Endometriose: entenda o custo pessoal e social da doença
No Brasil, estima-se que 6 milhões de mulheres não sabem que têm a doença
atualizado
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Apesar de ter sido descrita em 1860, a endometriose ainda é considerada uma doença enigmática, com causa e evolução desconhecidas. A presença de tecido semelhante ao endométrio (camada mais interna) fora do útero caracteriza o problema, que atinge 15% das mulheres entre os 15 e os 50 anos de idade.
A despeito do pouco conhecimento sobre a doença pela sociedade e por profissionais da saúde, as mulheres e as famílias das portadoras de endometriose sofrem sem saber os males que ela provoca. Os sintomas, em 70% dos casos, iniciam ainda na adolescência com quadro de cólica menstrual intensa. Dor pélvica fora da menstruação e na relação sexual também são indicadores importantes. Os sintomas são crônicos e tendem a piorar progressivamente, podendo causar infertilidade.
“No Brasil, estima-se que 8 milhões de mulheres tenham endometriose e, dessas, cerca de 6 milhões desconhecem serem portadoras da doença. Em torno de 95% das mulheres com o problema sofrem com dor crônica por anos até o momento do diagnóstico – que pode demorar de 7 a 12 anos no Brasil. A lentidão ocorre porque essa disfunção é pouco conhecida e as cólicas menstruais são tratadas como normal”, explica o médico.
O sofrimento contínuo provocado pela endometriose faz com que muitas mulheres paguem um preço alto. Elas precisam faltar às atividades escolares e ao trabalho, além de enfrentar dificuldades conjugais e familiares por conta dos sintomas físicos e emocionais.
“Baseados em observações recentes, alguns grupos de pesquisa realizaram, nos últimos anos, estudos de avaliação do impacto social da doença em vários países. Para se ter uma ideia, o custo estimado da endometriose nos Estados Unidos, em 2002, foi de US$ 22 bilhões – a cifra inclui apenas as despesas diretas, relacionadas ao diagnóstico e ao tratamento da doença. Em 2012, na Alemanha, observou-se um gasto de 40 milhões de euros somente no tratamento de pacientes internadas pela doença. No Brasil, ainda não temos esses dados”, relata
Os custos indiretos também precisam entrar no cálculo, pois causam grandes prejuízos. “O absenteísmo e o presenteísmo (baixa produtividade no trabalho) podem elevar substancialmente o custo total das doenças”, avalia Frederico. Em 2011, foi publicada uma pesquisa realizada em 10 países, incluindo o Brasil, sobre o impacto da endometriose na qualidade de vida e na produtividade laboral. O estudo demonstrou, claramente, que cada mulher afetada pelo problema perde de 8 a 10 horas de trabalho por semana.
“A endometriose é uma doença benigna, no entanto, responsável por sofrimento crônico que transforma profunda e negativamente a vida destas mulheres, dos seus familiares, amigos e da sociedade em todo o mundo. A melhora no diagnóstico através de campanhas de esclarecimento, treinamento de equipes de saúde e acesso facilitado aos exames complementares associado ao manejo adequado das mulheres portadoras do problemas são medidas capazes de reverter esse quadro”, alerta o doutor.