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Shifting: o que é e por que pais devem ficar atentos

Fenômeno que atrai milhões de jovens nas redes sociais tem riscos e merece atenção 

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Nos últimos anos, um fenômeno chamado reality shifting tem ganhado popularidade entre adolescentes e jovens nas redes sociais, especialmente no TikTok e Reddit. Mas o que é exatamente o shifting? Trata-se de uma prática em que as pessoas tentam “mudar” sua consciência para uma realidade paralela ou um mundo fictício. Esses universos alternativos podem ser baseados em filmes, séries, livros — como o popular universo de Harry Potter — ou até em versões idealizadas de suas próprias vidas.

No Brasil, vídeos sobre shifting — conhecidos como shiftokers — acumulam milhões de visualizações, mostrando como essa prática está se espalhando entre os jovens. Muitos desses usuários relatam suas experiências e trocam dicas em plataformas como TikTok, YouTube, Facebook e Reddit. Alguns compartilham métodos para “chegar” a essas realidades, como o Método Alice no País das Maravilhas (visualizando-se caindo em um buraco para uma nova realidade) ou o Método do Elevador (imaginando-se subindo em um elevador para uma realidade desejada).

A prática do shifting é descrita como uma combinação de meditação, visualização e afirmações. Os praticantes frequentemente elaboram um roteiro (chamado script), detalhando a realidade que desejam acessar e descrevendo aspectos sensoriais, emocionais e eventos que desejam vivenciar. Esse processo é similar ao que algumas pessoas descrevem como um sonho lúcido ou uma forma de auto-hipnose – a experiência é extremamente vívida, mas permanece no campo da imaginação.

O que diferencia o reality shifting de outras formas de escapismo mental é a força das comunidades on-line que o alimentam, com publicações sobre o assunto acumulando mais de 1,8 bilhão de visualizações. A internet permite a troca de informações, técnicas e experiências, o que cria um ambiente de validação mútua. Os participantes muitas vezes relatam sintomas como formigamento, sensação de flutuação e espasmos físicos, o que reforça a percepção de que eles estão, de fato, “mudando” de realidade.

No Brasil, comunidades on-line como grupos de Facebook e threads no Reddit compartilham essas experiências, formando uma rede de apoio entre os adeptos. A cultura do shifting é repleta de termos próprios, como DR (Desired Reality ou “realidade desejada”), que é o mundo ou universo que a pessoa deseja acessar.

Há também o CR (Current Reality ou “realidade atual”), que é o mundo em que vivemos e de onde se quer “escapar”. Outro termo popular é S/O (Significant Other ou “parceiro romântico”), que muitas vezes representa um personagem de filme, série ou livro com quem os praticantes desenvolvem uma relação em sua DR.

Universos como o de Harry Potter são os destinos mais populares, mas alguns adolescentes criam suas próprias realidades, onde experimentam versões melhoradas de suas vidas cotidianas.

Embora o shifting possa parecer uma forma inofensiva de brincar com a imaginação, existem riscos, especialmente para adolescentes vulneráveis. A prática pode gerar frustração quando os jovens não conseguem alcançar suas “realidades desejadas”, e isso pode afetar sua autoestima e saúde mental.

Além disso, como o shifting é uma forma de dissociação, pode interferir na capacidade de lidar com a realidade cotidiana, levando alguns praticantes a preferir suas fantasias a enfrentar problemas reais. Por sua vez, isso pode levar a um afastamento das atividades normais do dia a dia, como estudos, socialização e outras responsabilidades.

A internet desempenha um papel crucial na disseminação e manutenção do shifting, mas ela também pode ser uma ferramenta útil para os pais. Participar de fóruns ou grupos on-line relacionados ao tema pode ajudar a entender melhor o que está motivando os jovens a se envolverem nessa prática. Além disso, criar um espaço de diálogo aberto e seguro pode permitir que os adolescentes compartilhem suas experiências e preocupações, sem medo de serem julgados.

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