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“O ponto de partida foi a ovelhinha Dolly”, relembra Gloria Perez sobre O Clone

Cultura muçulmana, clonagem humana e dependência química são os principais temas da novela, que estreia dia 4 no Vale a Pena Ver de Novo

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Raphael Dias/ TV Globo
Gloria Perez
1 de 1 Gloria Perez - Foto: Raphael Dias/ TV Globo

Cultura muçulmana, clonagem humana e dependência química são os principais temas de O Clone, que estreia dia 4 no Vale a Pena Ver de Novo. A novela tem como fio condutor a história de amor vivida pela muçulmana Jade (Giovanna Antonelli) com o brasileiro Lucas (Murilo Benício). A trama tem início na década de 1980, quando Lucas conhece Jade no Marrocos. Filha de muçulmanos nascida e criada no Brasil, Jade foi viver com o tio Ali (Stênio Garcia) após a morte da mãe, Sálua (Walderez de Barros).

Os dois jovens se apaixonam à primeira vista, mas são impedidos de ficar juntos por causa dos costumes muçulmanos, defendidos com rigor pelo tio de Jade. Sid Ali se agarra às crenças e à cultura árabe para arranjar bons casamentos para as sobrinhas Jade e Latiffa (Letícia Sabatella), que estão sob sua proteção. Ele conta com a ajuda da empregada Zoraide (Jandira Martini), confidente e cúmplice das meninas. Lucas tem um irmão gêmeo, Diogo (Murilo Benício), cuja semelhança com ele se resume à aparência física.

Diferentemente do introspectivo Lucas, Diogo é o típico rapaz namorador, alegre e brincalhão, considerado o mais indicado para suceder o pai, Leônidas (Reginaldo Faria), em seus negócios. Para desespero da família, Diogo sofre um acidente de helicóptero e morre nos primeiros capítulos da trama. Abalado pela morte do afilhado, o cientista Albieri (Juca de Oliveira) decide clonar o outro gêmeo, Lucas, como forma de trazer Diogo de volta e realizar um sonho: ser o primeiro a realizar a clonagem de um ser humano.

Abaixo, Gloria Perez fala sobre os desafios de ter escrito a novela há mais de 20 anos.

O que sentiu quando soube que O Clone iria ao ar novamente 20 anos após a exibição original?
Alegria, muita alegria de revisitar esse universo. E acho que esse é um dos motivos que levam o público a gostar tanto de rever novelas. Durante um tempo das nossas vidas convivemos com os dramas daqueles personagens, eles se tornam íntimos de nós. Revê-los é revisitar também um tempo do nosso passado. O Clone foi um trabalho maravilhoso de fazer, era uma equipe tão unida, tão apaixonada. Isso transparece na tela.

Relembre um pouco o processo de pesquisa para escrever a novela, como se aprofundou na cultura muçulmana e no tema da clonagem humana.
Fiquei 20 dias no Egito e também cerca de 20 no Marrocos, convivendo com pessoas típicas do local. Era isso o que eu queria buscar: o muçulmano médio. Fiz amizade com o guia que nos acompanhou na viagem e convivi muito com a família dele, com os amigos dele, de modo a poder observar os costumes, as maneiras, a forma como viam a si próprios e como nos viam também. Por outro lado, estive em diálogo constante com o sheik Jihad, que me presenteou com um Alcorão. Li o Alcorão e dali retirei os ensinamentos do progressista tio Ali (Stênio Garcia) e do fundamentalista tio Abdul (Sebastião Vasconcellos). Tivemos sempre o  maior cuidado para não ferir suscetibilidades religiosas.

O que a levou a unir os dois assuntos – cultura muçulmana e clonagem humana – em uma mesma história?
O ponto de partida foi a ovelhinha Dolly. Se era possível clonar uma ovelha, não seria possível clonar um ser humano? Quis falar dos conflitos de identidade inerentes a uma experiência assim. Como se sentiria uma pessoa feita em laboratório como cópia de outra? Quis falar dos limites éticos da ciência, e para isso resgatei duas personagens icônicas de Barriga de Aluguel: o humanista Dr. Molina (Mário Lago) e a transgressora Miss Brown (Beatriz Segall). Para se contrapor a esse ocidente que desafiava Deus criando a vida, fui buscar uma sociedade inteiramente submetida a Deus: os muçulmanos. Por isso eles entraram na trama.

A novela também abordou o uso de drogas, que infelizmente ainda assombra muitas famílias. Como foi a pesquisa para retratar o tema e o resultado da campanha socioeducativa?
Meu método é antropológico: chego perto, convivo. Percebia que tudo o que sabia sobre dependência química era a visão da policia, dos médicos. E quis observar os dependentes. Pensar a campanha do ponto de vista deles. Essa foi a chave de ela ter sido tão bem-sucedida. Frequentei muitas clínicas, conversei com pessoas internadas e com outras que tinham conseguido superar a dependência. A trajetória de Mel (Débora Falabella) foi intercalada com depoimentos de dependentes, internados ou não, contando sua experiência, seu fundo de poço. E também de seus familiares. Era o recado duro e sofrido de quem vivia o problema. E foi imensa a escuta. A campanha recebeu prêmio da Sociedade de Medicina e repercutiu até no exterior: nos Estados Unidos ganhamos prêmios do FBI e do DEA.

Os bordões ganharam as ruas e nunca foram esquecidos. Como foi a criação deles?
Os bordões nascem da escuta. De andar na rua, de frequentar ambientes populares, como a gafieira, por exemplo.

Como você acredita que a novela será recebida agora, já que nossa sociedade está em constante mudança?
O ser humano é essencialmente o mesmo, desde que o mundo é mundo. Seus instintos básicos estão ali. Cada época valoriza algumas dessas características e reprime outras, mas a essência não muda. É nisso que eu foco. Acredito que quando você consegue tocar o humano, as histórias se tornam atemporais. Podem ser compreendidas em qualquer época e por culturas muito diferentes.

O que O Clone representa em sua tão bem-sucedida carreira?
Representa muito. Escrever é uma maneira de buscar compreender o universo que você retrata. De ampliar sua visão de mundo. O Clone me deu isso. E me encheu de emoção pelas vidas que foi capaz de tocar, fazendo com que tantos dependentes químicos buscassem tratamento por vontade própria, que suas famílias compreendessem o que se passava com eles, e que muitas pessoas, impressionadas com a crueza com que a história foi contada, tenham desistido de experimentar a droga.

Imaginava que Dona Jura e o núcleo de São Cristóvão ficaria tão popular?  Para quais personagens ou núcleos mais gostava de escrever?
Ah, imaginava sim. Dona Jura é a cara da mulher brasileira que toca a vida sozinha. Não tinha preferencias por nenhum núcleo. Todos eles eram essenciais para o resultado final do quadro que eu queria mostrar.

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