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Olimpíadas de Paris: um teste para o respeito à igualdade de gênero

Com delegação de maioria feminina e uma série de profissionais como comentaristas, Jogos desafiam garantia dos direitos das mulheres

atualizado

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Torre Eiffel com o símbolo das olímpiadas
1 de 1 Torre Eiffel com o símbolo das olímpiadas - Foto: Getty Images

O Brasil vive em 2024 um importante marco na história do esporte: este ano, o país tem, pela primeira vez, uma delegação de atletas de maioria feminina nas Olimpíadas. Ao todo, 276 atletas brasileiros estarão em Paris, competindo em 39 modalidades diferentes.

Desse total, 153 são mulheres, representando 55% da delegação, 8% a mais do índice de Tóquio, há três anos. Esta edição das Olimpíadas também tem outro dado importante: pela primeira vez a TV Globo, principal emissora da televisão aberta a transmitir os Jogos Olímpicos de Paris, terá mulheres à frente da transmissão de 43% dos eventos.

Os números ainda estão aquém de um cenário ideal para a promoção da igualdade de gênero na prática e na cobertura esportiva, mas traz avanços importantes, principalmente no enfrentamento a estereótipos e diversos tipos de violência contra mulheres no esporte.

Ex-atleta profissional, a comentarista Alline Calandrini, escalada para cobrir os Jogos Olímpicos, disse em entrevista que conhece os dois lados da moeda, tanto os ataques sofridos enquanto jogadora de futebol, como os que recebe no papel de comentarista.”Como jogadora, existe uma discriminação sobre a orientação sexual. Como jornalista, tentam me diminuir, falam que não entendo nada, usam palavras pejorativas. É o ódio sempre voltado às mulheres”, disse à Folha.

Primeira mulher a narrar um jogo de Copa do Mundo em TV aberta, a jornalista Renata Silveira, da Globo, anunciou em junho que iria abandonar seu perfil no X, antigo Twitter, mantendo apenas sua conta no Instagram, devido à enxurrada de ataques misóginos que recebeu. Alvo de ofensas machistas, Renata havia feito uma análise do desempenho da Seleção Brasileira na Copa América.

O caso de Renata remete a um caso exposto na série documental “Deixa Ela”, produzida pelo canal GNT, que abordou em cinco episódios as dificuldades e preconceitos que as mulheres sofrem no futebol, em especial comentaristas e narradoras negras.

No primeiro episódio, a jornalista Ana Thais Matos conta a experiência de ter sido atacada e ameaçada após um comentário sobre o jogador Robinho feito no X, então Twitter, e os impactos em sua vida pessoal. Os ataques escalaram para além das redes sociais, seus dados pessoais foram vazados, incluindo seu telefone particular, e ela ficou incomunicável, o que impossibilitou que recebesse a dura notícia do falecimento de seu pai. A série terá uma nova exibição neste domingo, dia 28/07, às 23h, no GNT.

Mulheres jornalistas são alvos frequentes de ataques virtuais. No fim de 2020, a UNESCO e o Centro Internacional para Jornalistas (ICFJ) conduziram um estudo mundial sobre violência on-line contra mulheres jornalistas, no qual mais de 900 participantes de 125 países responderam à pesquisa  em  árabe,  inglês,  francês,  português  e  espanhol.

De acordo com o estudo,  73% das mulheres entrevistadas disseram ter sofrido violência online; sendo que elas costumam ser atormentadas por ameaças de violência física (25%) e sexual (18%). Para além das ameaças pessoais, 13% disseram ter recebido ameaças de violência contra pessoas próximas. Fora do ambiente virtual, também é grande a insegurança. A pesquisa conduzida pela UNESCO e ICFJ também mostrou que 20% das entrevistadas foram atacadas ou abusadas em suas vidas offlines, em conexão às violências onlines que sofreram.

Em 2024, outro importante estudo trouxe novas informações sobre o fenômeno. Os dados analisados pela organização #ShePersisted mostraram que a maior parte dos ataques contra mulheres no ambiente virtual mira a credibilidade e a reputação de jornalistas e políticas brasileiras.

Para tentar coibir diferentes formas de violências contra jornalistas e atletas mulheres nos Jogos Olímpicos, a Federação Internacional de Jornalistas (FIJ) e seu Conselho de Gênero enviaram uma carta ao presidente do Comitê Olímpico Internacional, Thomas Bach, pedindo ao COI que seja firme na prevenção de todas as formas de assédio ou violência contra mulheres, tanto jornalistas quanto atletas, e na adoção de protocolos para facilitar a denúncia e a resolução de incidentes dessa natureza.

As Olimpíadas de 2024 representam não apenas um marco esportivo, mas também um importante teste do respeito aos direitos das mulheres dentro e fora das arenas.

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