departamento Nacional de Infraestrutura dos Transportes (DNIT) é um órgão historicamente envolvido em casos de corrupção. Há em curso alguma política pública para coibir desvios?
O DNIT é um órgão que faz muito investimento, mas também evoluiu muito em transparência e integridade. Nós estamos tocando essa agenda em proximidade com outros órgãos de fiscalização e também o controle externo junto ao Tribunal de Contas da União. Essa é uma agenda fundamental. Eu quero garantir que o DNIT seja o órgão mais transparente do governo federal.
Alguns aliados de Lula, como Lindbergh Farias, dizem que o governo tem feito muitas concessões a Arthur Lira. O senhor avalia o mesmo? Por que a dificuldade para montar uma base continua?
O presidente Lula já ampliou muito a sua base com relação à eleição. Trouxe o MDB ainda no segundo turno e depois trouxe para o governo. Trouxe o União Brasil. Não veio todo, mas trouxe uma parte, porque antes era todo contra. O PSD, por exemplo, veio para o governo.
Então, muito ou pouco, o governo ampliou com relação à sua base eleitoral. Agora, iniciando o ano legislativo, essa base vai entrar em teste, votação a votação. Eu sinto que o presidente está fazendo um esforço para ampliar mais, conversando com partidos de centro, com o presidente da Câmara, com o presidente do Senado.
Lula tem experiência suficiente para medir a temperatura das necessidades do Congresso Nacional, para ordenar a agenda que o governo federal deseja ver em tramitação no Congresso. Isso não é uma arquitetura simples.
As recentes declarações de Lula atrapalham a governabilidade? Falar em “golpe” quando o MDB, o partido do senhor, votou a favor do impeachment. Recolocar Sergio Moro no cenário nacional…
Sobre golpe, o presidente Lula vem cada vez falando menos, até porque o resultado disso tudo foi o retorno do Lula à Presidência da República. Ele vem diminuindo esse discurso. Essa declaração sobre Sergio Moro foi quase que num tom de informalidade. Certamente o Moro passou muito mais do limite legal, moral, como coordenador da Operação Lava Jato, do que essa declaração do presidente.
O senhor quase chegou a ser ministro do Planejamento. No embate entre Gleisi Hoffman, presidente do PT, e Fernando Haddad, ministro da Fazenda, o senhor fica com quem?
Eu penso mais próximo do ministro Haddad, apesar de respeitar as posições da presidente Gleisi. Ela tem uma base ideológica sólida e de representação. Mas eu penso mais próximo do que pensa o ministro Haddad. Talvez por isso eu tenha sido lembrado para ser ministro do Planejamento.
Jair Bolsonaro está vivo politicamente?
Eu acho que a direita no Brasil está viva. Bolsonaro passou do limite em muitos pontos, mas a direita sempre esteve viva no Brasil. A direita é um campo importante.
Mas eu acho que o presidente Lula tem a maioria, tem a aprovação que Bolsonaro não teve na média do governo. E tem todos os instrumentos para ampliar a sua aprovação. Se o Brasil acertar na economia, eu acho que o governo vai andar muito bem.
Na sua antessala, candidatos a prefeito de cidades de Alagoas aguardam para que o senhor os receba. A proximidade das eleições municipais causa atrito entre o seu grupo político e o de Arthur Lira?
Da minha parte, eu tento separar a política local da política administrativa no âmbito federal. Não é inteligente, nem para o Brasil nem para Alagoas, a gente transformar essa disputa paroquial em um problema nacional. Mas isso tem que acontecer de ambos os lados.
E tem acontecido?
Até o momento, não houve nenhum problema (envolvendo Lira).