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Bets trazem risco de vícios, endividamento e dano social grave

Enquanto 108 empresas tentam entrar nesse mercado, o Hospital das Clínicas de SP observa o aumento no adoecimento de jovens devido ao vício

atualizado

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Hugo Barreto/Metrópoles
Aplicativo de celular, jogo do tigrinho
1 de 1 Aplicativo de celular, jogo do tigrinho - Foto: Hugo Barreto/Metrópoles

Nesta sexta-feira (23/8), um movimento criado com uso da hashtag #ApostasMatam uniu influenciadores e ativistas em prol de um único objetivo: frear o avanço das casas de apostas, as chamadas bets, e criar um compromisso coletivo de não fazer publicidade para as marcas do ramo.

Fer Sicuro, Juliana Baroni e Felipe Neto são alguns dos influenciadores que reservaram um espaço em suas redes para chamar atenção para o problema. Muito criticado pela parceria que fez no passado com a Blaze, uma plataforma de apostas de grande expressão nacional, famosa pelo trabalho intensivo com influenciadores, Felipe Neto afirmou que ter aceitado divulgar casa de aposta foi o maior erro de sua vida, comprometendo-se a não repetir mais a prática e lutar para corrigir os efeitos.

A iniciativa liderada pelo portal ICL ocorre em uma semana marcada por novos dados importantes sobre o aumento nos danos relacionados aos vícios em bets e, ao mesmo tempo, reportagens que mostram como tem crescido o número de empresas interessadas em adentrar o universos das bets, de olho no mercado em ampla ascensão e altamente rentável. Rentabilidade exclusiva às casas de apostas, é importante destacar.

A coluna Painel S.A., da Folha de S. Paulo, publicou o resultado de uma pesquisa do Instituto Locomotiva realizada com mais de dois mil entrevistados em 142 cidades brasileiras, entre 3 e 7 de agosto. De acordo com o estudo, os brasileiros que fazem apostas esportivas em plataformas de bets são de baixa renda, estão endividados e possuem dois ou mais cartões de crédito, principal forma de pagamento das apostas online.

A pesquisa mostrou que quase metade dos apostadores (46%) é formada por jovens entre 19 e 29 anos, e 34% pertencem às classes CDE. Nas classes AB, 25% são apostadores. Outro dado relevante diz respeito ao endividamento desse público: um terço dos apostadores está endividado e com o nome sujo.

No X, usuários da plataforma relataram que ao comprarem novos aparelhos com sistema operacional Android foram surpreendidos com aplicativos de plataformas bets já pré-instalados, sem qualquer tipo de aviso ou controle para públicos mais vulneráveis, em especial menores de 18 anos, que, teoricamente, não podem acessar essas plataformas, mas estão entre as principais vítimas.

O psiquiatra Fábio Aurélio Leite, do Hospital Santa Lúcia, de Brasília, afirmou que o número de pessoas com compulsão em apostas tem crescido em seu consultório. Segundo o especialista, o transtorno que acomete esse grupo pode ser chamado de ludomania ou jogo patológico e torna-se preocupante a partir do momento em que atrapalha as atividades sociais do apostador ou o leva a fazer loucuras para continuar apostando.

A percepção do psiquiatra também é a mesma do Hospital das Clínicas (HC) de São Paulo. De acordo com informações do HC, jovens da chamada Geração Z, com menos de 30 anos, já somam mais de um terço (36,3%) dos pacientes atendidos para tratamento por vício em jogo. A situação é ainda pior para homens de 20 anos, que chegam ao Instituto de Psiquiatria altamente endividados.

Segundo o Mapa Serasa Crédito de maio deste ano, 16,7% das pessoas entre 18 e 25 anos que pegam empréstimo consignado usam o dinheiro para apostas na internet. Em julho, a Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo publicou um estudo que mostra que 64% das pessoas que fazem apostas esportivas usam sua renda principal para apostar, sendo que 19% dessa população deixa de realizar compras no varejo alimentar e 14% deixam de adquirir produtos de higiene e beleza para apostar. No último ano, 4,9% da renda dedicada à alimentação das famílias de classes D e E foi usada em apostas esportivas, mas a expectativa é que em 2024 esse percentual alcance 5,5%, de acordo com dados do estudo “O impacto das apostas esportivas no consumo”, da PwC.

De olho nesse cenário alarmante, em abril deste ano a Diretoria de Assistência ao Pessoal do Exército divulgou um caderno de orientação para a prevenção ao vício em apostas, direcionado a praças e oficiais, com o intuito de “educar sobre os riscos associados à prática de realizar apostas (…)  com propósito de contribuir na prevenção ao vício em apostas junto à Família Militar”. Entre as orientações está a importância de realizar palestras para apresentar de forma prática os problemas associados ao vício em apostas. Entre as consequências descritas no material estão a perda de controle, sintomas de abstinência, problemas psicológicos, financeiros, além de problemas familiares, sociais e profissionais.

Enquanto isso, até meia-noite de terça (20), a Secretaria de Prêmios e Apostas do Ministério da Fazenda recebeu 113 pedidos de autorização de 108 empresas para a exploração de apostas. Caso sejam aprovadas, essas empresas já poderão atuar já na abertura do mercado regulado de apostas, em 1º de janeiro de 2025. Entre os novos pedidos está o da Caixa, que pretende se tornar “um dos principais operadores do mercado de bets no país”.

A facilidade de acesso pelo celular, aliada à intensa publicidade nas redes sociais e à falta de uma regulamentação eficaz e atenta aos danos graves que se apresentam no horizonte dos usuários que navegam por casas de apostas e cassinos online, torna o problema ainda mais grave. Se você ou alguém que você conhece está com problemas com apostas e/ou jogos de azar, procure ajuda imediata de um profissional de saúde.

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