metropoles.com

Condenação de cientistas e a urgência da educação midiática na Justiça

Após desmentirem um conteúdo falso sobre diabetes, Ana Bonassa e Laura Marise foram condenadas por “danos morais” ao autor do vídeo enganoso

atualizado

Compartilhar notícia

Google News - Metrópoles
Ilustração gerada por IA/Metrópoles
Imagem colorida gerada por inteligência artificial de médicos sentados no banco dos réus com um juiz ao fundo - Metrópoles
1 de 1 Imagem colorida gerada por inteligência artificial de médicos sentados no banco dos réus com um juiz ao fundo - Metrópoles - Foto: Ilustração gerada por IA/Metrópoles

A recente condenação de duas cientistas brasileiras por desmentirem uma informação falsa sobre diabetes expôs uma perversidade alarmante: quem esclareceu o público sobre uma mentira potencialmente perigosa foi punido, enquanto o propagador da desinformação foi indenizado.

Ana Bonassa e Laura Maris, pesquisadoras pela Universidade de São Paulo e criadoras do canal Nunca vi 1 cientista, foram processadas por um nutricionista após corrigirem seu vídeo, em que ele afirmava que “vermes causam diabetes” e promovia a venda de protocolos para “curar” a doença.

A sentença, que as condenou a pagar R$ 1 mil por danos morais, alega que o vídeo das cientistas teria manchado a reputação do autor, afetando a venda de seus serviços.

O que torna essa decisão tão absurda é que, ao desmentir a informação, as cientistas estavam tentando evitar que pessoas abandonassem tratamentos médicos convencionais para diabetes, o que poderia resultar em complicações graves, como amputações, perda de audição e até a morte.

O conteúdo do vídeo promovia falsas esperanças de cura e colocava em risco a saúde de quem se deixasse enganar. Em vez de punir a desinformação, a Justiça brasileira recompensou o autor da mentira.

Este caso abre um precedente perigoso, que pode desestimular cientistas, jornalistas e fact-checkers a combater informações falsas. Num momento em que a desinformação sobre temas de saúde pública prolifera nas redes sociais, decisões como essa ameaçam a luta contra conteúdos enganosos.

A sentença não só descredibiliza a atuação científica das pesquisadoras, mas também fortalece uma prática cada vez mais comum: o assédio judicial. Muitos jornalistas investigativos e produtores de conteúdo enfrentam processos judiciais estratégicos com o objetivo de intimidá-los e provocar danos financeiros, uma tática que vem sendo ensinada e incentivada em grupos radicais.

Esse caso expõe a urgente necessidade de educação midiática no sistema judicial. É fundamental que o corpo técnico do Judiciário esteja melhor equipado para entender os desafios da era digital e o impacto da desinformação.

Somente assim poderão analisar esses fenômenos com a seriedade que exigem e impedir que decisões como essa se tornem norma. Afinal, se cientistas temerem desmentir falsidades que ameaçam a saúde pública, que futuro nos espera?

Essa condenação atinge não apenas as duas cientistas, mas toda a comunidade científica e a população que depende da ciência para tomar decisões informadas. Se cientistas passarem a ter medo de publicar desmentidos sobre temas de saúde pública, qual futuro nos espera?

Compartilhar notícia

Quais assuntos você deseja receber?

Ícone de sino para notificações

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

Ícone de ajustes do navegador

Mais opções no Google Chrome

2.

Ícone de configurações

Configurações

3.

Configurações do site

4.

Ícone de sino para notificações

Notificações

5.

Ícone de alternância ligado para notificações

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comNotícias Gerais

Você quer ficar por dentro das notícias mais importantes e receber notificações em tempo real?