Áudio: filha de Mauro Cid falou em intervenção com militares nas ruas
Por áudio, filha do tenente-coronel Mauro Cid conversou com um entusiasta de golpe sobre as alternativas para evitar a posse de Lula; ouça
atualizado
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Uma das filhas de Mauro Cid defendeu intervenção, com militares nas ruas, para manter Bolsonaro no poder. Um áudio obtido pela coluna retrata uma conversa da jovem com um interlocutor sobre possíveis cenários após a vitória de Lula. Nela, a filha de Cid disse que a alternativa viável seria a “intervenção federal”.
O diálogo se dá em novembro do ano passado. O interlocutor, que aparenta conhecer a jovem há pouco tempo, insinua que Bolsonaro teria uma “carta na manga” para evitar a posse do presidente eleito. A princípio, a filha de Cid desconversou. Disse que torcia para Bolsonaro ter a tal carta, mas que achava que nada poderia ser feito.
Logo em seguida, porém, a jovem encaminha uma mensagem que citava três cenários possíveis para evitar a posse de Lula. O “artigo 142” e a “intenvenção militar”, segundo a filha de Cid, não atenderiam à necessidade formal para manter Bolsonaro no poder. Já a “intervenção federal” contemplaria plenamente a expectativa.
Sem compreender a diferença dos cenários traçados pela filha de Cid, o jovem pergunta: “O artigo 142?”. Ela, então, explica.
“Não (é o artigo 142). É… é intervenção federal. Que é onde os militares não entram no governo. Eles só tomam as ruas. Aí o presidente vai permanecer, então, no caso, o Bolsonaro. E é isso. Amém. Aí tudo fica tranquilo.”
Na sequência, a filha de Cid, que é menor de idade e não é investigada no caso, justifica a alternativa:
“Outra coisa que vejo muitas pessoas falando é o artigo 142. É que, tipo assim, o artigo 142 não tem como colocar em prática. Só se acontecer uma desordem, entendeu? Só que foi a democracia. Foi voto, entendeu? Então nem tem como colocar isso em prática”.
O jovem, então, entusiasma-se com o cenário de intervenção federal. “Entendi. Esse seria ótimo.” E a filha de Cid prossegue: “Sim”.
“Bolsonaro ficou deitado na cama”
Em outro áudio enviado na mesma ocasião, a filha de Mauro Cid quase revela que seu pai era ajudante de ordens de Bolsonaro. Dessa vez, ela falava sobre o estado mental do então presidente após a eleição.
Contudo, a jovem recua e diz ao interlocutor apenas conhecer uma pessoa “muito próxima” do então presidente.
“É que, tipo assim, como que vou te explicar? O meu… uma pessoa que, tipo assim, trabalha muito próximo, tem um cargo nesse meio político e tá sempre do lado do Bolsonaro. E aí essa pessoa fala aqui para a gente de casa.
E aí ele falou que ultimamente, nessa eleição, ele (Bolsonaro) ficou muito mal, ficou muito mal, ele só ficou deitado na cama. Até porque ele dá a vida pelo Brasil. Quase perdeu a vida no caso. Sério… enfim.”
Áudios integram investigação
Ainda na mesma conversa, ambos trocam impressões sobre uma possível fraude nas urnas eletrônicas. O interlocutor diz acreditar que a eleição foi fraudada; a filha de Mauro Cid, por sua vez, é mais comedida.
“O que achei estranho foi que só o Lula subia. O Bolsonaro não subia nem um pouco, entendeu? Chegou uma hora que só o Lula subia. Sei lá… também não sei esse negócio de fraude… eu já tava com medo. Mas me surpreendeu.”
Os áudios fazem parte da investigação que apura uma suposta tentativa de golpe de Estado no fim da gestão Bolsonaro. Como a filha de Cid tem 15 anos, a coluna optou por preservar a voz da jovem.
Por óbvio, ela não é investigada. As mensagens interceptadas abrangem um sentido amplo da investigação, que busca identificar o cometimento de crimes por atores políticos, militares (como o próprio Cid) e demais articuladores de uma suposta tentativa de ruptura democrática.
No último sábado (9/9), o ministro Alexandre de Moraes, do STF, homologou acordo de colaboração premiada de Mauro Cid, no qual o tenente-coronel confessou à Polícia Federal a participação em crimes.
“Nem Lula nem Bolsonaro”
Uma outra troca de mensagens, do fatídico 8 de Janeiro, revela um aspecto curioso. Por mensagem de texto, a filha de Mauro Cid é abordada por uma amiga sobre as depredações dos Três Poderes. A jovem responde:
“Eu estou com nojo. Sério. Repensando tudo”.
A interlocutora, então, prossegue:
“Essas pessoas extremistas só pensam no próprio umbigo!! Todo mundo teve direito de votar. Se um lado venceu, tem que respeitar!! O Lula NÃO é o melhor candidato, mas fazer isso não vai mudar NADA”.
E a filha de Mauro Cid conclui:
“Simm! Acho que nem Lula nem Bolsonaro deviam ser presidentes”.