Tragédia dos gaúchos: falta de governo e vidas secas encharcadas
As catástrofes, como essa que atinge os gaúchos, expõem a falta de governo não só pelo que causam no presente, mas pelo revelam do passado
atualizado
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Entre espantado e indignado com o horror pluvial que acomete os gaúchos (57 mortos, 32 mil desabrigados e desalojados, 350 mil pessoas sem luz até o momento), pensei e, ato contínuo, postei nas redes sociais o óbvio que não é dito na imprensa ou é apenas sussurrado por ela:
“As catástrofes naturais do país, como essa no Rio Grande do Sul, expõem tragicamente a falta de governo em todos os níveis: municipal, estadual e federal. Somos governados por um bando de incompetentes, de negligentes, de gente impiedosa e amadora.”
Não é de agora, mas desde sempre. No Brasil, o único plano é roubar em qualquer situação. Somos uma nulidade em prevenir desastres, porque esquecemos rapidamente o que aconteceu no verão, outono, inverno e primavera passados, e não fazemos projetos executivos de verdade de obra nenhuma para que haja aditivos contratuais com fins de encarecimento.
O horror pluvial no Rio Grande do Sul era anunciado. Ocorreu no ano passado, ocorreria neste ano e vai ocorrer com frequência, fruto que é das mudanças climáticas no planeta. Algo foi feito para diminuir o impacto sobre as cidades, além do colete midiático do governador Eduardo Leite? Não.
Enquanto os gaúchos se afogavam na chuva, Lula fazia campanha antecipada para Guilherme Boulos em São Paulo. A tragédia lhe serviu depois para desviar o foco da delinquência eleitoral. Lula fez uma visita ao Rio Grande do Sul, o que não fez no ano passado, usou uma imagem futebolística cretina para dizer que estava do lado dos gaúchos e montou um gabinete de crise na base do hoje só amanhã.
Como não podia deixar de ser, a imprensa passou o paninho básico na inoperância federal. Afirma-se sem corar de vergonha que, pelo menos, o governo Lula não nega os efeitos das mudanças climáticas, ao contrário do anterior. É patético.
As catástrofes naturais expõem a falta de governo — ou falta de Estado no que é preciso que haja Estado —, não apenas pelo que causam e mostram no presente, mas também pelo que revelam do passado.
Não importa a região do país, boa parte da população vive em casas precárias, em bairros inóspitos, de uma pobreza que não faz distinção entre o material e o existencial. As chuvas e inundações encharcam vidas secas que, há gerações, nunca foram real preocupação do governo, essa é a verdade.
Nem do alto da pirâmide social, à exceção dos abnegados que confirmam a maldade. No Brasil, os pobres são o espetáculo predileto dos ricos, para citar o poeta gaúcho Mário Quintana. E o show tem de continuar.