“O Clone foi um marco na minha trajetória”, diz Leticia Sabatella
Por causa da novela, que volta ao ar nesta segunda (4/10), no Vale a Pena Ver de Novo, atriz ganhou fãs no mundo todo
atualizado
Compartilhar notícia
Uma das atrizes mais talentosas de sua geração, Leticia Sabatella já tinha feito alguns trabalhos na TV antes de O Clone, que volta ao ar nesta segunda (4/10), no Vale a Pena Ver de Novo. A estreia em novelas foi dez anos antes, em O Dono do Mundo, exibida em 1991, mas na trama de Gloria Perez ela ganhou uma projeção bem maior. O intenso trabalho de composição para viver a muçulmana Latiffa, sem dúvida, fez a diferença e ressaltou ainda mais o talento da atriz. “Acho que muitas pessoas se apaixonaram pela Latiffa. Me senti muito acarinhada pelo público. Ter encontrado a Gloria Perez e o Jayme Monjardim foi maravilhoso para a minha carreira, porque depois eu pude repetir trabalhos com eles. Fiz Caminho das Índias com a Gloria, e Tempo de Amar com o Jayme, dois trabalhos que amei. Fiz outros com o Jayme também. O Clone foi um marco na minha trajetória, sem dúvida”, revela Leticia.
A parceria com Antonio Calloni, que viveu Mohamed, marido de Latiffa, é outra razão para que Leticia considere O Clone um dos melhores trabalhos que já fez. E o ator também faz parte do começo da carreira de Leticia na TV. “Ele é um parceiro incrível. É um dos atores que eu mais admiro no Brasil e no mundo. É um ator completo e uma pessoa que eu adoro, de uma inteligência, uma sagacidade, uma delicadeza, uma gentileza. Eu tinha trabalhado com o Calloni em O Dono do Mundo e na época eu me sentia muito crua, estava começando minha primeira novela, caindo de paraquedas em uma obra do Gilberto Braga, com direção do Dennis Carvalho, profissionais incríveis. E o Calloni, já muito novo, estava muito pronto. Quando eu fui fazer O Clone com ele, eu tive esse propósito. Pensava: “Caramba, agora eu quero fazer uma superparceria, retribuir a atenção que ele teve comigo. Quero estar a altura desse ator e valorizar o trabalho dele”. Eu assumi esse propósito de fazer uma superparceria com ele e assim foi, fiquei muito feliz com o resultado”, conta. Em entrevista, a atriz conta mais sobre as lembranças do trabalho que impactou sua trajetória.
O que sentiu quando soube que O Clone iria ao ar novamente 20 anos após a exibição original?
Ah, O Clone é um fenômeno, né? Eu fui para a Rússia e era reconhecida na rua. Pessoas aprenderam a falar português na Rússia por causa de O Clone. Eu tenho seguidores russos, já recebi presentes. É muito lindo isso. Não só na Rússia, mas em outros países, é um fenômeno. A Gloria Perez segue a tradição das nossas grandes autoras, como Janete Clair. A criatividade dela é incrível. Na época eu pensava: ‘Meu Deus, como consegue isso?’. Juntar clonagem, universo muçulmano. Abordar questões fundamentalistas com questões da ciência com tanta sensibilidade. Eu percebi que as pessoas se encantaram e viram a humanidade daquele povo. Misturou o núcleo árabe com o núcleo popular, de São Cristóvão, ali da Dona Jura (Solange Couto). Nós atores fomos muito felizes, porque a gente era uma trupe. A gente se divertia demais fazendo, do início ao fim. Não teve nenhum momento em que teve uma barriga, cansaço. O Clone é uma novela que, até hoje, a gente lembra dos personagens. Eu fico feliz que a novela, até hoje, tem o que dizer. Vale a pena demais rever O Clone.
O que você recorda de todo o processo de construção da Latiffa e como foi a preparação para interpretá-la?
A produção passou toda a pesquisa da Gloria para os atores. A Gloria cedeu toda a pesquisa, todos os livros. Eu li tudo, devorando, e fiquei encantada. A gente viu filmes iranianos, filmes árabes incríveis, tivemos acesso a tudo isso. Tivemos acesso à comunidade muçulmana. A sheiks, que nos ensinaram o alcorão e a declamar o alcorão. Tivemos aula de dança do ventre, de culinária. Tive contato com uma pessoa que traduziu meu texto, eu aprendi o texto dos primeiros 20 capítulos em árabe, fui aprendendo o sotaque. E aí, por fim, ficou aquela poeirinha de sotaque, que tinha uma região, um jeito de falar, mas eu estava impregnada. E quando a gente foi ao Marrocos gravar as primeiras cenas, teve mais essa vivência também. A gente teve uma preparação muito rica. Teve mais uma pessoa que me ajudou muito, que é uma amiga dos meus pais. Foi uma série de coisas que me deixaram apaixonada, completamente apaixonada, pelas cores e pelos sons, por tudo. Ficaram muitas histórias fortes para contar da viagem. Histórias bem pitorescas e isso deu toda a alegria, toda a vitalidade, e deu também entendimento. Acho que foi uma imersão muito bonita e um trabalho de equipe muito bonito. Muito bonito mesmo.
Como analisa a trajetória da personagem na trama, sua personalidade e seus conflitos?
Ah, foi uma graça, porque ela era uma pessoa com uma alma, de um certo modo, libertária, mas ela vivia aquele amor idealizado, romântico, e ela realmente se apaixonou pelo Mohamed. Ela deu uma sorte danada, porque ela tinha todo o ideal de se casar e tal, e ela se casa e aprende a amar. Bateu, deu química, deu certo. A sorte da Latiffa e do Mohamed é que eles tinham a ver e se davam muito bem. Assim como eu e Calloni, a gente se dava muito bem também, em cena. A gente ria muito. Foi muito divertido, ele é um parceiro que comprava as minhas ideias, sabe? O nosso núcleo ficou colorido, dançante, divertido. Nosso núcleo tinha muito humor, mas tinha drama e sensibilidade também. Foi uma trajetória que me deu muitas alegrias. O Marcus Vianna, que compôs músicas da trilha, também me chamou para gravarmos o livro dos poemas místicos do Oriente, e até hoje as pessoas me agradecem por esse CD. Muitas pessoas ouvem, meditam e dormem com esse CD. E isso veio do sucesso da Latiffa. As pessoas têm sempre uma lembrança boa. Ela teve uma empatia muito imediata com o público. Uma personagem como ela não é feita só do ator. Eu sou a ponta de um iceberg. Ela é feita pela sensibilidade da autora, pela sensibilidade do público. Acho que foi muito bem compreendida por todos.
Quais aprendizados para viver uma mulher muçulmana foram mais desafiadores?
A dança do ventre foi um pouco desafiadora, entender o alcorão… Tudo era um desafio, mas para mim, foi um parque de diversões. Acho que o maior desafio para todos nós era que não trouxéssemos uma caricatura. Eu tomei muito cuidado com isso. O “Inshalá” (Deus queira), eu tomava muito cuidado de não transformar em um bordão vazio, porque, quando eu fui para o Marrocos, eu percebi que quando você fala “Alá”, é do fundo da alma. Pedi muita, muita inspiração a Deus. Acho que esse era o desafio: tratar com delicadeza.
Conte um pouco mais sobre a parceria com Antonio Calloni para a construção do casal Latiffa e Mohamed, que fez tanto sucesso…
Ele é um parceiro incrível. É um dos atores que eu mais admiro no Brasil e no mundo. É um ator completo e uma pessoa que eu adoro, de uma inteligência, uma sagacidade, uma delicadeza, uma gentileza. Eu tinha trabalhado com o Calloni em O Dono do Mundo e na época eu me sentia muito crua, estava começando minha primeira novela, caindo de paraquedas em uma novela do Gilberto Braga, com direção do Dennis Carvalho, profissionais incríveis. E o Calloni, já muito novo, estava muito pronto. Quando eu fui fazer O Clone com ele, eu tive esse propósito: “Caramba, agora eu quero fazer uma superparceria, retribuir a atenção que ele teve comigo. Quero estar a altura desse ator e valorizar o trabalho dele”. Eu assumi esse propósito de fazer uma superparceria com ele e assim foi, fiquei muito feliz com o resultado.
Essa novela é um de seus trabalhos mais marcantes na carreira. De que forma ‘O Clone’ impactou sua trajetória profissional?
Acho que muitas pessoas se apaixonaram pela Latiffa. Me senti muito acarinhada pelo público. Ter encontrado a Gloria e o Jayme foi maravilhoso, porque depois eu pude repetir trabalhos com eles, fiz Caminhos das Índias, com a Gloria, e Tempo de Amar com o Jayme, trabalhos que amei. Fiz outros trabalhos com o Jayme também. O Clone foi um marco, sem dúvida.
Você pretende assistir novamente à trama? É muito autocrítica ao rever um trabalho antigo?
O Clone toda hora aparece para mim, porque me mandam muita coisa. Ainda continua tendo muita repercussão em várias línguas, né? Então, parece que não deixou de passar. No mundo inteiro está sempre reprisando, e é uma delícia de rever. Inspira a gente. É cheio de sabores, né? Cheio de coloridos. Eu vou adorar rever mais um pouquinho.
Latiffa, como vários personagens da trama, tinha um figurino muito bonito. Você guardou alguma peça ou outra recordação desse trabalho?
Eu levava algumas peças, alguns lenços que comprei na viagem para a Latiffa. Fiquei com uma peça de um brechó, que foi um vestido preto, e a Daniela Escobar me deu um vestido muito bonito. Eu emprestei também algumas joias artesanais, grandes, para a Nazira (Eliane Giardini). A gente fazia umas trocas entre o elenco (risos).
Atualmente você está no ar em Nos Tempos do Imperador e tem sido muito elogiada pela atuação. O Clone também foi um trabalho marcante e está de volta. Podemos dizer que você vive um momento especial de sua carreira na TV agora?
Ah, eu vivo. Eu me envolvo e me apaixono por cada trabalho. Isso não é só déjà vu, clichê, sinceramente é uma característica minha. Eu tenho um entusiasmo, eu trabalho através dele e tenho tido o privilégio de fazer grandes personagens sempre, como foi recentemente em Tempo de Amar, como foi em Órfãos da Terra. E agora, fazendo a Imperatriz Teresa Cristina, é uma grande descoberta. Uma mulher que na história foi tão silenciada. Eu acho que é um momento especial. Eu acho que cada vez mais a gente vai se aprofundando e ficando com mais agilidade. Emocional, mental e com mais experiências de vida. Você consegue carregar personagens com mais complexidades ainda. Esse é um momento especial, algo para se agradecer. Eu tenho muita gratidão, o que me move é uma eterna gratidão.